De difícil diagnóstico, a endometriose deve ser tratada no início para evitar complicações

Março é o mês da conscientização da doença que afeta cerca de 7 milhões de mulheres no Brasil

por Bruna Curi* 13/03/2019 15:56
Globo/Divulgação
(foto: Globo/Divulgação)
A atriz e comediante Tatá Werneck está grávida de seu primeiro filho, fruto de seu relacionamento com o ator Rafael Vitti. No entanto, a atriz teve de ficar de repouso por conta da gestação de risco, em consequência da endometriose, doença que provoca fortes dores abdominais e que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta cerca de 7 milhões de brasileiras. E para alertar sobre a doença, março foi escolhido o mês da conscientização da endometriose.
 
Segundo Eduardo Schor, professor e coordenador do departamento de ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a doença se caracteriza quando o endométrio, espécie de película que reveste o útero, fica fora da parte interna do órgão. Ou seja, o endométrio acaba revestindo outros órgãos, como as trompas de falópio, ovário, bexiga e intestino. 
 
O especialista explica que não há indícios da causa da doença, mas um dos fatores que influenciam na endometriose é a menstruação retrógrada. Isso ocorre quando o sangue menstrual, em vez de sair do útero em direção à vagina, segue na direção das trompas de falópio e da cavidade pélvica. O tratamento varia segundo o grau da doença, podendo ser com medicamentos ou cirurgia. “Quando a doença é identificada em sua fase inicial, é mais fácil tratar usando apenas medicamentos. Nos casos mais graves, costuma-se a fazer cirurgia”, explica.
 
Como não se sabe a causa exata da doença, Schor conta que não é possível preveni-la. “O que é feito é uma prevenção secundária, que se trata de identificar a doença em sua fase inicial.” O problema dessa identificação é o pouco valor dado à cólica menstrual, que pode ser um sinal da endometriose. “Nem sempre os médicos dão valor para essa informação e nem sempre as mulheres falam sobre esse problema durante a consulta”, reforça Schor, a respeito da conscientização da cólica menstrual.
 
Inclusive, o especialista chama a atenção que a cólica menstrual no caso de endometriose costuma ser muito mais forte, podendo “prejudicar a vida da mulher”. “Nesse tipo de cólica, a mulher costuma tomar remédio e a dor não passar. A mulher falta à escola, ao trabalho, ou, quando vai, não consegue trabalhar direito.” 

CONSCIENTIZAÇÃO A terapeuta ocupacional Marília Gabriela Rodrigues Marques, de 35 anos, é uma das várias brasileiras que já sofreram com a doença. O diagnóstico dela, como da maioria das portadoras da endometriose, foi bem demorado. “Desde a adolescência, sempre tive cólicas fortes e sempre ouvia falar que eram normais. Na fase adulta, essas cólicas pioraram muito, a ponto de atrapalhar minhas atividades no trabalho e também no dia a dia”, relata. Apesar de sempre ter ido ao ginecologista, nenhum chegou a considerar que as cólicas fortes tivessem alguma relação com a doença. Somente quando os sintomas pioraram, Marília descobriu que tinha endometriose, ao se consultar com outros médicos. “Como os exames de ultrassonografia tiveram resultados normais, pensaram que eram gases e depois falaram que era infecção urinária. Mas, na realidade, era endometriose.”
 
Da mesma forma que a descoberta da doença foi demorada, o seu tratamento foi longo e cheio de complicações. A terapeuta precisou sair de sua cidade natal, Salvador, para fazer o tratamento. Além disso, ela passou por cinco cirurgias, a primeira delas em Salvador, que não obteve sucesso por não ter sido realizada por especialista. “Fiquei afastada do trabalho por quase cinco anos pelo INSS, o que é muito difícil para uma portadora, pois a endometriose não entra no roll das doenças incapacitantes. De seis em seis meses, praticamente, passava por intervenção cirúrgica, por conta das dores e pelos focos da doença. Não conseguia fazer minhas atividades simples do dia a dia; ficar em pé era muito difícil; sentada por um período grande também. Ficava quase o tempo todo deitada.”
 
Além de todos esses problemas, Marília sofreu muito no aspecto emocional. As pessoas não compreendiam seu problema, não acreditavam que era possível que ela sentisse tanta dor, a ponto de não conseguir trabalhar e de tomar morfina. As pessoas achavam que era frescura de Marília. “Costumo falar que a endometriose mexe muito na parte física, emocional e também financeira.” 
 
Atualmente, Marília Gabriela está com a doença controlada e conseguiu voltar para seus afazeres, mas o medo é um amigo constante. A terapeuta teme retornar ao estado em que se encontrava. E por conta de todos os problemas que precisou enfrentar, ela considera que é de extrema importância conscientizar a população sobre a endometriose. “Precisamos do apoio das pessoas. A incompreensão dói muito. Além disso, muitas mulheres estão sofrendo com cólicas fortes e incapacitantes sem saber o motivo. Precisamos falar mais sobre o que é a endometriose, o que ela causa. Precisamos levar informações corretas acerca dos sintomas e do tratamento”, conclui.
 
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares