A nova diretora afirma que o acesso universal à saúde criado pelo Brasil e outras nações serve como inspiração para novas políticas de acesso a medicamentos contra doenças. Segundo ela, a OMS aprendeu várias lições positivas com os programas de acesso a tratamentos antirretrovirais contra HIV/Aids.
Um dos debates mais fortes se refere aos preços de remédios, especialmente para o combate à Aids, uma luta que a brasileira já enfrenta desde seu cargo no Ministério da Saúde, em Brasília. Foi justamente a experiência brasileira de distribuir remédios aos pacientes de HIV pelo SUS que levou a comunidade internacional a adotar a mesma estratégia. Hoje, a Unaids estima que cerca de 53% das pessoas vivendo com o vírus HIV no mundo - 19,5 milhões - tenham acesso a terapias antirretrovirais. Em 2010, esse número era de apenas 7,7 milhões.
Para Mariângela Simão, que tem 30 anos de experiência na área de saúde e políticas públicas, o sucesso de programas contra o HIV/Aids deve ser uma fonte de inspiração para tornar medicamentos contra outras doenças também acessíveis a quem precisa.
"Eu diria que a gente aprendeu muitas lições, como o acesso como direito, uma maior transparência nos preços, em ter ajuda internacional para compra de medicamentos. Apesar de o problema da Aids não ter sido resolvido na sua totalidade, ele está caminhando na direção certa. Isso a gente não vê, por exemplo, com as doenças que a gente chama de crônico-degenerativas. A gente não vê o mesmo acontecendo com medicamentos essenciais, como, por exemplo, para pressão alta e para outra grande causa da mortalidade, que são os diferentes tipos de câncer."
Mariângela Simão defende também o aumento de mais medicamentos genéricos no mercado. Segundo ela, a competição é útil. A nova diretora afirmou que trabalhará de perto com os governos e parceiros dos países de língua portuguesa, especialmente na relação de qualidade dos medicamentos. Mariângela é formada em medicina pela Universidade Federal do Paraná, onde fez residência médica e obteve o título de especialista em pediatria e saúde pública. Além disso, é mestre em saúde materno-infantil pela Universidade de Londres (Reino Unido).
Paridade de gênero
A médica brasileira integrará uma equipe de liderança da Organização Mundial da Saúde que tem 60% de mulheres, uma taxa que ultrapassa as metas de paridade de gênero promovidas pela própria organização. Ela elogiou a decisão do diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, de nomear mais mulheres para os postos de liderança, e disse que a medida é justa e acertada.
"É um avanço. E o secretário-geral, António Guterres, um companheiro dos países de língua portuguesa, tem colocado isso como uma prioridade para o sistema ONU.
A paridade de gêneros para cargos de liderança nas Nações Unidas é uma das prioridades do secretário-geral, António Guterres, anunciada antes mesmo de ele assumir o posto, em 1º de janeiro deste ano. O plano de Guterres é implementar a paridade em todos os postos-chave até 2021 e expandir a medida para toda a organização até 2028..