Cadência quente, corpo colado e movimentos rápidos na dança de conexão. Na kizomba, simplicidade ganha espaço em meio a passos curtos e pequenas marcações. Quem dança o ritmo de origem africana sabe que é necessário muito mais que animação para que o balanço fique perfeito - é preciso estar conectado com o parceiro ou parceira, mas, principalmente, sentir as batidas da música. Segundo o professor de dança Hugo Fellipe, de 25 anos, também conhecido como Toru, essas são as características mais marcantes do ritmo.
A kizomba teve origem na década de 1980 e, desde então, ganha adeptos que se interessam em conhecer mais a cultura afro e se movimentar. Termo derivado do kimbundo, que significa festa, está intimamente ligada às festividades do povo africano, que misturou vários ritmos musicais, como o semba e o zouk, e passos de dança acompanhados de instrumentos de percussão para chegar ao resultado visto hoje. Mas não se engane, apesar de poder ser dançada com músicas semelhantes às do zouk, a kizomba não é nada parecida: é executada em três bases, com deslocamentos para frente e para trás, sempre a partir da saída da dama. “Um diferencial desse ritmo é a tarraxinha, momento em que o casal se fecha, sente a dança e aproveita a melodia”, explica o professor.
Toru é professor de dança há 13 anos e dá aula de kizomba desde 2011.
Para Hugo, o especial do ritmo é estar preocupado apenas com a melodia e com o parceiro. “É uma dança muito introspectiva, de casal, mas, ao mesmo tempo, traz muito da cultura africana, essa questão de ser família, da amizade e diversão.”
Quando não há experiência, segundo o professor, o aprendizado vem de maneira mais simples – como não existem “vícios” de outros ritmos, entender que a dança é feita sem os conhecidos contratempos pode ficar mais fácil. Para o cantor Marvin, de 29, a intimidade com a kizomba foi instantânea. Apesar de praticar zouk, uma aula experimental no ritmo africano já conquistou de maneira especial. “Como tenho contato com a música, acho importante também ter com a dança. São três meses de aula e muita paixão pelo ritmo”, comenta. A dança de casal espanta a timidez e solta o quadril de qualquer um. “É preciso se permitir.”
Quem também se interessou pela kizomba a partir do contato inicial com o zouk foi Gabriela Chaves, de 27.
Corpo todo trabalhado
O ritmo pode ser dançado de três maneiras: passada - estilo clássico -, tarraxinha e quadrinha. Existe, ainda, uma outra modalidade da kizomba, conhecida como acrobática, normalmente executada por dois homens. Independentemente do estilo do ritmo, é essencial ter bastante flexibilidade nos joelhos, uma vez que movimentos verticais são frequentemente alternados com o sobe e desce das pernas.
A relação da enfermeira e também professora de dança Daniele Viegas, de 31, com a kizomba é um pouco diferente. “Sempre falo que eu não escolhi a kizomba, e sim, que ela me escolheu. A kizomba vai além de passos, é sentimento, é alegria, é a representação da cultura africana e toda a sua história”, afirma.
Daniele e Felipe explicam que a dança, por focar em aspectos como postura e transferência de peso, trabalha todas as áreas do corpo. “A parte que ganha mais destaque é da cintura para baixo. Mas, para manter a postura que a dança exige, trabalhamos todo o corpo.” Para Hugo Toru, os movimentos exploram as áreas do quadril, para a mulher, e do tronco, no caso do homem.
A bancária Débora Resende, de 48, procurou a dança justamente com esse propósito: exercitar diversos pontos do corpo. Ela, que sempre foi apaixonada por esportes, encontrou no ritmo uma atividade diferente e animada, na qual foi possível aliar os movimentos e a socialização nos momentos de aula, que ocorrem duas vezes por semana. “Acho importante trazer essas danças para a gente. É uma troca muito especial de culturas.”.