Prejudicial ao movimento do corpo, Parkinson continua incurável, apesar dos avanços

Tremores, rigidez muscular e alterações na fala e na escrita atingem de 4% a 5% das pessoas acima de 85 anos

por Karen Santos 24/11/2017 11:00
Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Estevão Alves Valle, geriatra da Unimed-BH, observa que, na maioria dos indivíduos, a doença surge sem causa conhecida (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A doença de Parkinson é uma patologia neurológica que afeta os movimentos da pessoa, causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio e alterações na fala e na escrita. É a segunda maior causa de doença neurodegenerativa, figurando logo depois do Alzheimer, e está presente em até 1% da população após os 65 anos, de acordo com a Associação Brasil Parkinson, chegando a atingir de 4% a 5% das pessoas acima dos 85 anos, segundo pesquisas. Grande parte dos pacientes tem os primeiros sintomas a partir dos 60, e estudos também mostram um aumento da incidência da enfermidade de acordo com a idade, crescendo rapidamente depois da quinta década de vida. Apesar dos avanços científicos, a doença de Parkinson continua incurável, é progressiva e a sua causa permanece desconhecida até hoje.

Com o envelhecimento, todos os indivíduos saudáveis apresentam morte progressiva das células nervosas que produzem dopamina, neurotransmissor que intensifica os impulsos nervosos gerados do cérebro para os músculos. Em algumas pessoas, entretanto, essas células se degeneram, e, consequentemente, há diminuição muito maior em seus níveis de dopamina. “A maioria dos sintomas relacionados ao movimento da doença de Parkinson são causados pela falta de dopamina, devido à perda de células produtoras dessa substância”, é o que explica Estevão Alves Valle, geriatra da Unimed-BH. O médico conta que, quando a quantidade de dopamina é muito baixa, a comunicação entre as células nervosas e o corpo estriado torna-se ineficaz e o movimento fica prejudicado, o que provoca os sintomas da patologia.

Estevão chama a atenção para o fato de que, cientificamente, está claro que a falta de dopamina causa os sintomas motores da doença de Parkinson. No entanto, o motivo pelo qual as células cerebrais produtoras da substância se deterioram ainda não foi estabelecido. “Estudos genéticos e patológicos revelam que vários processos celulares disfuncionais, inflamação e estresse podem contribuir para o dano celular. De um modo geral, as principais evidências apontam que a perda de dopamina se deve a uma combinação de fatores genéticos e ambientais”, conta. O especialista destaca que, na maioria dos indivíduos, a doença de Parkinson é idiopática, o que significa que ela surge esporadicamente e sem causa conhecida. “No entanto, alguns indivíduos diagnosticados com Parkinson também têm membros da família já diagnosticados. Existem cinco genes que estão definitivamente associados ao Parkinson hereditário, mas há outros perfis genéticos com potencial ligação à doença”, expõe. Apesar disso, Estevão lembra que a idade é o maior fator de risco para o desenvolvimento e progressão da patologia, e que a maioria das pessoas que a desenvolvem são idosos de 60 ou mais anos de idade. “Um pequeno número de indivíduos está em risco aumentado por causa de uma história familiar do transtorno, mas o traumatismo craniano, doenças ou a exposição a toxinas ambientais, como pesticidas e herbicidas, também podem ser fatores de risco”, completa.

SINTOMAS

Com o passar dos anos, é frequente movimentos ficarem mais lentos e os reflexos mais fracos, mas sem interferir na capacidade de a pessoa funcionar e agir no dia a dia. Estevão alerta que, quando esses sintomas começam a prejudicar a funcionalidade e a independência, é sinal de que algo está errado e pode haver alguma enfermidade que precise ser tratada. “Um diagnóstico de doença de Parkinson, especialmente na fase inicial, pode ser desafiador, uma vez que não há teste para diagnosticar a doença com certeza. Portanto, é sempre recomendável procurar médicos especializados no problema para realizar o acompanhamento e o diagnóstico oportuno”, aconselha.

O Parkinson pode começar de modo assintomático e avançar de forma gradual, mas, em geral, os principais sintomas motores são tremores de repouso, rigidez dos músculos, lentidão do movimento, equilíbrio prejudicado e dificuldade para caminhar. “É importante destacar que nem toda pessoa com doença de Parkinson treme e nem toda pessoa com tremor tem doença de Parkinson”, esclarece o especialista. Além disso, existem os sintomas não motores, como por exemplo alterações urinárias, distúrbios do sono, dores, fadiga e sintomas neuropsiquiátricos, como a ansiedade e a depressão. “O diagnóstico precoce e preciso da patologia é essencial para se desenvolverem boas estratégias de tratamento e, assim, manter uma alta qualidade de vida pelo maior tempo possível”, reforça.

Atualmente, não há cura para a doença de Parkinson. Contudo, várias terapias estão disponíveis para atrasar o início dos sintomas motores e para melhorar os sintomas. “Todos esses tratamentos funcionam para aumentar a quantidade de dopamina no cérebro, substituindo, imitando ou prolongando o efeito da dopamina. Estudos demonstraram que a terapia precoce no estágio não motor pode atrasar o aparecimento dos sintomas motores, estendendo assim a qualidade de vida”, diz o médico. Em casos mais avançados e com pouca resposta aos medicamentos, a cirurgia pode ser uma opção. “Junto com as medicações e cirurgia, mudanças gerais no estilo de vida, como fisioterapia, terapia ocupacional e terapia de fala podem ser benéficas.”

Por fim, o especialista destaca que, ainda que seja uma doença progressiva, a gravidade dos sintomas da enfermidade varia muito entre pacientes e não é possível prever a rapidez com que ela vai progredir. “A doença de Parkinson não é fatal, e a expectativa de vida média é semelhante à das pessoas sem a patologia. Complicações secundárias, como a pneumonia, lesões relacionadas a quedas e aspiração são ameaçadoras à vida. Mas existem muitas opções de tratamento que podem reduzir sintomas e prolongar a qualidade de vida de um indivíduo diagnosticado”, conclui.

SÍNDROMES

É importante destacar que, ainda que a doença de Parkinson seja responsável por grande parte dos casos, outras patologias podem causar os mesmos sintomas, chamados parkinsonianos. O parkinsonismo é um termo genérico, que designa uma série de enfermidades com causas diferentes e que têm em comum a presença de sintomas parkinsonianos. Sarah Camargos e Francisco Cardoso, neurologistas e professores do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, escreveram o Manual para o diagnóstico dos distúrbios de movimento, no qual esclarecem, entre outras coisas, o que são as síndromes parkinsonianas. “Sintomas parkinsonianos não são exclusivos da doença de Parkinson, embora estime-se ela seja responsável por aproximadamente 86% dos casos de parkinsonismo”, apontam os professores. Segundo o manual, as síndromes parkinsonianas podem ser causadas pelo uso de alguns medicamentos e tóxicos, por fatores infecciosos, como o HIV e a toxoplasmose, ou por doenças estruturais e neurodegenerativas.

Ainda conforme os especialistas, há alguns sinais e sintomas que indicam um quadro parkinsoniano, e não a doença de Parkinson, comumente chamados de “sinais de alerta”. Alguns exemplos são instabilidade postural e quedas precoces, alucinações visuais precoces ou psicose. Como não se conhece a causa da doença de Parkinson, ela é também chamada de parkinsonismo primário.