Escolha da maquiagem para o carnaval deve ser criteriosa para evitar problemas de saúde

A festa que está aí pede cor e brilho, mas folião deve ter cuidado na escolha dos produtos e ficar atento para afastar acidentes que podem causar transtornos mais graves

Laura Valente 06/02/2018 14:27
Cacá Zech/Divulgação
A maquiadora Cacá Zech assina a maquiagem de Rayana Bartholo (foto: Cacá Zech/Divulgação )

O anúncio de que haverá quase 500 blocos no carnaval de Belo Horizonte tem atraído multidões e traz uma certeza: para fazer bonito nas ruas e avenidas, os foliões já preparam fantasias e maquiagens características. Mas o chamado para caprichar no visual, colorindo o corpo e o rosto. Mas especialistas lembram que a escolha de produtos deve ser criteriosa. “A maquiagem de verdade geralmente não traz problemas. Desde que atenda às normas de segurança da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o consumidor respeite as orientações de uso e os prazos de validade. Porém, muitas pessoas inventam de pintar a pele com tintas e outros produtos não indicados para uso humano, o que pode causar reações imprevisíveis, desde irritações locais a intoxicações mais sérias”, aponta dermatologista Maria de Fátima Melo Borges.

Profissional especializada em maquiagem artística para cinema, teatro e afins, a mineira Cacá Zech, radicada em São Paulo, vem ao carnaval de BH sempre que tem uma brecha na agenda, período em que atua com toda a pompa que a ocasião pede. “A produção carnavalesca é livre, uma época em que o exagero cabe para qualquer pessoa. Gosto de apostar na aplicação de pedrarias com colagem, o que leva a maquiagem para o lugar lúdico, além de muita cor, brilho, explorando ao máximo a criatividade.”

Para colorir a si mesma, amigos e integrantes de blocos famosos e temáticos, como o Pena de Pavão de Krishna (PPK) e o Havayanas Usadas, ela usa apenas produtos especializados e seguros, como clow make up (específico para a pintura corporal de personagens como palhaços), além de cílios, iluminadores e pancakes artísticos. “Considero seguro tudo aquilo que é maquiagem já que a fabricação de tais produtos é regulada por órgãos de saúde, o que demanda pesquisas dermatológicas para serem aprovados. Muitas vezes, inclusive, são antialérgicos”, conta.

ONDE ENCONTRAR?

Boticário/Divulgação
Maquiagem para a festa de Momo com efeito glossy. Especialistas alertam para as indicações de uso e prazo de validade dos produtos (foto: Boticário/Divulgação)
Na cidade, o bloco PPK, cujos integrantes têm a tradição de pintar a pele do rosto e do corpo de azul em referência à divindade indiana Krishna, é emblemático. “Já usei tinta própria para crianças – muito difícil de sair do corpo, principalmente se não for diluída, mas hoje opto por pigmento natural e atóxico, próprio para a indústria cosmética, que acho mais bonito. Aplico por cima de uma base, lembrando que sempre uso o protetor solar sob a maquiagem”, afirma Flávia Rajão, cofundadora do bloco. Também integrante do PPK, Maíra Leonel elege micas naturais da empresa Life Cosmetics, comercializadas pela internet, para desfilar no carnaval.

O que nem todo mundo sabe é como ter acesso a produtos especializados para além da oferta da cosmética convencional. Na cidade, opção vem da Casa da Maquiagem, fundada há 20 anos por Mário Lúcio Godinho. “Naquele tempo, poucos locais vendiam produtos para atender especificamente maquiadores e profissionais, principalmente os de artes cênicas. Assim, fundamos a multimarcas que trabalha com ampla gama de produtos tanto para maquiagem social quanto artística, atendendo profissionais e alunos de artes, grupos de dança e teatro.” Godinho informa ainda que vem multiplicando os negócios e o estoque frente à explosão do carnaval de BH. “De cinco anos pra cá, cresço algo em torno de 25% a cada temporada. Este ano, o movimento mais que dobrou em comparação a 2017”, comemora.

A maquiadora Cacá Zech lembra ainda sobre a importância do cuidado com os olhos, indicando apenas o uso de cílios de procedência e de colas específicas para maquiagem na aplicação do produto e de outros adereços. E aborda a polêmica sobre o glitter. “Na verdade, não faz mal para a pele, pois não é absorvido. No entanto, polui o meio ambiente, pois é uma partícula de plástico. Então, o critério que deve ser levado em conta é a consciência de cada um”, opina a maquiadora.

Cacá Zech/Divulgação
Cofundadora do bloco PPK, Flora Rajão lembra que sempre usa o protetor solar sob a maquiagem (foto: Cacá Zech/Divulgação )
Cuidados básicos

Para não estragar a folia com sintomas como ardência, coceiras, queimaduras e outros inconvenientes provocados por negligência e uso de produtos tóxicos, a dermatologista Maria de Fátima Melo Borges e o oftalmologista Luiz Carlos Molinari indicam cuidados com a maquiagem. Confira:

» Atenção à procedência: a embalagem do cosmético deve estar identificada com número de registro na Anvisa e no Ministério da Saúde. Em caso de dúvida, acessar os endereços eletrônicos dos órgãos citados e pesquisar pelo nome do produto.

» Atenha-se às indicações de uso impressas na embalagem, ou seja, esmalte nas unhas, batom na boca e por aí vai. “Impossível prever uma reação adversa proveniente de aplicação incorreta”, afirma a médica.

» Crianças: classificadas como grupo especial devido à sensibilidade e fragilidade da pele, devem ter acesso apenas a produtos específicos para uso infantil, “o que dá certa garantia de qualidade em relação a menor risco de irritações, fácil lavagem (menos poder de fixação) e até sabor ruim, pois foi trabalhado com a intenção de ser o mais seguro possível”, alerta a dermatologista. E lembra: “Nunca deixe uma criança usar cosméticos sem a devida supervisão”.

» Evite produtos em spray e aerossol (que podem ser inalados), além de colas e pigmentos impróprios, tintas para pintar parede ou tecidos e fitas adesivas coloridas. “Resumindo, tudo que não é adequado para uso humano.”

» Cuidado! Segundo Molinari, os fragmentos do glitter podem cair dentro dos olhos, causando irritação e até microferimentos na conjuntiva e na córnea, levando a irritação, infecção e até a um prejuízo visual residual.

» Evite ficar muitas horas com cílios postiços e só use produtos aprovados, uma vez que a alteração da flora bacteriana com retenção de secreções e material contaminado acumulado na região podem levar à infecção secundária chamada blefarite.

» Evite o contato direto de produtos como demaquilantes com o interior dos olhos. A limpeza mais fácil e menos agressiva é com água morna e sabão neutro.