OMS registra 25 milhões de abortos inseguros por ano

Eles correspondem a 45% de todas as interrupções de gestação

11/10/2017 14:59
Enrique Marcarian/Reuters
Marcha contra a criminalização do aborto: mulheres ficam mais vulneráveis (foto: Enrique Marcarian/Reuters)

Em todo o mundo, 25 milhões de abortos inseguros - correspondentes a 45% de todas as interrupções de gestação - ocorreram anualmente entre 2010 e 2014, segundo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Guttmacher, publicado na revista The Lancet. Desses procedimentos, 97% foram feitos em países em desenvolvimento da América Latina, África e Ásia.

Pela primeira vez, o estudo, que fornece estimativas sobre abortos seguros e inseguros globalmente, inclui subclassificações dentro desta segunda categoria: menos segura e nada segura. A distinção permite a compreensão mais detalhada das diferenças circunstanciais do aborto entre mulheres incapazes de ter acesso a abortos realizados por profissionais treinados.

Quando a interrupção da gravidez é feita de acordo com as recomendações da OMS, o risco de complicações severas ou de morte é praticamente zero. Aproximadamente 55% de todos os abortos de 2010 a 2014 foram conduzidos dessa forma, o que significa que foram realizados por profissionais de saúde, com métodos apropriados. Quase um terço (31%) dos procedimentos foram “menos seguros” - ou foram conduzidos por uma pessoa treinada que usou métodos inseguros/ultrapassados, ou por leigos utilizando meios seguros, como medicamentos que induzem o aborto.

Cerca de 14% das interrupções foram “nada seguras”, realizadas por pessoas sem treinamento que usaram métodos perigosos, como introdução de objetos (agulhas de tricô, por exemplo) ou uso de misturas de ervas. Mortes decorrentes dos procedimentos foram altas em regiões em que a maior parte dos abortos ocorreu nessas circunstâncias. As complicações incluem aborto incompleto (falha em remover todo o tecido gestacional do útero); hemorragia; danos vaginal, cervical e uterino; além de infecções.

Peso das leis

O estudo também investigou os contextos que resultam, normalmente, da busca de abortos inseguros, incluindo leis e políticas nacionais, disponibilidade de serviços e de profissionais treinados e atitudes da sociedade em relação ao aborto. Em países em que o procedimento é completamente banido ou permitido apenas para salvar a vida da mulher, uma em quatro interrupções da gestação é segura; já nos locais onde a prática é legal ou engloba mais situações, cerca de nove em 10 abortos são feitos de forma apropriada. No Brasil, o aborto somente não é crime quando há risco de morte à mulher, nos casos de gravidez decorrente de estupro e quando o feto é anencéfalo.

Entre as regiões em desenvolvimento, a proporção de abortos seguros no Leste da Ásia é similar à de locais economicamente desenvolvidos. No Sul/Centro/Sudeste asiático, porém, menos de um em cada dois procedimentos é seguro. Na África, menos de um em cada quatro é feito de maneira apropriada. Na América Latina, quase todos os abortos são categorizados como “menos seguros”: as mulheres da região conseguem obter medicamentos abortivos, mas fazem uso sem supervisão de um profissional adequado.