Saúde Plena

OTORRINOLARINGOLOGIA

Dor de garganta de repetição em crianças. Por que isso acontece?


As amígdalas ou tonsilas palatinas fazem parte do sistema imunológico e sua função é pouco conhecida. Mas que atuam na linha de frente ao combate aos micro-organismos que entram através do nariz e boca.


Apesar disso, as infecções das tonsilas ou amígdalas palatinas ocorrem de maneira frequente em crianças e a maioria delas tem origem bacteriana ou virótica. Muitas vezes a infecção não se limita às amígdalas e abrange a garganta como um todo, devendo então ser chamada de faringoamigdalite.
 
As faringoamigdalites se caracterizam por dor de garganta que progride gradativamente para dificuldade em comer, halitose, febre e prostração. Casos não tratados podem evoluir com desidratação, abcessos e mais raramente endocardite (inflamação de válvulas do coração) e glomerulonefrite (inflamação dos rins), que, por sua vez, podem trazer desfechos graves. A Febre Reumática, doença que acomete as articulações e coração, desencadeada por infecções da garganta, é muito menos comum que se imagina mas sempre que às dores de garganta se seguirem dores de grandes articulações, deve ser investigada.
 
Ao abrir a boca o que se vê geralmente são placas, vermelhidão e inchaço das amígdalas e aumento de gânglios no pescoço que duram em torno de uma semana, período no qual as crianças, em especial as mais jovens, devem ser bem hidratadas uma vez que em função da dificuldade de engolir podem rapidamente.


 
As infecções bacterianas devem ser tratadas com antibióticos  e analgésico e são causadas em sua maioria por uma bactéria muito comum na boca, o Streptococcus pyogenes (beta hemolítico do grupo A) e cuja detecção pode ser realizada através do “Teste rápido de Estreptococo”. Na maioria das vezes esse teste não se faz necessário ou, em virtude das condições ou situações, não é realizado.

Mas nem toda dor de garganta é provocada por bactérias e as virais se manifestam com sintomas muito parecidos, muitas vezes associadas a coriza, tosse e outros sintomas respiratórios e até dores abdominais.

Aproximadamente 75% das dores de garganta se devem a infecções por vírus, dentre eles Coronavírus (nos seus diversos subtipos), Rinovírus, Herpes, Adenovírus, os vírus da Influenza e, nas crianças maiores e adolescentes, o Vírus Epstein-Barr. O SARS-COV 2, vírus causador da COVID-19 muitas vezes também provoca sintomas na garganta mas normalmente os achados são pouco proeminentes e a febre e mal estar desproporcionais ao que visualizamos durante o exame.


Diferenciar se o problema é virótico ou bacteriano nem sempre é tarefa fácil e pode exigir a realização de exames de sangue.

Quando os episódios passam a ser recorrentes é necessário avaliar se a criança respira pela boca, se sofre de refluxo, se há anemia, diabetes e outras doenças que precisam ser tratadas. Na ocorrência de muitas infeções por mais de um ano consecutivo, a cirurgia pode ser indicada. 
 
Mas nem toda dor de garganta recorrente em crianças é infecciosa ou contagiosa!  

A Síndrome PFAPA, acrônimo em inglês, é uma afecção relativamente incomum que se apresenta por quatro manifestações clínicas: febre recorrente, estomatite (aftas), faringite e aumento de gânglios no pescoço(linfadenite). Só foi reconhecida como uma doença em 1987. De causa desconhecida possivelmente autoinflamatória, até onde se sabe não infecciosa, a PFAPA parece ter um caráter familiar e provoca dores de garganta recorrentes em crianças de 2 a 5 anos. É mais frequente em meninos. Atualmente admite-se a ocorrência de PFAPA em crianças maiores e adultos.

A febre alta de início súbito é o primeiro sintoma logo seguido de dor de garganta. É de difícil controle com os antitérmicos habituais e dura de 3 a 7 dias e geralmente se repete a intervalos em torno de 3 a 6 semanas.  Para o tratamento além de medicação para dor e febre são administrados corticoides e mais raramente indicada cirurgia das amígdalas.
 
A repetição de infecções de garganta pode gerar a aumento das amígdalas com aparecimento de roncos e apneia, bem como outras complicações e devem ser sempre tratadas por médico.
 
Meu nome é Alexandre Rattes, sou otorrinolaringologista, e se você tem alguma sugestão de matéria por favor envie para otorrino.lifecenter@gmail.com