Saiba tudo sobre a doença de Lady Gaga e Selena Gomez. Especialista tira todas as dúvidas sobre o lúpus

Nesta quinta-feira, 10 de maio, é lembrado o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus, data pertinente para alertar sobre o tratamento e a prevenção da doença que atinge mais de 75 mil brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia. Entrevistamos o médico Ênio Ribeiro Reis para falar das causas e o tratamento da enfermidade

por Carlos Altman 09/05/2018 16:26
VALERIE MACON/AFP  e Jamie McCarthy/Getty Images/AFP
Lady Gaga descobriu o lúpus em 2010 e, recentemente, a cantora Selena Gomez precisou de fazer um transplante de rim por causa da doença (foto: VALERIE MACON/AFP e Jamie McCarthy/Getty Images/AFP )
 
 Lúpus é uma doença autoimune e se caracteriza por um processo inflamatório que pode atingir vários órgãos, entre eles os rins, a pele, as articulações, os pulmões e o coração. Essas múltiplas formas de manifestação clínica, às vezes, podem confundir e retardar o diagnóstico. Para cada dez casos de lúpus, nove são em mulheres. Estima-se que uma em cada 1.700 brasileiras tenha a doença. Famosas como Selena Gomez, Lady Gaga e Astrid Fontenelle já tornaram públicos seus diagnósticos. A supersérie Onde Nascem dos Fortes, da rede Globo também aborda a doença rara de forma emocionante. Diagnosticada com lúpus, a personagem Aurora, uma jovem superprotegida pelos pais, Pedro Gouveia (Alexandre Nero) e Rosinete (Debora Bloch) tenta entender o mal que acomete a vida dela. Durante a preparação para o trabalho, a atriz Lara Tremouroux conversou com mulheres que têm a doença e descobriu que ainda existe muito preconceito em torno do tema.
 
Estevão Avellar/Rede Globo/
A personagem da atriz Lara Tremouroux ajuda ao divulgar os sintomas do lúpus (foto: Estevão Avellar/Rede Globo/)
 
O lúpus é causado por um desequilíbrio no sistema imunológico. Esse desequilíbrio é caracterizado pela produção de anticorpos que, ao invés de proteger, passam a atacar o próprio organismo. A enfermidade atinge mais mulheres do que homens devido à presença do hormônio feminino, o estrógeno, um autoformador de anticorpos. Apesar de não ter cura, o lúpus pode ser controlado e a paciente pode levar uma vida normal. O diagnóstico precoce e a conscientização sobre a doença são fundamentais para que o tratamento seja eficiente.
 
Entrevistamos o Dr. Ênio Ribeiro Reis, presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia onde ele explica as causas, sintomas e tratamento do lúpus. E como é importante se conscientizar sobre a doença.
Arquivo pessoal
O lúpus é uma doença rara, que acomete uma em cada 1.700 mulheres (foto: Arquivo pessoal)

1) Quais as causas do Lúpus?

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é doença inflamatória autoimune. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, as causas do lúpus não são conhecidas, mas sabe-se que fatores genéticos, hormonais (ligados ao estrogênio) e também ambientais (relacionados a infecções), contribuem para seu desenvolvimento.

2) Quais os principais sintomas da doença?

Os sintomas variam de acordo com o tipo e a gravidade da doença. É uma doença que evolui em quadros de surtos agudos e períodos de calmaria. Por isso, o reumatologista tem que estar atento em que fase da doença  o paciente se encontra. Sendo assim, a doença pode estar em atividade clinica ou em remissão.

Existem dois tipos principais de Lúpus:
- O Lúpus Cutâneo se manifesta com lesões avermelhadas na pele, principalmente em áreas expostas à luz solar, como o nariz, bochechas, orelhas, colo do decote e os braços.
- O Lúpus Sistêmico é uma doença mais grave devido ao seu acometimento imunológico generalizado e a formação de processo inflamatório em todos os órgãos. Os sintomas dependem, portanto, da área acometida. Dessa forma, a paciente poderá manifestar lesões de pele, dores articulares, inflamação nas membranas que revestem o pulmão e coração, Nefrite, alterações neuropsiquiátricas, convulsões, anemia, fadiga, febre, baixa resistência a infecções e distúrbios de coagulação.

3) Tem alguma faixa etária que a doença costuma aparecer mais?

O lúpus acomete mais comumente as mulheres na faixa reprodutiva, dos 20 aos 40 anos. Mais de 90% dos casos são nessa faixa etária. Pode também acometer crianças e adolescentes e raramente no sexo masculino.  Porém, geralmente esses quadros mais raros tendem a ser mais severos.

4) Como é feito o diagnóstico?

O diagnostico é realizado através da análise dos sinais e sintomas acima descritos. O reumatologista também deverá analisar exames bioquímicos e imunológicos específicos, que detectam a formação de auto anticorpos a nível sanguíneo. O exame de urina também é útil, pois detecta comprometimento renal e perda de proteína na urina. Existem alguns exames mais específicos, porém, somente são detectados em 50% dos casos, como o anticorpo anti- Smith e outros. Critérios desenvolvidos por sociedades internacionais também são úteis para auxiliar no diagnóstico dessa doença, complexa, híbrida e de difícil diagnóstico.

5) Quais são os tratamentos?

O tratamento é continuo, por ser uma doença incurável. Utilizamos como base os corticoides, devido a ação tanto anti-inflamatória, quanto imunomoduladora desses medicamentos. Utilizamos também analgésicos para alivio dos sintomas e drogas imunodepressoras, que agem diretamente na fisiopatologia da doença. Hoje ainda temos a  medicação imunobiologica, que se tornou uma aliada para poupar os pacientes do uso de corticoides em casos mais específicos. 

6) O Lúpus tem cura?

Infelizmente não, mas devido aos avanços da medicina, nossos pacientes têm uma sobrevida bem próxima ao normal, desde que bem controlados e bem medicados pelos médicos especialistas. Importante destacar que, às vezes, o reumatologista necessita de apoio de colegas de outras especialidades como o neurologista, hematologista e o nefrologista, quando a doença perde o controle e evolui de forma mais grave.

7) O Lúpus pode desencadear outras doenças?

Sim. Nossos pacientes lúpicos são mais predispostos a doenças cardiovasculares, visto que o tratamento com certas drogas os deixam mais suscetíveis a doenças metabólicas, devido ao aumento dos níveis de glicose, triglicérides e até mesmo o colesterol. Essa doença pode vir ainda associada com S. de Asherson, com distúrbios de coagulação, com tendência a trombose de repetição e até mesmo abortos. Raros casos podem se associar com a artrite reumatoide e a doença mista. A Fibromialgia é outra doença que pode vir associada e deve ser diagnosticada para se diferenciar da atividade da doença do Lúpus.
Neoplasias sempre devem ser motivos de alerta, devido ao uso crônico de drogas imunodepressoras. A Depressão é também bastante comum, tanto devido ao acometimento neurológico, ou devido aos efeitos colaterais do corticoide em longo prazo, com comprometimento da autoimagem da paciente.

8) Por que é importante falar sobre a doença?

O Lúpus é uma doença rara, que acomete uma em cada 1.700 mulheres e o diagnostico precoce é a principal arma para um tratamento mais eficaz, que na sua fase inicial não produz sequelas irreversíveis. A informação e difusão do conhecimento, tanto a nível dos pacientes, quanto na área médica, torna se um divisor de águas, que repercutirá no sucesso do tratamento e na qualidade de vida do paciente.

9) Como promover uma maior conscientização da população acerca da doença?

Desmistificando essa doença que já teve fama de ser fatal e difundindo as informações de forma clara e explicita. Por isso foi instituído o dia 10 de maio, como o dia da conscientização do paciente com Lúpus. A imprensa e as mídias eletrônicas também tem papel importante nessa dinâmica, pelo seu poder de alcance, difundindo as informações sobre a doença em todo o Brasil. A Sociedade Mineira de Reumatologia tem um papel fundamental na divulgação e esclarecimento da doença, assim como outras sociedades Regionais e a Brasileira.