Frequentes em homens na faixa dos 60, tumores de cabeça e pescoço têm cura quando diagnosticados cedo

Tumores se localizam especialmente na laringe e na boca

por Augusto Guimarães Pio 25/06/2019 07:00
Hospital Felício Rocho/Divulgação
O oncologista Ricardo Cambranelli afirma que boa alimentação e prática de atividades físicas reduzem bastante a chance de desenvolver um câncer (foto: Hospital Felício Rocho/Divulgação)
Considerado o mal do século, o câncer continua matando milhares de pessoas todos os anos em todo o mundo. De acordo com especialistas, de todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Assim, o surgimento da doença dependerá da intensidade e da duração da exposição das células aos agentes causadores. Por exemplo, o risco de uma pessoa desenvolver câncer de pulmão é diretamente proporcional ao número de cigarros fumados por dia e ao número de anos que ela vem fumando.

Para se ter uma ideia, o cigarro e a bebida alcoólica seguem sendo os principais fatores de risco para o desenvolvimento das neoplasias (conjunto de alterações celulares que causam proliferação e crescimento anormal de um grupo de células, formando um neoplasma) de cabeça e pescoço.

Porém, a infecção pelo vírus HPV - vírus do papiloma humano - também é um fator de grande relevância, de acordo com o oncologista do Hospital Felício Rocho Ricardo Cembranelli. Ele explica que câncer de cabeça e pescoço é o nome que se dá ao conjunto de tumores que se manifestam na faringe, boca e na laringe, entre outras localizações da região. Segundo dados, embora diferentes tipos de tumores possam se desenvolver nessa região, o carcinoma epidermoide (tumor maligno originado nas células epiteliais presentes na pele e na camada escamosa das mucosas – esôfago, laringe, boca, canal anal, pulmões e colo uterino) é o mais frequente.

De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em geral, os tumores de cabeça e pescoço são mais frequentes em homens na faixa dos 60 anos e representam o segundo tipo da doença com maior incidência na população masculina e o quinto mais comum entre as mulheres. Normalmente, o câncer de boca se apresenta como uma ferida que não cicatriza, podendo ser dolorosa ou não. Ela pode ocorrer nos lábios, no revestimento interno da boca (mucosa bucal), nas gengivas, na língua, na parte da boca que fica debaixo da língua (assoalho da boca), no céu da boca (palato duro) e na área atrás dos dentes do siso.

“O câncer orofaríngeo é o que se desenvolve na parte da garganta localizada atrás da boca (conhecida como orofaringe). Essa região inclui a base e a parte de trás da língua, o palato mole, as amígdalas, os pilares e as paredes laterais e posteriores da orofaringe. É importante ressaltar que o cigarro, além do aumento do risco, normalmente traz uma doença de pior prognóstico”, alerta Cembranelli. Ele garante que as doenças têm cura, mas alerta para o fato de que, quanto mais tarde o diagnóstico, menor a chance de cura.

RISCOS

“Existem maneiras de minimizar os riscos. Por exemplo, evitar o tabagismo e o abuso do álcool, além de se vacinar contra o HPV. Uma boa alimentação e a prática de atividades físicas são medidas que reduzem bastante a chance de desenvolver a doença. Os locais de maior incidência são a cavidade oral, sendo a laringe e o esôfago no caso dos homens. Já no caso das mulheres, o câncer de tireoide é o mais frequente. Essas doenças podem levar o paciente à morte, caso esteja num estágio mais avançado ou não sejam tratadas de maneira adequada”, alerta.

Cembranelli esclarece que os sintomas são diversos. Podem ser desde alterações locais, como dor, disfagia (dificuldade de deglutir), sangramento e rouquidão, até sintomas sistêmicos, como a perda ponderal significativa, que se traduz na perda de peso involuntária, que, geralmente, se desenvolve em poucas semanas ou meses. “O tratamento deve ser sempre individualizado e dependerá das condições físicas do paciente, local da lesão e do estágio da doença. Entretanto, esses sintomas também podem ser causados por outras condições clínicas.” Caso seja uma lesão de pequeno volume, a cirurgia é indicada na maioria dos casos. Porém, dependendo do local, pode ser substituída pela radioterapia. “Nos casos em que a doença já se encontra mais avançada, normalmente, o tratamento é realizado com quimioterapia e/ou radioterapia”, explica o médico.

Outros sintomas que podem indicar a presença de um tumor em distintas regiões da cabeça e pescoço são:

» Faringe: a pessoa pode ter dificuldades para falar ou respirar, dores no pescoço e garganta que não param e zumbido nos ouvidos. Além disso, também podem ser sinais de algum tipo de câncer os problemas de audição, dores de cabeça constantes e dor ao engolir.

» Laringe: dor ao engolir ou dor de ouvido

» Glândulas salivares: inchaço sob o queixo ou ao redor do osso maxilar, dormência ou paralisia dos músculos da face, além de dores na face, queixo ou pescoço que não melhoram.

» Cavidade oral:
mancha vermelha ou branca na gengiva, na língua ou no revestimento da boca, inchaço da mandíbula, hemorragia ou dor na boca.

» Seios paranasais e cavidade nasal:
sangramento pelo nariz, dores de cabeça frequentes, infecções crônicas que não respondem a tratamento com antibióticos, dores nos dentes superiores, inchaço nos olhos, seios paranasais obstruídos e problemas com as próteses dentárias.