Saúde Plena

Alerta além do peso

Prevalência e fatores associados à obesidade em mulheres podem acarretar doenças sérias


A obesidade é uma realidade para 18,9% dos brasileiros, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). As taxas de excesso de peso e obesidade estão em alta e representam grandes riscos à saúde, sendo principais causas para doenças cardiovasculares, diabetes, transtornos musculoesqueléticos e alguns tipos de câncer. De acordo com Letícia Rodrigues de Alencar, endocrinologista do corpo clínico do Biocor Instituto, a obesidade é considerada uma doença e acarreta piora da qualidade de vida, aumento do risco de outras doenças e aumento da mortalidade das pessoas acometidas. “Muitos fatores contribuem para a ocorrência da obesidade, mas os mais importantes são o estilo de vida e a alimentação”, explica.


O desequilíbrio entre a quantidade de calorias que se consome e a quantidade que se gasta é favorecido pelos hábitos de
vida sedentários, consumo de alimentos muito calóricos, bebidas adoçadas, entre outros fatores. “Fatores socioeconômicos e genéticos, além do uso de algumas medicações, podem contribuir para o excesso de peso. Algumas doenças, como hipotireoidismo, síndrome de Cushing e lesões hipotalâmicas, podem ser a causa da obesidade em uma pequena parcela das pessoas.”

Rodrigo Fabiano Guedes Leite, cirurgião do Hospital Madre Teresa e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, destaca que, infelizmente, há um gasto cada vez menor de energia nas atividades do dia a dia. “O hábito de fazer uma atividade física, por mais simples que seja, como uma caminhada, é colocado em segundo plano”, frisa. Nesse sentido, o sedentarismo ganha forma e compromete um estilo de vida mais saudável. “Fisicamente, o excesso de peso impõe uma sobrecarga ao sistema osteomuscular.”

TIPOS
A classificação da obesidade é importante para estimar a gravidade do quadro. “Entretanto, sabe-se que o acúmulo de gordura na região do abdome tem impacto mais nocivo à saúde do que a gordura que se deposita no tecido subcutâneo das pernas e braços, por exemplo”, explica Letícia Rodrigues. Para detectar a presença de obesidade abdominal utiliza-se a medida da circunferência abdominal.


Rodrigo Fabiano faz uma analogia às frutas para exemplificar como a gordura é depositada no corpo da mulher. “Considerando-se a forma corporal, a obesidade pode ser considerada em ‘pêra’, que é mais comum entre as mulheres, e o acúmulo de gordura se dá preferencialmente de forma periférica, no quadril e pernas”, explica. A obesidade em “maçã” apresenta maior acúmulo de gordura de forma central, dentro do abdome, com maior proporção de gordura visceral, sendo mais nociva.

Segundo ele, mulheres obesas podem ter redução de fertilidade. “Aquelas que conseguem engravidar apresentam maiores riscos de evoluir na gestação com alterações da pressão arterial, diabetes mellitus gestacional, prematuridade e alterações fetais”, comenta. Rodrigo Fabiano ressalta que, nas mulheres que engravidam obesas, o pré-natal deve ser rigoroso.”

Além disso, alguns tipos de tumores, como mama, endométrio e cólon, apresentam maior prevalência entre mulheres obesas quando comparadas com a população de mulheres magras. “A perda de peso reduz significativamente o risco oncológico”, pontua.



Cinco perguntas para...

Henrique Eloy - médico especialista em cirurgia e endoscopia bariátrica e gastroenterologia

1) Em que casos é realmente recomendada a cirurgia bariátrica?
As indicações de cirurgia bariátrica estão muito bem estabelecidas. Não é pelo peso em quilos de cada pessoa, e sim pelo seu índice de massa corporal, o IMC. O cálculo ocorre com a divisão do peso total pela altura em m2. No caso das mulheres, o procedimento é indicado para aquelas que estão com o IMC acima de 40 ou acima de 35 associado a doenças ocasionadas pela obesidade, como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia - aumento de colesterol e triglicérides que podem levar ao quadro de derrame -, as artroses, entre outras secundárias.

2) Como funciona uma cirurgia deste porte?
Basicamente, são duas técnicas. A primeira é a gastrectomia vertical, em que é retirado 80% do estômago da pessoa. Nesse caso, é uma operação restritiva porque ela restringe a capacidade volumétrica do estômago da pessoa. A segunda é mais antiga e também a principal, chamada by-pass gástrico. Nessa, além da redução do tamanho do estômago, faz-se um desvio intestinal para restringir a quantidade de comida que a pessoa ingere, e para diminuir a absorção dos alimentos ingeridos. Essa é uma cirurgia mista, restritiva e disabsortiva. Normalmente reservada para os casos mais graves de obesidade e que ainda se associa a doenças múltiplas relacionadas à obesidade.

3) Há cuidados específicos para a saúde de mulheres que desejam fazer a cirurgia?
Os cuidados são genéricos. Para o pré-operatório é necessária uma avaliação nutricional, psicológica, cardiológica, respiratória e até a endoscopia. Porém, no caso da mulher, é necessário levar em questão a reprodução. Isso porque não é recomendado que a mulher engravide logo após a bariátrica porque, principalmente no caso da cirurgia by-pass, pode ocorrer complicações na absorção do bebê. Além disso, mulheres que têm ciclo menstrual muito intenso podem desenvolver anemia. Portanto, é bom ter cautela.


4) Mulheres fazem mais cirurgias bariátricas que homens?
As mulheres fazem mais cirurgias bariátricas do que os homens. Eventualmente, a cada 4 pacientes, 3 são mulheres. Isso se deve ao fato de que a obesidade é mais comum nas mulheres e também porque culturalmente elas têm mais atenção com cuidados à saúde.

5) A mulher que passa por uma cirurgia de estômago pode engravidar? Ela deve ter algum cuidado especial neste período?
Logo em seguida não, mas após um tempo sim. O ideal é que as mulheres respeitem um prazo de até dois anos para programarem a gestação. Nesse período, o peso dela vai estabilizar e facilita o diagnóstico de possíveis deficiências antes do processo de gravidez. Os cuidados extras são principalmente nutricionais e emocionais. É preciso uma avaliação de possíveis deficiências proteicas, metabólicas e também avaliações emocionais. É preciso estar bem consigo mesmo para poder engravidar após a bariátrica.

* Estagiário sob a supervisão da editora Teresa Caram