A vida, às vezes, prega uma peça em todos quando se trata de amor. Em alguns casos, os encontros mais inesperados acabam criando um elo tão forte que simplesmente você não consegue mais desgrudar daquela pessoa. E ficamos mordidos com aqueles amores que chegam quando a gente menos espera; aquele que não procuramos, e é ele que nos encontra. É aquele velho clichê, o amor não escolhe hora, nem local para aparecer, ele simplesmente acontece. E não há como fugir, você pode estar em um supermercado, num ponto de ônibus, num aplicativo ou num bloco de carnaval, quando aquela faísca surge, já era. Conversa vai, a amizade vem, o tempo passa e o sentimento acaba florescendo.
Alguns enredos chegam a ser tão surpreendentes, e inesperados, que, frequentemente, não acreditamos. Contrariando as probabilidades, do reencontro ao incerto, casais mostram que é preciso apenas um ‘oi’ ou uma trombada dentro de um supermercado para mudar completamente suas vidas.
Adriele Sousa sabe o que é se aventurar em algo surpreendente. A assistente administrativo viu sua vida mudar ao passar por um ponto de ônibus, na Avenida Tropical, em Contagem. Um rapaz, que estava esperando o coletivo, tentou falar com a moça, que estava indo em direção à igreja. “Na hora, fiquei confusa e passei direto. Mas, depois de uns passos, parei e resolvi voltar, com medo.
Desde esse momento, os laços só se fortaleceram. O caso com Lucas Sousa já soma sete anos e desse amor nasceu o filho do casal, de 1 ano. “Todo mundo fica surpreso quando conto nossa história. Até eu achava que não ia dar em nada. E olha só, estamos juntos e felizes”, diz Adriele.
A internet também reconfigurou a forma com que as pessoas buscam por uma relação. Antes, as pessoas recorriam aos programas de rádio, com as vozes imponentes dos locutores, descrições contundentes e um apelo imaginativo.
Será só coincidência?
Obra do acaso ou daqueles encontros inusitados que marcam a nossa vida e nos levam a trilhar um novo caminho. Conheça relacionamentos que começaram de forma despretensiosa e amadureceram
É como aqueles velhos filmes de comédias românticas em que há uma série de histórias de casais passando por poucas e boas no Dia dos Namorados: o nervosismo de um primeiro encontro em um local incomum, paqueras adolescentes, amores antigos ou aquela velha cena clichê em que alguém está apressado e, sem olhar por onde anda, esbarra com um desconhecido. Os objetos caem, os dois se olham, aquela pausa dramática que parece não ter fim, se levantam, pedem desculpa e se despedem. Porém, aquela sensação que não conseguimos explicar fica e causa uma angústia. Essas histórias permanecem no imaginário coletivo e por mais inacreditáveis que possam parecer, elas acontecem.
Idas e vindas
Poderia ser apenas uma paixão juvenil, mas o destino trilhou um caminho de idas e vindas para a assistente administrativo Camila Librelon e seu noivo, Lenieverthon Melo. “Éramos da mesma sala, mas logo mudei de escola e nunca mais o vi, seguimos nossas vidas.” Mal sabiam eles que a história não acabaria ali.
O bombeiro civil chegou a se casar, mas logo se separou.
A assistente administrativo conta que, num sábado à noite, ela e alguns familiares decidiram fazer um jantar e foram até o supermercado. Já estavam no caixa quando ela se lembrou de pegar algum item e saiu em disparada pelos corredores, até que, literalmente, bateu de frente com o futuro noivo. “A gente se olhou meio assustado, eu pensei ‘será que é ele mesmo?’, mas na correria de chegar logo ao caixa nem chegamos a nos cumprimentar direito, apenas aquele olhar de questionamento ‘oi, é você?!’. Saí com a minha família do supermercado com uma pulga atrás da orelha, ‘será que é ele mesmo?’”, relembra.
Ao chegar em casa, eufórica com a situação, a estudante de direito conta: “Sem pensar duas vezes mandei um ‘acho que te vi!’ pelo Facebook e na mesma hora ele respondeu ‘acho que também’ e riu. Depois desse surpreendente reencontro, os dois voltaram a se falar todos os dias. A amizade cresceu cada vez mais, passaram a compartilhar segredos, sonhos e rotinas, mas algo além de amizade tomava conta de Camila, que reprimia esse sentimento e se negava a deixar transparecer.
Via WhatsApp
A assistente contábil Natália Vieira nunca sonhou em ter um primeiro encontro dentro de um hospital, mas o momento em que conheceu o seu futuro marido foi justamente assim. “Um amigo tinha nos apresentado pelo WhatsApp, mas ainda não tínhamos nos encontrado pessoalmente, até que ele quebrou a perna no trabalho e fui fazer companhia no hospital, já que a família dele era todo do interior. Foi um primeiro encontro bem sem graça, mas foi assim que vi meu futuro marido pela primeira vez”, recorda.
Natália Vieira ressalta que nunca imaginou que naquele momento havia encontrado o homem com quem irá se casar em outubro do ano que vem. “Todos ficam bobos quando conto a história do nosso primeiro encontro, ele com a perna toda engessada na cama de um hospital. Fiquei com ele por dois dias diretos e eu nunca o tinha visto. Depois que recebeu alta, ele voltou pro interior, onde permaneceu por dois meses. Quando voltou, começamos a namorar e, em breve, vamos nos casar”, conta.
Distância virtual
Mesmo com o limite de 140 caracteres por postagem, o Twitter foi o palco de encontros que duram até hoje, como no caso da estudante de jornalismo Gabrielly Coelho que ,além de um namorado, encontrou um grande colega de trabalho para a sua vida. “A minha paixão pelo jornalismo me fez conhecer Renato, que é repórter fotográfico e, além de se tornar o meu namorado, é um grande parceiro de trabalho”, recorda a estudante.
A distância de mais de 400 quilômetros, entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro, e a forma como se conheceram, também não foram empecilhos para os quase três anos de relacionamento. “A gente sempre brinca que nunca imaginamos que o Twitter fosse unir pessoas de cidades diferentes e que duraria tanto tempo. No próximo dia 15, vamos completar três anos de namoro. E seguimos nos amando, respeitando, cuidando e torcendo um pelo outro. Nos acostumamos a viver nessa conexão RJ-BH e lidamos muito bem com o relacionamento à distância”, conta.
“No início, não queria aceitar me apaixonar por alguém, mas Renato foi se fazendo presente, mostrando que realmente queria algo sério comigo e que estava completamente apaixonado. Não resisti ao menino do Rio. E não me arrependo, sei que fiz uma boa escolha pois ele é um ótimo companheiro”, declara-se.
Da era do rádio à era dos aplicativos
Antigos modelos de relacionamento e redes sociais atendem a um mesmo objetivo de várias pessoas: encontrar parceiros para um rolé divertido ou uma relação duradoura
O advento da internet reconfigurou as formas em que as pessoas se relacionam entre si e com os outros. As plataformas digitais e analógicas modificaram a tradição e os velhos costumes instaurados na sociedade e causou uma ruptura nos moldes pré-estabelecidos. “Até meados do século 20, as relações afetivas eram arbitrárias e tradicionais, os casais eram escolhidos pelos pais para namorar e casar, de forma bastante impositiva. Com a vinda da modernidade e a uma população mais urbana, passa-se a encontrar os futuros pretendentes em lugares tradicionais como a igreja, o trabalho, em apresentações familiares, mas, ainda assim, a moral e as referências contavam muito”, explica o psicólogo e sexólogo Édson Lago.
Os antigos modelos de relacionamentos deram espaço a algo mais labiríntico e, ao mesmo tempo, prático e intenso com a ajuda dos meios de comunicação. “Agora, no mundo mais conectado, analógica ou digitalmente, os encontros são marcados com mais facilidade com ajuda dos meios de comunicação e redes sociais. Você se baseia em fatores virtuais, e muitas vezes em situações muito fugazes e rápidas. Você conhece uma pessoa e ao mesmo tempo você mal a conhece.”
O psicólogo ressalta que nem todos que integram essas plataformas buscam relacionamentos sérios ou conseguem encontrar um parceiro ideal, mas são inúmeros os casos de pessoas que, após um “match” nos aplicativos, engatam um romance. “Em uma sociedade cada vez mais desconfiada de tudo e de todos, essa possibilidade de um namorado se faz presente. Há uma chance de se encontrar alguém especial, mesmo que, às vezes, de forma efêmera e trivial. As pessoas se entregam e vão em busca de alguém que compartilhe o seu jeito”, comenta Édson Lago.
Não é novidade também que a tecnologia possibilitou que pessoas de diversos lugares do mundo se relacionem. A conversa e os sentimentos fluíram tão bem que Kathleen saiu de Contagem para encontrar Mateus em Ouro Preto. “Naquele momento, eu já estava completamente apaixonado por esses dois meses de conversa, não era algo apenas físico, era um sentimento real. Quando ela me abraçou, parecia que meu coração ia sair pela boca”, relembra o estudante.
REDES SOCIAIS
Os relacionamentos a distância têm uma dinâmica diferente, o que pode assustar alguns. Mas essa barreira não foi capaz de separar a empresária Daniela Moura e o músico Lucas Costa. O casal se conheceu no Facebook, por meio de uma brincadeira em um grupo na rede social. Ela no Pará e ele em Minas. “Nunca imaginei que encontraria alguém assim. Sempre ouvimos o perigo de se conhecer pessoas pela internet. Mas depois de trocarmos os números, pesquisei muito sobre ele e vi que era uma pessoa real”, conta Daniela.
A história de amor virou música sob o olhar do amado. “Então, deixa eu te fazer feliz, como eu sonhei, como você sempre quis. Nosso amor e sobrenatural, é fora do comum, é fora do normal”, canta Lucas em seus shows.
CLÁSSICO
Mesmo com os vários recursos disponíveis atualmente, existem ainda aqueles que recorrem a um antigo veículo de comunicação que até hoje é capaz de unir muita gente. O rádio, com seus programas idealizados especialmente para que os corações apaixonados encontrem a sua cara metade, abriu as portas para facilitar esse encontro. Mizael Avelino, um dos fundadores da Rádio Favela, radialista e apresentador dos programas Super Popular e Robertão e os problemas de cada um, conta que esse estilo ainda atrai muita gente. “Mesmo com as redes sociais, a audiência que liga à procura de um amor é muito grande. A rádio chega onde a tecnologia não chega, e isso se reflete na popularização do programa. O rádio é muito próximo às pessoas, já que elas têm esse meio como companhia. O celular e os aplicativos fazem um trabalho contrário, é mais um passatempo”, avalia o radialista.
O sucesso do programa é tanto que Mizael conta que já foi convidado para ser padrinho de vários casamentos de pessoas que se conheceram no programa. “Quando lemos um livro, imaginamos toda a história na nossa cabeça. Na rádio, o processo é o mesmo, todos querem se descrever nos programas. As pessoas ficam encantadas com as locuções dos perfis, e agora, com o WhatsApp, as próprias pessoas usam da sua voz para conquistar alguém. E recebemos perfis de todos os tipos, homens, mulheres, homossexuais. Há uma diversidade muito grande. Fico lisonjeado quando recebo convites de casamento, é o resultado de um trabalho muito bem idealizado”, pontua.
* Estagiário sob a supervisão da editora Teresa Caram