Tecnologia e nova legislação abrem perspectiva para pessoas que sonham, mas não conseguem ter filhos

Para quem já passou dos 40 anos, foi diagnosticado com doenças que afetam a fertilidade ou vive uma relação homoafetiva, o panorama começa a mudar no país e fica mais favorável para a geração de filhos nas diferentes situações

por Laura Valente 26/09/2017 13:00
Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Anna Sylvia Vidigal Andrade, de 49 anos, mãe de Miguel, de dois meses (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )

"A vida é uma caixinha de surpresas: por mais que a gente tente fazer planos e realizar projetos, ela nos surpreende o tempo todo”, diz Anna Sylvia Vidigal Andrade, economista, ao abordar a própria relação com a maternidade, sonho realizado há pouco, aos 49 anos.

Mãe de Miguel, bebê de dois meses, Anna é um exemplo de que a medicina reprodutiva pode ajudar mulheres como ela, que adiaram a gravidez por diversos motivos.“Estava com 40 anos, casada com um homem que já era pai e não queria mais filhos, quando perdi uma pessoa muito próxima. Ali, senti um baque muito grande, comecei a rever minhas escolhas. Nesse processo, tive o insight de estimular a ovulação e congelar uma reserva de óvulos. Na época, ainda avaliava a decisão da maternidade, mas surgiu o desejo de preservar a minha fertilidade, pois ninguém sabe o que esperar do dia de amanhã. É como disse, a vida nos surpreende o tempo todo”, declara.

Anna contou com a orientação do ginecologista, que já a provocava nas consultas em relação à atenção para a idade. Foi o médico quem indicou a clínica especializada em medicina reprodutiva, há oito anos. “Imagine que eu nem sabia ao certo que em BH havia a possibilidade de congelar óvulos, um procedimento que conheci e hoje avalio como supertranquilo. Fiz o tratamento durante o qual vivi normalmente e consegui guardar 15 óvulos. Apenas a punção para a extração é feita no bloco cirúrgico, com anestesia e sedação, técnica que também considerei tranquilíssima”, conta.

Cinco anos após aquela decisão, o primeiro casamento de Anna acabou. Mais uma vez, no entanto, uma surpresa: um tempo mais tarde, ela conheceu o atual marido, com quem teve o filho, fruto de fertilização in vitro (FIV). “Engravidamos na segunda tentativa e experimentei uma gestação muito feliz, normal, passei bem. Tomei até refrigerante, fiz umas travessuras”, diverte-se.

Ela conta ainda que o bebê nasceu saudável, está grande, passa muito bem. “Recebi uma torcida enorme de amigos, parentes e até mesmo de pessoas apenas conhecidas. Todos vibraram com o fato de eu realizar um sonho. A comoção dos meus amigos e da minha família foi tão grande que praticamente não comprei enxoval, todo mundo quis participar e celebrar o nascimento do Miguel. E imagine que cheguei a pensar que eu não seria mãe, o que causou uma frustração enorme, pois sempre gostei de criança. Por isso, reforço: mesmo em momentos difíceis, em que tudo indica que algo não vai acontecer ou é impossível, precisamos enxergar a possibilidade do inesperado, de uma reviravolta. Então, se deixarmos de tomar uma decisão avaliando apenas o presente ou tentando encaixar tudo aquilo que planejamos, podemos nos enganar e perder oportunidades”, analisa.

HORA CERTA

Inspirada pela própria história, Anna deixa um recado para as mulheres, mesmo àquelas que ainda não planejam uma gravidez ou não têm certeza sobre a maternidade. “A hora certa não existe. Ficamos querendo planejar nossas vidas, imaginando etapas: formar, casar e ter filhos. E quando a coisa não ocorre como o planejado as pessoas ficam frustradas. Então, indico a todas as mulheres que tenham cuidado com a saúde reprodutiva, que prestem atenção ao passar do tempo e não tenham dúvida em congelar óvulos antes de atingir a idade limite. Assim, é possível deixar a vida acontecer sem tanta pressão.”

Como Anna, muitas pessoas enfrentam dificuldades para gerar um filho, mas a boa notícia é que para muitas delas já há possibilidades de solução. Isso porque os avanços da medicina reprodutiva mostram que mesmo diante de empecilhos, como idade avançada, mulheres solteiras, casais homossexuais ou pessoas que recebem diagnóstico positivo para doenças que podem afetar a fertilidade, como câncer e Aids, podem, sim, realizar o sonho e receber a esperada visita da cegonha.