Crianças não sedentárias têm a função pulmonar fortalecida na vida adulta

Pesquisa revela ainda que quem pratica exercícios físicos desde cedo ficam menos suscetíveis a doenças respiratórias, reforçando a importância de se manter ativo

17/02/2018 14:41
Ilustração/Valdo Virgo
(foto: Ilustração/Valdo Virgo)

Estar em boa forma física desde a infância é requisito para a boa saúde no decorrer da vida, principalmente na velhice. É o que tem descoberto um grupo internacional de pesquisadores liderados por Bob Hancox, especialista em respiração da Universidade de Otago, na Nova Zelândia. Eles acompanham 2.406 pessoas há mais de 20 anos, desde crianças, e, num estudo publicado na última edição do European Respiratory Journal, mostram como meninos e meninas menos sedentários têm a função pulmonar melhorada no início da vida adulta. A condição, consequentemente, reduz o risco de surgimento de doenças respiratórias crônicas, incluindo a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), bastante debilitante e incidente em idosos.

A pesquisa incluiu dois grupos de estudo: um na Dinamarca, com 1.369 crianças; e outro na Nova Zelândia, com 1.037. Os pesquisadores mediram a aptidão física e a função pulmonar em diversos estágios da vida dos participantes. No grupo da Dinamarca, aos 9, 15, 21 e 29 anos. No da Nova Zelândia, aos 15, 26, 32 e 38 anos. No teste dinamarquês, os participantes tiveram a aptidão aeróbica avaliada em uma bicicleta - tinham que pedalar até se sentir esgotados. A outra equipe usou a mesma atividade para testar a frequência cardíaca dos participantes. “Ambos seguiram um grupo normal de crianças até a vida adulta para estudar muitos aspectos de sua saúde e bem-estar”, resume Hancox.

Os resultados mostram que as não sedentárias tinham melhor função pulmonar e que, quanto mais essa aptidão era melhorada durante a infância, maior a capacidade dos pulmões na vida adulta. “Nós não sabemos por que a condição física e a função pulmonar estão ligadas, mas uma explicação pode ser que pessoas aptas tenham melhor força muscular respiratória e outras forças musculares”, diz o líder do estudo.

Hancox diz que uma das possíveis explicações para a associação entre condição física e função pulmonar pode ser o fato que a inspiração e a expiração fortes e regulares durante a prática regular dos exercícios ajudem a reforçar os músculos respiratórios. A boa forma física também foi associada a baixo risco de asma, no estudo da Dinamarca. “Assim como está associada à boa saúde e ao baixo risco para doenças do coração”, complementa Hancox.

Os estudos estão em andamento e, segundo o autor, eles serão mantidos pelo tempo que for possível, a fim de observar como esse processo se dá ao longo do envelhecimento. Independentemente das investigações futuras, Hancox ressalta que o que já foi constatado merece atenção. “O resultado proporciona um motivo para garantir que nossos filhos se encaixem e fiquem em forma. Os exercícios são bons para nosso corpo, e isso parece ser verdade também para nossos pulmões, bem como para outros aspectos da saúde”, explica.

Coordenadora do Grupo de Pesquisas em Pneumologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Laura Belizário Lasmar explica que a função pulmonar cresce até os 20 anos, fica estabilizada até os 30 e começa a declinar lentamente. Maus hábitos ao longo da vida, como o tabagismo, e o contato com substâncias nocivas - gases tóxicos, por exemplo - tornam esse declive ainda mais acentuado. “Precisamos de músculos, são eles que executam os movimentos respiratórios. Além disso, não adianta ter bom condicionamento físico e fumar”, alerta (Leia saiba mais).

A médica chama a atenção para o fato de o estudo considerar também crianças e jovens asmáticos. “Muitas vezes, eles são poupados por não conseguir correr ou brincar, faltando exatamente o condicionamento físico. Então, é preciso incentivá-los. No caso dessa doença, tendo bom condicionamento e realizando exercícios físicos a medicação pode até ser diminuída”, diz.

Engajamento

Ricardo Moreno, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB), destaca outro ponto do trabalho. “Esse estudo tem achados originais e diferentes. Eles avaliaram a aptidão física das crianças, em vez de focar na atividade física em si. Assim, claramente, quem está mais engajado com atividades físicas tem uma aptidão melhor.”

O professor acredita que um dos desafios para incentivar a prática de atividades físicas entre meninos e meninas é fazer com que elas sejam recreacionais. “As crianças requerem a questão lúdica, que as mantêm entretidas. É muito mais difícil para elas subir em uma esteira e fazer 40 minutos de caminhada, por exemplo”, explica. Lasmar acrescenta que, contanto que haja orientação, o exercício físico deve ser incentivado desde a fase de bebê.

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Carmen Souza

Novo remédio contra a asma

Um composto desenvolvido por um grupo internacional de cientistas poderá causar mudanças substanciais no tratamento da asma, doença respiratória que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), acomete cerca de 235 milhões de pessoas. Em testes com ratos, a substância relaxou as vias aéreas comprometidas de forma mais eficaz que as terapias disponíveis e se manteve potente após múltiplas doses. O funcionamento dos betaagonistas, broncodilatadores mais usados atualmente contra a enfermidade, costuma estar restrito a uma dose diária.

“Não é uma cura, mas acho que esse tratamento dará muita esperança às pessoas. Há um número crescente de pacientes sem alternativa porque os tratamentos atuais têm efeitos colaterais críticos ou não estão funcionando. Esperamos que isso dê aos pacientes uma opção melhor”, disse Luis Ulloa, imunologista da Faculdade de Medicina de Rutgers New Jersey e um dos autores do estudo, divulgado na revista Science Translational Medicine. A pesquisa contou também com colaboradores da Universidade de Xangai.

A equipe examinou 6 mil compostos até chegar ao TSG12. Primeiro, eles identificaram que, no tecido pulmonar de asmáticos, a proteína metalotioneína-2 (MT-2) relaxa as células do músculo liso das vias aéreas, abrindo-as e permitindo, assim, que os pacientes respirem. A concentração da proteína nesses indivíduos, porém, é 50% menor. Em experimentos com ratos, descobriu-se, ainda, que a menor quantidade da proteína faz com que os animais fiquem duas vezes mais suscetíveis à asma.

O tratamento com TSG12 foi desenvolvido a partir da ação da MT-2. “Descobrimos que o TSG12 utilizado no estudo é não tóxico, mais eficaz na redução da resistência pulmonar e pode ser uma abordagem terapêutica promissora para o tratamento da asma sem perder a eficácia das horas extras”, afirmou Ulhoa. O próximo passo do estudo será o início dos testes com humanos.

Vias bloqueadas

Ocorre quando há o bloqueio das vias aéreas causado pela persistência de duas doenças: enfisema e/ou bronquite crônica. A maior incidência de casos está em países desenvolvidos e em homens, sendo o tabagismo a principal causa. A doença também pode ter tendência hereditária, sendo mais frequente em algumas famílias. Os sintomas iniciais surgem por volta dos 45 anos, com tosse leve, produção de expectoração de cor clara e notória dificuldade de respirar ao fazer esforços.

Palavra de especialista:
Ricardo Moreno, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília

Presos à tecnologia

“Estudos assim, agregados à literatura, estão sempre dizendo que tanto a aptidão quanto as atividades físicas estão associados a questões de saúde. E é uma questão contraditória a ser pensada porque, cada vez menos, as pessoas têm feito atividade física. E as crianças, então, estão muito sedentárias, sempre ligadas a videogames e ao celular. Há a falta muito grande de exercícios no dia a dia delas. É preciso criar estratégias para fazer com que entrem em programas de atividade física e permaneçam neles.”

Saiba mais: Tragadas impulsionam a pneumonia

Kenzo Tribouillard/AFP
(foto: Kenzo Tribouillard/AFP)
Cigarros eletrônicos podem aumentar o número de bactérias causadoras da pneumonia, de acordo com estudo publicado na revista European Respiratory Journal. O estudo incluiu testes feitos em ratos e humanos e mostrou que o efeito do vapor - com ou sem nicotina - é similar ao causado pelos cigarros tradicionais e pela poluição. Segundo os autores, esses dispositivos aumentam a produção da molécula Receptor do Fator de Ativação Plaquetário (PAFR, na sigla em inglês), secretada pelas células que revestem as vias aéreas. A condição pode aumentar os ricos de pneumonia ou sepse, doenças causadas pelos pneumococos, porque esses micro-organismos usam a molécula para se prender às células das vias aéreas. Nos testes, 17 voluntários fumaram o cigarro eletrônico por cinco minutos. Uma hora depois, os níveis de PAFR nas vias respiratórias deles tinham aumentado em até três vezes. “Algumas pessoas usam cigarros eletrônicos por achá-los mais seguros, mas esse estudo é mais uma evidência de que o vapor pode causar efeitos adversos à saúde”, ressaltou Jonathan Grigg, um dos estudiosos e pesquisador da Universidade Queen Mary, de Londres.