Doenças do coração representam a principal causa de mortes no Brasil

Problemas cardíacos atingem 350 pessoas por ano no país. Mais da metade deles poderia ser evitada ou adiada com tratamentos simples

por Karen Santos 22/11/2017 13:00

Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 20/5/15
"Um hipertenso que não se trata tem a expectativa de vida reduzida em 16,5 anos" - Marcus Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 20/5/15)

As doenças cardiovasculares, caracterizadas por enfermidades do coração e das artérias, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC), representam, conforme a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a principal causa de mortes no Brasil. No período de 2004 a 2014, tais patologias foram responsáveis por quase 3,5 milhões de óbitos, cerca de 29% do total de mortes no período. Além disso, ainda segundo a SBC, as doenças cardiovasculares causam o dobro de mortes decorrentes de todos os tipos de câncer juntos, 2,3 vezes mais que todos os óbitos por acidentes e violência, 3 vezes mais que as doenças respiratórias e 6,5 vezes mais que todas as infecções, incluindo a aids. Apesar de os dados alarmantes indicarem certo descaso da população brasileira com a saúde do coração, especialistas afirmam que o alerta, a prevenção e o tratamento adequados podem reverter essa grave situação e levar a um envelhecimento mais saudável.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), 80% das ocorrências poderiam ser evitadas com medidas simples de hábitos saudáveis, como não ingerir bebidas alcoólicas, não fumar e combater o sedentarismo. Lincoln Graciano Chaves, cardiologista do Instituto Biocor, diz que o descuido da população brasileira em relação à saúde do coração se deve ao fato de que, em geral, as pessoas só procuram atendimento médico quando apresentam algum sintoma “visível”, como dores de cabeça ou no peito. “Os fatores de risco para o desenvolvimento do infarto ou derrame, por exemplo, são, em sua maioria, assintomáticos, e, sem sintomas, a maioria não consegue vislumbrar a necessidade do tratamento”, aponta. Dessa maneira, para o especialista, os programas de prevenção e a conscientização das pessoas “podem reduzir os números já citados anteriormente, levando a um aumento da sobrevida”.

Nesse sentido, o cardiologista destaca a importância da realização de exames e checapes periódicos. “Uma avaliação anual ou até mesmo em menor espaço de tempo tem por objetivo diagnosticar precocemente os fatores de risco e, dessa maneira, realizar intervenções eficazes, reduzindo o risco de infarto e derrame”, conta. Ele reforça que todas as pessoas, desde a infância, devem “se valer da ciência da prevenção” e, no caso das doenças cardiovasculares, recomenda que a avaliação inicial seja aos 30 anos para homens e 35 para as mulheres. Lincoln reforça que a prática de atividades físicas e uma dieta balanceada também ajudam a evitar doenças cardiovasculares. O cardiologista explica que o aumento dos níveis de colesterol e/ou triglicérides, bem como a hipertensão arterial sistêmica, desencadeiam uma resposta inflamatória nos vasos sanguíneos, mais especificamente nas artérias coronárias, que ficam no coração, e nas artérias cerebrais. “Essa resposta inflamatória promove a formação de partículas oxidativas dentro do vaso sanguíneo, levando à obstrução parcial ou total dele e culminando no infarto agudo do miocárdio e no acidente vascular encefálico, respectivamente”, explica.

OUTROS RISCOS

Além desses, o tabagismo, a hereditariedade, o estresse e a obesidade são outros fatores de risco para as doenças cardiovasculares. “Um hipertenso que não se trata tem a expectativa de vida reduzida em 16,5 anos. Um diabético tem cinco vezes mais risco de sofrer infarto e problemas circulatórios. Para cada 1mg de colesterol além do limite normal, o risco de infarto se eleva 2%. É importante avaliar que, muitas vezes, as pessoas têm mais de um desses problemas. Nesses casos, o risco é multiplicado”, aponta o cardiologista Marcus Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Ele também reforça que a hereditariedade é um dos fatores importantes para o aparecimento de doenças do coração, e, por isso, é importante adotar um estilo de vida saudável e sempre se prevenir. “A prevenção e o tratamento são as principais armas para uma vida melhor e mais duradoura.”

O especialista diz que o Brasil também apresenta índices alarmantes em relação ao número de pacientes que não seguem adequadamente os tratamentos indicados pelos médicos. De acordo com ele, apenas 20% dos hipertensos, diabéticos, pessoas com colesterol elevado e com outras doenças cardíacas se tratam de forma regular, utilizando todos os medicamentos prescritos diariamente. “Isso quer dizer que grande parte da população que tem esses fatores de risco estão sob constante risco, apesar da disponibilidade de tratamentos, muitos dos quais fornecidos gratuitamente pelos programas governamentais”, expõe. “No Brasil, morrem 350 mil pessoas por ano por doenças cardiovasculares. É como se, a cada dia, quatro aviões comerciais lotados caíssem e não deixassem sobreviventes. O mais importante é que mais da metade dessas mortes poderia ser evitada ou adiada em muitos anos, com tratamentos simples, o que não vem ocorrendo” finaliza.

 

Fatores de risco: como preveni-los?

 

1 - COLESTEROL

O excesso de colesterol no sangue é prejudicial e aumenta o risco de desenvolver doenças cardiovasculares.

COMO EVITAR

» Uma alimentação rica em fibras ajuda a reduzir as taxas de colesterol
» Uma vida menos estressada diminui o risco de infarto e reduz o colesterol
» A prática de exercícios físicos reduz os níveis de colesterol no sangue

2 - HIPERTENSÃO ARTERIAL

É a principal causa de morte no mundo, podendo favorecer uma série de outras doenças.


COMO EVITAR

» Previna-se desde cedo! A incidência da hipertensão aumenta com a idade
» A hipertensão não tem cura, mas pode ser controlada com tratamento. Procure seu médico
» A prática de exercícios físicos contribui para o controle da pressão arterial
» Atenção! Pressão arterial acima de 14 por 9 caracteriza o estágio 1 da hipertensão

3 - TABAGISMO

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo é considerado a principal causa de morte evitável em todo o mundo.

COMO EVITAR

» Pare de fumar. É normal que, ao parar de fumar, os primeiros dias sem cigarros sejam os mais difíceis, porém, as dificuldades tendem a diminuir a cada dia. Se for preciso, procure ajuda médica

4 - DIABETES

Síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos, causando aumento da glicose (açúcar) no sangue.


COMO EVITAR

» Praticar exercícios físicos ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue
» Mantenha um bom plano alimentar para evitar o risco de diabetes
» Controle a glicemia antes e depois da prática de exercícios e perceba os benefícios

5 - ESTRESSE

Caracterizado por sensações de medo, desconforto, preocupação, irritação, frustração, indignação, nervosismo, a causa para o estresse muitas vezes pode ser desconhecida.

COMO EVITAR

» Faça atividades físicas, mentais e recreativas
» Respire de forma lenta e profundamente
» Tenha alimentação rica em cereais integrais, vegetais e frutas

6 - SEDENTARISMO

Caracterizado pela falta ou a diminuição da atividade física, o sedentarismo atinge órgãos vitais e impacta diretamente na saúde dos músculos e ossos.

COMO EVITAR

» Praticar exercícios ajuda a manter ossos, músculos e articulações saudáveis
» Prefira escadas a elevadores: pequenas mudanças diárias trazem benefícios à sua saúde
» Combine uma alimentação equilibrada à prática regular de atividades físicas

Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia – SBC