Novo aparelho no mercado, 'óculos' promete alívio contra a apneia

Aparelho para ser usado nas arcadas dentárias superior e inferior do paciente com distúrbio do sono de leve a moderado alivia sintomas, promovendo melhor qualidade de vida

Augusto Pio 01/01/2018 13:30
Igor Albuquerque/Divulgação
Especialista em prótese e disfunção bucal, Humbertt Mayr explica que o aparelho possibilita dormir tranquilo (foto: Igor Albuquerque/Divulgação)

Problema com o sono incomoda milhões de pessoas em todo o mundo. E um deles é a apneia, obstrução completa das vias aéreas causada pelo colapso dos tecidos da orofaringe, palato mole e dorso da língua, com frequência de, no mínimo, cinco a 10 vezes por hora de sono. Estima-se que, em âmbito mundial, a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (Saos), ou simplesmente apneia, cause sofrimento para mais de 100 milhões de pessoas. Para alívio de milhares de pacientes, Humbertt Marcus Felipe Mayr, especialista em prótese e disfunção bucal, sugere os “óculos” para apneia, aparelho feito para ser usado dentro da boca, nas arcadas dentárias superior e inferior do paciente. “É recomendado para tratar apneias do sono leves e moderadas”, esclarece o especialista.

Ele explica que a apneia do sono pode ser dividida em três tipos:

- Central - é quando a causa da parada respiratória é de origem neurológica, em nível de centro respiratório cerebral, não havendo o esforço respiratório;

- Obstrutiva -
é a versão mais comum da doença. Nesses casos, o ar para de fluir para as vias aéreas, em função de bloqueio temporário causado pelo relaxamento dos músculos da garganta, colapso das estruturas da faringe, fechando o espaço aéreo superior. Em crianças, o problema pode estar relacionado ao aumento das adenoides, glândulas localizadas no nariz, ou das amígdalas, estruturas que ficam na entrada da faringe;

- Mista - existem os dois fatores concomitantes ou alternados. “Como o excesso de peso é um dos principais desencadeadores da apneia, manter estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e exercício físico, é essencial para se ver livre do problema. O hábito de fumar costuma agravar bastante a condição. Recomenda-se também diminuir as doses de bebida alcoólica, que, em excesso, interfere no ciclo do sono e no relaxamento da musculatura da garganta e se transforma em gatilho para o distúrbio”, ressalta o especialista.

“O aparelho intraoral é feito sob medida e deve ser usado para dormir, encaixando-o nos dentes superiores e inferiores. De forma bastante confortável (por ser feito sob medida para o paciente), reposiciona a mandíbula, fazendo com que toda a musculatura orofaríngea se reposicione também e, assim, desobstrua as vias aéreas, abrindo espaço entre o palato mole e a língua, deixando o ar passar sem barulho (ronco) e sem falta de ar (apneia)”, explica Humbertt. “Durante o sono, quando o tônus desses tecidos diminui, estes se aproximam, bloqueando a passagem do ar. Apneia não é apenas um simples ronco. O barulho noturno é entrecortado por engasgos e, muitas vezes, o indivíduo nem percebe”, alerta.

EFICAZ

Humbertt explica que pode se comparar o uso do aparelho intraoral com óculos porque, quando usado, proporciona os resultados desejados imediatamente. “Se não é colocado nos olhos, a pessoa fica sem enxergar (ou enxerga pouco). Com o aparelho intraoral ocorre a mesma coisa. Assim que é colocado, acaba com o problema imediatamente. Entretanto, se não for utilizado, o ronco e a apneia voltarão a ocorrer”, adverte. “O uso regular do aparelho proporcionará sono reparador, possibilitando disposição para a prática de exercícios físicos regulares e facilitando o emagrecimento (se o motivo do ronco e da apneia for o excesso de peso). Isso proporcionará benefícios para o sistema circulatório e combaterá a insônia, o estresse e a ansiedade. No resultado geral, significa melhora na qualidade de vida.

Ele esclarece que o aparelho é confeccionado com resina acrílica e oferece ótimo custo/benefício. “É feito em consultório odontológico ou em laboratório de prótese e faz parte do tratamento, no qual, além da confecção do aparelho e ajuste na boca, são feitas várias outras consultas para acompanhamento e manutenção. Funciona como tratamento e é muito eficaz. Além dos “óculos” para apneia, o cliente é avaliado como um todo, especialmente se a mordida está adequada e, muitas vezes, o tratamento é feito com a interferência de outros profissionais da saúde.”

Humbertt lembra que o aparelho intraoral é indicado para quem apenas ronca ou tem apneia leve ou moderada (até 30 paradas respiratórias por hora). “Para a apneia grave (mais de 30 paradas respiratórias em cada hora de sono) é necessário usar outro tipo de aparelho, chamado CPAP, cujo tratamento deve ser feito com fisioterapeuta especialista na área respiratória. A contraindicação é para quem está muito acima do peso, já que o aparelho, provavelmente, não vai conseguir compensar o volume muito grande da musculatura da garganta (que também aumenta e acumula gordura quando a pessoa engorda muito). Também é contraindicado para quem tem poucos dentes ou usa dentadura sem muita firmeza, porque o aparelho não vai ter estabilidade suficiente dentro da boca para cumprir sua função.”

Apneia do sono

Sintomas:

» ronco alto;
» respiração ofegante;
» sensação de sufocamento ao dormir;
» dificuldade de concentração;
» dor de cabeça matinal;
» hipersonolência diurna;
» sono agitado, geralmente insuficiente (não reparador);
» hipertensão arterial (pode ser apenas matinal);
» arritmia cardíaca;
» cefaleia matinal;
» impotência sexual.

Consequências:

» maior risco de acidentes de trânsito e de trabalho. Vários estudos demonstram que o número de acidentes de trânsito é duas a três vezes superior em relação à população que não tem o distúrbio. Acidentes ocorrem com maior frequência nesses pacientes, porque eles tendem a apresentar maior tendência para "cochilos" involuntários durante o dia;
» refluxo gastroesofágico noturno.

Fatores de risco:

» a apneia provoca aumento de peso, que, por sua vez, agrava a síndrome;
» mandíbula encurtada, que empurra a língua muito para trás, bloqueando a garganta;
» tabagismo;
» álcool em excesso;
» uso exagerado ou equivocado de sedativos;
» aumento das amígdalas e adenoides;
» dormir de barriga para cima;
» tumores.