Resgate da cumplicidade: a confiança e o vínculo que nascem da relação médico-paciente

Elo gera tranquilidade para o paciente e maior precisão nos diagnósticos

Reprodução/Internet/elam-edu
(foto: Reprodução/Internet/elam-edu)

A figura do médico que acompanhava pessoas de uma mesma família ao longo da vida tinha perdido espaço dentro dos lares e dos próprios hospitais, mas está sendo resgatada e, mais, com laços fortalecidos de confiança e entrega. A relação médico-paciente vai além do encontro ocasional entre esses indivíduos, há algo maior do que a anamnese, exames físicos, receitar medicamentos e prescrever tratamentos. A principal fonte para o diagnóstico não se encontra em exames laboratoriais ou de imagem, mas nos detalhes da história contada pelo próprio paciente.

Foi por meio da indicação de um familiar que a professora de inglês Maria Elisa Caetano Carvalho, de 66 anos, e o marido, o fazendeiro Ulisses Caetano Carvalho, de 60, conheceram o médico Maurício Zanon há cerca de quatro anos. Tudo começou quando Ulisses foi ao clínico geral e os exames deram um resultado alterado, cujo prognóstico não era dos melhores.

Com o resultado em mãos, Maria Elisa e o marido começaram a procurar um especialista. Com o primeiro profissional escolhido eles não se sentiram muito confortáveis com a postura que ele apresentava, pois era “extremamente negativo”, de acordo com Maria Elisa. Após esse episódio, o casal recebeu a indicação, por meio de um familiar, sobre o cardiologista Maurício Zanon.

Apesar da falta de disponibilidade de horários, o médico abriu um espaço na agenda para receber o casal. Logo no primeiro atendimento, Maria Elisa notou uma diferença no tratamento indicado por Maurício em comparação ao outro médico em que tinham ido anteriormente. “O doutor Maurício não é uma pessoa negativa. Ele é aquele médico que dá esperança ao paciente, independentemente da gravidade da doença. Além disso, ele passa uma calma e uma tranquilidade muito grandes, não atende correndo”, afirma Maria Elisa.

Desde então, ela e o marido vão ao cardiologista e clínico geral aproximadamente quatro vezes ao ano. Algo que chama a atenção de Maria Elisa é a forma do atendimento, uma vez que o médico não se preocupa somente com o problema cardíaco de seu marido, e sempre exige exames de sangue e de colesterol como forma de prevenção.

PRIMEIRA CONSULTA

Cristina Horta/EM/D.A Press - 22/9/15
"O que todo médico deveria fazer é dar ao paciente o tratamento que ele gostaria de receber" - Maurício Zanon, cardiologista (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press - 22/9/15)
De acordo com o cardiologista Maurício Gonçalves Zanon, a confiança estabelecida entre o médico e o paciente começa já na primeira consulta, e para ele o atendimento é um dos fatores mais importantes. “É importante sempre buscar fazer o melhor para o paciente”, afirma o profissional. O cardiologista defende a máxima “faça ao outro o que gostaria que fizesse com você”, e isso o estimula a fazer sempre o melhor. “O que todo médico deveria fazer é dar ao paciente o tratamento que ele gostaria de receber.”

Outros fatores importantes, que contribuem para a construção dessa relação de confiança entre médico e paciente são questões fundamentais como profissionalismo, conhecimento e o retorno médico (no caso do profissional sempre estar em contato com o paciente, tirando as dúvidas dele). De acordo com Maurício, o reflexo dessa confiança pode ser percebido quando ocorrem indicações. “Se tem indicação, é sinal de que o paciente gostou do tratamento”, sinaliza o cardiologista.

Essa relação de afeto protagonizada por pacientes e seus familiares estruturam um diagnóstico mais amplo e que englobe todo o quadro clínico, melhorando o acompanhamento e um diagnóstico mais preciso. Em homenagem ao Dia do Médico, comemorado no dia 18, contamos histórias de relações afetuosas entre médicos e pacientes.

Vínculo necessário
Sensação de acolhimento estreita relações entre médicos e pacientes para toda a vida, além de contribuir para um diagnóstico mais assertivo e a escolha do melhor tratamento

Pequenos detalhes, como atendimento atencioso, tranquilidade e calma que o médico passa ou a forma de tratar o paciente, são fundamentais no momento de se estabelecer um vínculo entre médico e paciente. Essa confiança, que começa ainda no atendimento inicial, é o primeiro passo para criar um vínculo entre as partes e, com isso, pessoas da mesma família passarem a frequentar o mesmo profissional e até mesmo indicá-lo para conhecidos. Mesmo com o imediatismo e o avanço tecnológico dentro da medicina, nada substitui a empatia e o histórico da relação médico-paciente.

Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
O cardiologista e clínico geral Lourenço César Menezes Santos explica que o fato de o médico ter a confiança da família faz com que o paciente se exponha e fale de suas inquietações (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

A dona de casa Maria da Salete Amaral Rocha, de 72 anos, encontrou no cardiologista e clínico geral Lourenço César Menezes Santos um apoio emocional e informacional muito importante, em 2002, quando teve um sério problema de alergia, no qual mal conseguia dormir à noite. “Fui ao pronto-socorro e ele estava lá de plantão. Quando fui atendida, ele olhou nos meus olhos e falou: ‘Vou cuidar da senhora’, e me tratou tão bem e com tanto carinho, e olha que ele é cardiologista. E passou a cuidar de mim, como havia prometido”, relembra.

A experiência positiva foi tamanha que a dona de casa levou toda a família para se consultar com o médico. “Ele cuidou da minha mãe, até o último dia dos seus 103 anos. Além dela, todos os meus nove irmãos já se consultaram com ele, além dos meus amigos. Quando alguém fala que está com algum problema, já passo o telefone dele e falo que pode ir que é certeza de um bom atendimento”, conta.

Maria da Salete conta que o médico deve ter essa qualidade de ser carinhoso, educado e de passar segurança e que é capaz. Ela diz que a primeira coisa que busca em um médico é a qualidade do atendimento e que haja uma boa relação em que se possa confiar. “Hoje, escolho o meu médico, quando se tem essa relação de afeto há um tratamento diferenciado. Tem médicos que nem olham na nossa cara quando estamos fazendo uma consulta”, destaca a dona de casa.

ACOMPANHAMENTO

O médico que acompanha um paciente por muito tempo tem a oportunidade de conhecer todos o detalhes da história familiar para estabelecer um diagnóstico correto e, consequentemente, oferecer um tratamento eficaz. Conhecer o histórico completo de uma pessoa é fundamental para se compreender a dinâmica de saúde e de possíveis doenças que ela possa apresentar ao longo da vida. Não somente devido a questões hereditárias, mas também hábitos, cultura, condição socioeconômica, situação psicológica e relações sociais da pessoa. Conhecer o contexto do paciente de forma mais ampla, entendendo a pessoa como um todo, é essencial para um cuidado mais individualizado, completo e eficaz.

É o caso do cardiologista Maurício Zanon. Há cerca de quatro anos, ele se dedica ao atendimento do casal Maria Elisa Caetano Carvalho, de 66 anos, e Ulisses Caetano Carvalho, de 60. Os dois estavam com problemas de saúde e consideravam o atendimento do antigo médico muito “frio”. E se encantaram com o cardiologista, que, até hoje, faz o acompanhamento necessário. “É importante sempre buscar fazer o melhor para o paciente”, afirma o profissional.

O médico se torna uma referência da família. Um tratamento médico só será benfeito quando o paciente acreditar e confiar naquele especialista e quando o profissional tiver um carinho e zelo para com seu paciente. Lourenço César sempre fica agradecido quando essas histórias de carinho e afeto por uma família ocorrem e conta que para um atendimento cada vez mais humano é preciso conhecer o paciente, descobrir as dores que o acometem, averiguar o passado dele, anseios e angústias, e fazer com que ela saia bem do consultório. “Essa relação permite que o profissional conheça a família e, consequentemente, os problemas de ordem social e pessoal do paciente, já que muitos fatores externos interferem nos sintomas”, ressalta.

O elo entre médico e paciente com doses de empatia, cumplicidade e respeito ajuda no desenvolvimento e atendimento. Cuidando de cada pessoa e de sua família, dentro do seu contexto e das suas complexidades. “O fato de você ter a confiança da família faz com que o paciente exponha problemas de forma mais realista e fale de suas inquietações e manifestações físicas. Há uma liberdade e confiança para se abrir nas questões que o afligem. O médico tem que ter uma visão global e mais holística, o que contribui para um diagnóstico rápido e com as melhores estratégias de prevenção e tratamento.”

Personagem da notícia - Patrícia Penido, médica especializada em medicina de família

"Trabalho há, aproximadamente, 15 anos no mesmo centro de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Por mais que exista uma rotatividade muito grande, como estou há muito tempo na mesma região conheço algumas pessoas e os hábitos socioculturais. Para mim, é importante que o médico esteja na profissão por amor e comprometimento. Além disso, é essencial escutar o que o paciente tem a dizer. Não basta apenas passar a medicação, é preciso saber ouvi-lo e tentar ajudá-lo a partir disso."

DIA DO MÉDICO AO REDOR DO MUNDO

Em países como Itália, Portugal, França, Espanha, Bélgica e Polônia, além do próprio Brasil, o dia do Médico é celebrado nesta quinta feira (18) em homenagem a São Lucas, o santo padroeiro da medicina. O santo foi um dos quatro evangelistas do Novo Testamento, e seu evangelho é o terceiro em ordem cronológica. Lucas era médico, razão pela qual se decidiu homenagear os profissionais com o mesmo dia da festa desse santo.

» Estados Unidos: A data é celebrada em 30 de março, dia em que a anestesia foi administrada pela primeira vez por Crawford W. Long em um paciente em 1842, no estado da Georgia. Há registros de que os americanos comemoram essa data desde 1930, quando foi criada pela esposa de um médico na Georgia, Eudora Brown Almond. Entretanto, o dia só foi oficializado em 1990, pelo então presidente George W. Bush, por meio de lei.

» Canadá: A celebração é em 1º de março, data que marca o nascimento de Emily Stowe, primeira mulher a ser médica no país. A data é oficial desde 2011.

» Índia: 1º de julho foi escolhido para a comemoração em homenagem a Bidhan Chandra Roy, um grande médico indiano.

» Irã: O Dia do Médico Nacional é comemorado no aniversário de Avicena. Esse país usa um calendário diferente, sendo que o dia Shahrivar iraniano corresponde ao nosso 23 de agosto. Avicena escreveu aproximadamente 450 tratados sobre variados assuntos. Apenas 240 deles sobreviveram, sendo 150 sobre filosofia e 40 sobre medicina.

» América Latina: Diversos países, como Argentina, Uruguai, Cuba e Paraguai, celebram a data em 3 de dezembro. Homenagem ao médico de origem cubana Carlos Finlay, responsável por comprovar a teoria de que a febre amarela se propaga por meio do mosquito Aedes aegypti, salvando milhares de vidas no continente e impulsionando as pesquisas médicas na América tropical.

» Venezuela: É celebrado em 10 de março, data de nascimento de José María Vargas, que, além de médico, foi presidente da país e o primeiro reitor da Universidade Central da Venezuela.

» México: Comemora em 23 de outubro como forma de celebrar a inauguração do Estabelecimento de Ciências Médicas, em 1833, uma instituição de ensino superior responsável por desenvolver a medicina nacional.

*Estagiários sob a supervisão da editora Teresa Caram