Jogo de realidade virtual pode ajudar a diagnosticar o Alzheimer

Game avalia, por meio da diversão, a capacidade de memorização e orientação das pessoas, entre outras habilidades

12/09/2017 14:05
Patrick Hertzog/AFP - 18/10/16
Incidente na velhice, a doença compromete a memorização e a orientação (foto: Patrick Hertzog/AFP - 18/10/16)
O desafio é passar por labirintos, desviar-se de tiros e fugir de monstros marinhos. Sem correr riscos e com todos os outros atrativos da realidade virtual. Por si só, a experiência chama a atenção, e pesquisadores britânicos acoplaram mais um atrativo a ela: a possibilidade de o jogador saber se tem os primeiros sinais relacionados ao surgimento do Alzheimer. O combo de benefícios vem do jogo eletrônico Sea Quest Hero, que, no meio da diversão, avalia, a capacidade de memorização e de orientação dos participantes, entre outras habilidades.

Um dos primeiros sintomas do Alzheimer é a perda do senso de orientação. Porém, são poucas as ferramentas capazes de comparar as capacidades cognitivas em diferentes estágios da vida, uma lacuna que o Sea Quest Hero, lançado em agosto, pretende preencher. Os desenvolvedores - da Deutsche Telekom, da organização beneficente britânica Alzheimer’s Research UK, da University College London e da Universidade de East Anglia - classificam o jogo como “mais amplo estudo sobre a demência de toda a história”.

O rótulo justifica-se, segundo eles, por resultados alcançados com a versão para smartphones do jogo, lançada em 2016 e baixada cerca de 3 milhões de vezes em 193 países. Quando uma pessoa joga durante dois minutos, é possível coletar a mesma quantidade de dados referentes às habilidades comprometidas pelo Alzheimer em quase cinco horas de um exame de laboratório tradicional.

“Isso nos deu uma quantidade enorme de informação e, realmente, nos permitiu entender como homens e mulheres de diferentes idades navegam pelo jogo”, diz David Reynolds, coordenador de pesquisas no instituto Alzheimer’s Research UK. A doença neurodegenerativa afeta mais as mulheres do que os homens, mas acredita-se que essa diferença na incidência ocorra, em parte, porque as mulheres vivem mais.

Prevenção

David Reynolds explica que, ao longo das partidas, é preciso recorrer a partes diversas do cérebro. “No jogo, as diferentes partes do cérebro são utilizadas de maneira diferente, conforme o tipo de demência. Isso também nos permite vincular o que uma pessoa faz ao que acontece no cérebro dela”, explica.

A versão de realidade virtual permitirá o acesso a novos dados. “Com essa tecnologia, conseguiremos detectar para onde a pessoa está olhando, assim como para onde está indo. Então, nós sabemos se as pessoas estão perdidas e como se comportam nessas situações (...) Cada um desses experimentos nos ajuda a obter dados sobre orientação espacial”, diz Lauren Presser, um dos criadores.

Para David Reynolds, além de identificar sinais precoces do Alzheimer, o jogo pode ser usado como uma ferramenta de prevenção. “Sabemos que manter nosso cérebro apto e ativo, como também o corpo apto e ativo, é algo bom e que ajuda a reduzir o risco de demência ou a desacelerar sua progressão”, justifica.

O Alzheimer é a forma mais comum de demência e acomete quase 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Sao raros os casos em que a doença neurodegenerativa surge antes dos 65 anos e, ao longo da terceira idade, ela vai ficando mais frequente. Cerca de 13% das pessoas com 65 anos ou mais e cerca de 45% dos indivíduos com mais de 85 anos têm Alzheimer, segundo o Manual Merck de Informação Médica. O Ministério da Saúde estima que, no Brasil, 1,5 milhão de pessoas são diagnosticadas com a doença.

"No jogo, as diferentes partes do cérebro são utilizadas de maneira diferente, conforme o tipo de demência. Isso também nos permite vincular o que uma pessoa faz ao que acontece no cérebro dela”

David Reynolds, coordenador de pesquisas no instituto Alzheimer’s Research UK e um dos desenvolvedores do Sea Quest Hero