Milhares de crianças em todo o mundo nascem com problemas de fissuras labiopalatais e deformidades craniofaciais. Esses problemas acabam afetando os aspectos estético, funcional e emocional dos indivíduos, deformando o semblante deles. Quanto ao aspecto funcional, as fissuras acarretam dificuldades para sucção, deglutição, mastigação, respiração, fonação e audição, fazendo com que a criança se torne emocionalmente comprometida. De acordo com a ONG internacional Smile Train, nascem anualmente mais de 200 mil bebês com fissuras em todo o mundo.
Dados da organização mostram que milhões de crianças sofrem com as fendas não tratadas, pois a maioria não pode comer ou falar corretamente e não consegue frequentar a escola. As fissuras labiopalatais são os defeitos congênitos mais comuns entre as malformações que afetam a face do ser humano. Em BH, o Hospital da Baleia é referência no tratamento dessas anormalidades, oferecendo diversas especialidades e serviços para pacientes com essa deformidade.
“O atendimento é pelo SUS e o acompanhamento pode ser feito desde a gestação da criança até a vida adulta. Além das questões funcionais e estéticas, são tratados aspectos psicológicos, como a autoestima, e exercícios para a melhora da respiração e dicção do paciente. Muitos começam o tratamento quando ainda bebês e só terminam após os 18 anos”, conta Thais Guimarães, coordenadora do Centro de Tratamento e Reabilitação de Fissuras Labiopalatais e Deformidades Craniofaciais (Centrare) do Hospital da Baleia.
Luís Cláudio Melo de Paiva Júnior, de 10 anos, nasceu com fissura palatal pós-forame incompleta. Ele começou o tratamento no Hospital da Baleia ainda bebê e passou por três cirurgias plásticas (2009, 2010 e 2013). Em 2016, teve alta do tratamento multidisciplinar, fundamental para que desenvolvesse a fala. Hoje, diverte-se gravando vídeos em que mostra sua desenvoltura para falar, cantar e imitando ser um youtuber.
Já Ana Clara Palhares, de 3, nasceu com fissura trans forame unilateral esquerda. Também em tratamento no Hospital da Baleia, realizou procedimentos cirúrgicos em 2014 e 2016 e teve acompanhamento da psicologia, fonoaudiologia e nutrição. Hoje, recebe atendimentos somente de fonoaudiologia e caminha para a alta do tratamento. A mãe, Nazaré Patrícia Palhares, é psicóloga e por sua vivência e desafios nos cuidados da filha, dedica-se atualmente a auxiliar outras famílias com problemas similares.
As duas crianças são pacientes da clínica por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Inaugurado em 2004, o Centrare realiza atendimentos para pacientes de todo o estado e mostra números interessantes. A clínica foi reconhecida pelo Ministério da Saúde, em 2006, como centro de referência de alta complexidade no tratamento de pacientes com fissuras labiopalatais.
RESULTADOS EFICIENTES
De acordo com o coordenador de cirurgia plástica e médico responsável pelo Centrare, Hugo Rodrigues, a importância dos atendimentos prestados está diretamente ligada à melhoria da qualidade de vida dos pacientes. “O tratamento multidisciplinar, com as várias especialidades envolvidas, é bem articulado, para garantir resultados eficientes. A adesão adequada à cronologia do tratamento também é fundamental”, ressalta o especialista.
Ele explica que, além da melhora na saúde, o tratamento contribui para a reinserção dos indivíduos na sociedade e que os pacientes com malformações craniofaciais apresentam problemas na deglutição, fala e sociabilização e, com os cuidados necessários, tornam-se habilitados para uma ressocialização e inserção social. Todos os serviços são pautados pelo atendimento humanizado e pela excelência. “É isso que oferecemos aos pacientes com malformações cranianas. Algumas doenças podem ser descobertas no pré-natal. E antes de iniciarmos os tratamentos, as famílias são envolvidas e participam dos atendimentos multidisciplinares que tratam os pacientes em sua totalidade”, explica Thais.
Ela ressalta que os tratamentos realizados no Centrare são as deformidades dentofaciais, sequelas da face, tumores benignos da face e disfunções articulares. No ano passado, o Centrare fez 1,9 mil atendimentos para cirurgia plástica, 1.350 para fonoaudiologia, 1,3 mil para psicologia, 660 para nutrição e 650 para serviço social. “Também conhecida como fenda labiopalatal, é uma abertura que pode ocorrer no lábio, no céu da boca (chamado palato) ou nos dois locais. Estima-se que, em todo o mundo, uma criança nasce a cada três minutos com uma fissura – cerca de uma em 500-750 nascimentos”, explica Hugo.
“Existem muitos fatores de risco que podem aumentar a probabilidade de defeitos congênitos. Embora algumas causas ainda sejam desconhecidas, a genética e a história familiar, condições médicas preexistentes, má nutrição e exposição a substâncias nocivas ao meio ambiente podem afetar o desenvolvimento saudável de um bebê. Os bebês podem ter dificuldades com a alimentação, audição, fala e desenvolvimento dentário. As crianças também podem sofrer de bullying e isolamento social”, ressalta o médico.
Centro de referência:
350 cirurgias, em média, são realizadas no Centrare anualmente
6,8 mil atendimentos são feitos por ano
5 mil pacientes estão cadastrados na clínica