O compartilhamento de textos e imagens é uma das ferramentas mais usadas nas redes sociais, e o fato de alguns conteúdos despertarem mais atenção dos usuários do que outros aguçou a curiosidade de cientistas norte-americanos. A equipe decidiu investigar o papel do cérebro na escolha do que pode viralizar na internet e descobriu que áreas ligadas à autoimagem e à apreciação fazem parte desse processo. O estudo foi divulgado recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas) e, para os autores, pode ajudar a entender um pouco mais sobre os mecanismos de seleção feitos pelo cérebro humano.
“O compartilhamento de informações é uma maneira importante pela qual nos influenciamos mutuamente. Estamos muito mais propensos a acreditar e a lembrar daquilo que falamos com os nossos amigos do que de algo que recebemos apenas a partir de meios de comunicação de massa”, explica ao Estado de Minas Christin Scholz, pesquisadora da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e uma das autoras do estudo.
No experimento, a investigadora e os colegas utilizaram aparelhos de ressonância magnética para medir, em tempo real, a atividade cerebral de 40 voluntários – estudantes com idade entre 18 e 24 anos – enquanto eles liam manchetes e resumos de 80 artigos sobre saúde publicados no jornal americano The New York Times. Os participantes foram orientados a ler e a avaliar se compartilhariam os artigos, que abordavam temas como nutrição, atividades físicas e vida saudável. Todos tinham a mesma quantidade de palavras.
A equipe concluiu que, ao ser lido, o texto classificado como viral – bastante compartilhado – provocava maior atividade em uma área cerebral ligada à apreciação.
Outra região que também mostrou alta atividade durante o experimento foi a área cerebral ligada ao pensamento autorrelacionado, quando um indivíduo se preocupa com o que os outros pensam dele. “Acreditamos que os leitores consideram tanto o fator autorrelacionado - por exemplo, 'essa partilha vai me fazer parecer positivo, inteligente, amigável?' - quanto as consequências sociais - 'esse compartilhamento vai me levar a uma boa conversa? Meu amigo vai gostar ou odiar isso?”, ilustra Christin Scholz.
VALOR SOCIAL
Apesar de a amostra de participantes ter sido pequena, os pesquisadores acreditam que o resultado pode se repetir em grupos de tamanho mais significativo. “Se podemos usar um pequeno número de cérebros para prever o que um grande número de pessoas que leem um jornal estão fazendo, isso significa que coisas semelhantes podem ocorrer com outras pessoas. O fato de que os artigos atingem o mesmo acorde em cérebros diferentes sugere que motivações similares e normas semelhantes podem estar conduzindo esses comportamentos. Coisas semelhantes têm valor em nossa sociedade mais ampla”, ressalta a autora.
Graziela Furtado Scarpelli Ferreira, coordenadora do curso de psicologia do Centro Universitário Iesb, de Brasília, avalia que o estudo traz constatação científica para fenômenos observados no dia a dia. “Agora, temos a prova de estímulo dessas áreas pela imagem, e é interessante observar como a autoavaliação é algo que pesa nessa escolha. Ela está ligada ao impacto social, não só me preocupo com o que eu posto, mas também com o que os outros também pensam de mim. O que está muito ligado à imagem que a pessoa quer refletir para que ela se encaixe no grupo social que tem preferência”, diz a especialista, que não participou do estudo.
Segundo ela, há pesquisas que tratam de um tema semelhante e há pouco tempo tratado pela ciência, o neurônio espelho.