A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) aprovou por unanimidade, em 18 de outubro de 2017, o projeto de lei do senador Valdir Raupp (MDB-RO) que autoriza a prescrição da ozonioterapia no Brasil. A aplicação de ozônio e oxigênio com finalidade terapêutica - tratamento médico complementar e paliativo de várias doenças - agora aguarda a tramitação na Câmara dos Deputados e, se confirmada, vai para a sanção presidencial. Com os benefícios e resultados confirmados por muitos médicos, outro grande passo para sua aplicação maciça ocorreu na última segunda-feira, dia 12, no Rio de Janeiro, quando foi anunciada a ozonioterapia para uso em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) dentro do programa Práticas Integrativas e Complementares (PICS) na odontologia, neurologia e oncologia. Aliás, foram acrescentadas mais 10 práticas no programa (agora são 29 procedimentos ofertados à população) que usam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para curar e prevenir diversas doenças. O anúncio foi durante a abertura do 1º Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Saúde Pública (INTERCONGREPICS).
Descoberto em 1840 pelo pesquisador alemão Christian Friedrich Schoenbein, que observou um odor característico quando o oxigênio era submetido a uma descarga elétrica, e pela frequência sistemática com que isso ocorria o chamou de “ozein”, que em grego significa “aquilo que cheira”. Em 1857, o físico Werner Von Siemens desenvolveu o gerador de alta frequência, aparelho que forma o gás ozônio através de descargas elétricas em átomos de oxigênio. Com finalidade médica, ela é usada desde o século 19, sendo os primeiros estudos desenvolvidos na Alemanha. Inicialmente, o tratamento era para combater a ação de bactérias e germes na pele humana.
Já Erwin Payr, cirurgião austríaco, professor em Leipzig, experienciou o tratamento com ozônio por seu dentista, E. A Fisch, e em 1935 apresentou uma publicação de 290 páginas intitulada “O tratamento com ozônio na cirurgia”. Esse foi o início da ozonioterapia que conhecemos hoje. No Brasil, o médico Heinz Konrad iniciou a prática em 1975 na sua clínica em São Paulo, e com ela trabalha até hoje. Em meados dos anos 1990, o médico Edison de Cezar Philippi introduziu a prática em Santa Catarina e a difundiu em inúmeros cursos e congressos.
Adriano Faustino, médico nutrólogo, pós-graduado em geriatria e professor da UFMG, Uni-BH e Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), explica que a ozonioterapia “consiste no uso de ozônio, um gás natural composto por três moléculas de oxigênio, no tratamento de várias doenças.
O ozônio é um anti-inflamatório. “Ele gera como efeito uma ação anti-inflamatória natural e melhora a circulação e oxigenação do tecido inflamado. O ozônio também tem ação antimicrobiana, ajuda no combate de fungos, bactérias e vírus”, enfatiza o nutrólogo. A ozonioterapia, explica Adriano Faustino, é muito benéfica como prevenção, mas também é excelente em casos agudos.
Quanto aos riscos do procedimento, o médico assegura que “o ozônio de uso tópico ou aplicações locais não apresenta contraindicações. Apenas no uso de ozônio no sangue”. Adriano Faustino enfatiza que ele é indicado para dores em articulações (joelho, ombro etc), dores de coluna, musculares e dores devido a traumatismo como fraturas, distensões e luxações. No entanto, o nutrólogo lembra que a ozonioterapia é um tratamento complementar, mas em alguns “casos é o que mais tem efeito”.
ÁGUA E INDÚSTRIA
Por dentro da história da ozonioterapia, Adriano Faustino conta que “o alemão Hans H. Wolff (doutor em medicina) dedicou sua vida à pesquisa e aplicação do ozônio.
A ansiedade é grande para a aprovação geral no Brasil. No entanto, há notícias de uma queda de braço mercadológica com a indústria farmacêutica. Adriano Faustino diz que “o ozônio pode reduzir muito o uso de anti-inflamatórios e antibióticos. Nesse caso, diminuiria a receita da indústria desses remédios”.
A ozonioterapia proporciona, de acordo com Adriano Faustino, um tratamento integrativo dos músculos e articulações.
Vale destacar, que o ozônio tem várias utilizações que podem ser médicas e não médicas. Adriano Faustino conta que no aplicativo Cabify há distribuição de água ozonizada: “No caso da água do Cabify, trata-se do uso não medico do ozônio para tratamento da água. Assim como é utilizado em piscinas, aquários, limpeza de frutas e verduras. Já a água ozonizada medicinal é diferente, tem gosto pouco diferente e é benéfica sim. Existem aparelhos que fazem água ozonizada e é possível ter em casa”.
SAIBA MAIS
Indicações e contraindicações
» Problemas circulatórios
» Diversas doenças e condições do paciente idoso
» Doenças causadas por vírus, como hepatites, herpes simples e herpes zoster
» Feridas infectadas quaisquer, inflamadas, de difícil cicatrização, como úlceras nas pernas, de origem vascular, arterial ou venosas (varizes), úlceras por insuficiência arterial, úlcera diabética e risco de gangrena
» Colites e outras inflamações intestinais crônicas
» Queimaduras
» Hérnia de disco, protrusão discal, dores lombares
» Dores articulares decorrentes de doenças inflamatórias crônicas
» Imunoativação geral
Como terapia complementar para vários tipos de câncer
» Existem algumas contraindicações para a realização da ozonioterapia. A principal contraindicação é deficiência da enzima Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD), conhecida como favismo, em função do risco de hemólise
» Em casos de hipertireoidismo descompensado, diabetes mellitus descompensado, hipertensão arterial severa descompensada e anemia grave, é necessário que a estabilização clínica dessas situações seja realizada previamente à aplicação da ozonioterapia
Fonte: www.aboz.org.br
CFM não aprova
O Conselho Federal de Medicina (CFM) é crítico em relação à decisão do SUS de aumentar de 19 para 29 a oferta de terapias alternativas. O primeiro vice-presidente da entidade, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, afirma que, dessas 29 práticas, apenas duas são reconhecidas: a acupuntura e a homeopatia, “que são especialidades médicas, que, obrigatoriamente devem ser exercidas por médicos”. Em um programa de TV, ele explicou que o CFM é crítico porque tais procedimentos “não têm fundamentação científica”. Para Mauro Ribeiro, “o grande risco que existe nisso é que as pessoas, na sua boa fé, acreditam que essas práticas possam suplantar a medicina tradicional. Das 29 práticas integrativas reconhecidas pelo Ministério da Saúde, 27 não têm nada a ver com o CFM”. O vice-presidente enfatizou, ainda, que o conselho “é uma autarquia federal de direito público e não um órgão corporativo da classe médica, e tem como função garantir a boa assistência à saúde da população brasileira”. Quando o governo fala dessas práticas como prevenção, conforme o médico ressaltou no programa de TV, falha, porque há outras prioridades: “A febre amarela está matando pessoas no Brasil, o sarampo voltou, a tuberculose voltou, a sífilis voltou, a epidemia do trauma, nós temos milhões de outras necessidades que precisam da medicina preventiva. Temos bons programas, como o da vacinação. Agora, o governo errou o foco porque a prevenção se faz de outra forma e não por meio dessas práticas alternativas”..