Ouvir músicas de ioga antes de dormir pode evitar complicações cardíacas

Fato foi observado em estudo indiano com 149 voluntários

14/09/2018 14:28
Valdo Virgo/CB/D.A Press
(foto: Valdo Virgo/CB/D.A Press)

Relaxamento, estimulação da memória, alívio de dores, melhora do humor. Os efeitos da música sobre o corpo humano são alvo de investigações científicas há muito tempo. Pesquisadores indianos podem aumentar a lista de indicações. Em experimento com mais de 100 pessoas, eles identificaram que, ouvidas antes de dormir, músicas usadas na ioga podem ajudar a saúde cardíaca. Os detalhes do trabalho foram apresentados no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Monique, na Alemanha.

Em pesquisas anteriores, os investigadores haviam notado que a música reduz a ansiedade em pacientes com problemas cardíacos. A equipe decidiu, então, analisar voluntários sem as complicações e ver se as canções geravam efeitos semelhantes. O estudo contou com 149 pessoas com idade média de 26 anos. Elas participaram de três sessões, em noites separadas, antes de dormir: com música de ioga, com música pop e sem música. Em cada sessão, a variabilidade da frequência cardíaca foi mensurada cinco minutos antes da música ou do silêncio, por 10 minutos durante a música/silêncio e cinco minutos depois. Os voluntários também tiveram os níveis de ansiedade avaliados antes e depois de cada sessão.

Os pesquisadores descobriram que a variabilidade da frequência cardíaca dos participantes aumentou durante a música de ioga, diminuiu nas canções pop e não mudou significativamente no silêncio. “Já usamos a música como terapia em nosso hospital e, nesse estudo, mostramos que a música de ioga tem impacto benéfico na variabilidade da frequência cardíaca antes de dormir”, ressalta, em comunicado, Naresh Sen, autor do estudo e cardiologista do Hospital Hridaya Ganesha, em Jaipur, na Índia.

O cientista explica que a frequência cardíaca alta é extremamente positiva porque, quando baixa, está associada a um risco de 32% a 45% maior de ocorrência de um primeiro evento cardiovascular. Para quem já teve complicação, a baixa variabilidade da frequência cardíaca aumenta o risco de eventos subsequentes e morte. Já a queda está ligada a inflamações, causadas por falha do sistema nervoso.

“O ritmo cardíaco do corpo muda como resposta normal aos modos de lutar ou fugir ou de descansar ou digerir. Esses estados são regulados pelos sistemas nervoso simpático e parassimpático, respectivamente, que, juntos, compreendem o sistema nervoso autônomo. A alta variabilidade da frequência cardíaca mostra que o coração é capaz de se adaptar a essas mudanças. Por outro lado, a baixa variabilidade indica um sistema nervoso autônomo menos adaptativo”, complementa Sen.

Complemento

Os investigadores também detectaram que os níveis de ansiedade caíram significativamente após o uso de músicas de ioga, aumentaram significativamente após a música pop e aumentaram após a sessão sem música. Além disso, os participantes sentiram-se significativamente mais positivos depois da música de ioga. “Ouvir melodias suaves antes de dormir é uma terapia barata e fácil de implementar que não pode causar danos”, reforça Sen.

O cientista ressalta que, apesar de os resultados terem sido extremamente positivos, terapias holísticas, como o uso de músicas relaxantes, não podem substituir outras intervenções baseadas em evidências e devem ser usadas como complemento. “A ciência pode nem sempre ter concordado, mas os indianos, há muito, acreditam no poder de várias terapias além dos medicamentos como modo de tratamento de doenças. Esse é um pequeno estudo, e mais pesquisas são necessárias sobre os efeitos cardiovasculares da música”, frisa.

Fausto Stauffer, coordenador de Cardiologia do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, e diretor científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia do DF, destaca que o estudo precisa de uma análise mais aprofundada. “Pode ser considerada uma pesquisa pequena, pois analisou apenas 149 pacientes que tinham idade mais baixa e não eram tão propensos a ter problemas cardíacos. Seria importante analisar pessoas com maior risco dessas complicações relacionadas ao coração”, sugere. “Mas são novos dados interessantes, que complementam descobertas que mostraram redução de ansiedade em pacientes com problemas cardíacos.”

Stauffer acredita que a pesquisa siga uma linha extremamente importante na área terapêutica. “É interessante lembrar que, hoje em dia, temos dado foco a novas terapias não farmacológicas, queremos que o paciente mude o estilo de vida, faça mais exercícios, se alimente de forma adequada. E inserir uma música relaxante antes de dormir, que parece ter benefícios como vistos nesse estudo, é algo que pode ser usado, que se encaixa nesse conjunto de medidas”, frisa.