Entidade procura voluntários para apoio a mulheres com câncer de mama

Projeto Dedicação quer reunir pessoas para ajudar pacientes durante o tratamento. Inscrições estão abertas e capacitação será feita neste sábado em Belo Horizonte

por Joana Gontijo 31/03/2017 14:27
Reprodução/Internet/estarbemaos40
(foto: Reprodução/Internet/estarbemaos40)

Conviver com a dor e o inesperado, lidar com a possibilidade do fim, lutar pela vida além do sofrimento. Doença que atinge muitas mulheres no Brasil e no mundo, o câncer de mama assusta. Além das mazelas físicas, as pacientes que descobrem a enfermidade têm com essa experiência também as incertezas e inseguranças sobre o futuro, e acabam também precisando de um apoio que ultrapassa o tratamento convencional. É a busca por usufruir um dia após o outro sem que o mal destrua a possibilidade de continuar sendo feliz.

Um projeto exemplar em Belo Horizonte está atento às mulheres que passam pelo problema e capacita voluntários para acompanhar quem recebe o diagnóstico durante o período terapêutico. A legislação sobre o tema atualmente no Brasil estabelece prazo máximo de 60 dias, a partir da descoberta da doença, para que as pessoas iniciem o processo de tratamento pelo Sistema Único de Saúde, o que acaba deixando a paciente ainda mais aflita. O Projeto Dedicação, da Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (Asprecam), procura amenizar essa situação.

Sem o trabalho dos voluntários a iniciativa não poderia ter tanto êxito. O corpo solidário atua como um ombro amigo, no sentido de apoiar as pacientes assistidas com informações pertinentes, além de um amparo emocional e psicológico. Outro objetivo é motivar as mulheres para que se mantenham confiantes e cumpram todas as etapas do tratamento.

Com necessidade de ter mais colaboradores, a instituição convoca pessoas do bem para se engajar nessa importante causa. Neste sábado, 1º de abril, entre 9h e 17h, na Fundação Dom Cabral, unidade Santo Agostinho, a Asprecam promove a capacitação de novos voluntários. Se você quer entrar nesse time de peso e ajudar quem precisa com carinho e dedicação, participe! Muito mais do que ajudar os outros, a empreitada é certeza de fazer quem se torna amigo dessas mulheres também alguém muito mais feliz. As inscrições podem ser feitas pelo emai danusa@mamamiga.com.br.

Histórias de superação e solidariedade

A convivência com o câncer de mama começou em 2011, quando ela tinha 46 anos. Raquel Simplício recebeu a notícia por acaso, um mês depois de passar por uma cirurgia neurológica por causa de um aneurisma. Raquel conta que este foi um divisor de águas na história de sua vida. Depois da sensação inicial que misturava sentimentos e reações, ora negativos, ora encarando a doença como um desafio, com um comportamento de estranhamento, ela entrou, conta, em um período de posicionamento. "Assumi o tratamento com muita determinação, pois estava ciente que seria longo e exigiria de mim tolerância e aceitação. Enfim, a capacidade de resiliência", diz.

Raquel logo recebeu o apoio do marido, da família, dos amigos, colegas de trabalho e dos médicos, que se uniram para tentar fazer com que ela passasse por essa fase sem negatividade. Com fé e um desejo absoluto em continuar viva, ela enfrentou duas cirurgias, seis sessões de quimioterapia, 20 de radioterapia e, neste ano, espera completar o ciclo e receber alta do processo de medicação oral.

Agora, ela é uma das voluntárias do Projeto Dedicação, e tem orgulho do trabalho que considera algo nobre e gratificante de participar. Raquel lembra que acompanhar um paciente com câncer é complexo, já que a doença deixa emergir as infidelidades da vida, da história que se constrói a cada dia. Para Raquel, a palavra de ordem é resiliência, "diante da vida que tanto atrai, mas também trai".

A questão é procurar entender e fazer o melhor possível diante do que nos é apresentado. "Procurar ser feliz e não deixar que o sofrimento nos molde. Descobrir a capacidade de ir além e sempre próximo das pessoas. Solidariedade é um presente que só é bom quando compartilhamos com carinho e sabedoria", declara.

Para a voluntária, fazer parte do Projeto Dedicação é praticar o conhecimento que adquiriu e contina adquirindo convivendo com o outro e suas experiências de vida. "É saber e reconhecer que viver tem mais sentido junto ao próximo, principalmente, com aqueles que aceitam e convivem com a dor, que muitas vezes se apresenta de forma desafiadora e solitária. É uma atitude que exige a crença de que tudo pode ser diferente e melhor para mim e para o outro. É não ter medo de chorar e celebrar as conquistas alheias, mas que também são suas", pontua Raquel.

Ao fim, continua, fica certo que é preciso aceitar os desafios com positividade, lutar com determinação, não curvar diante do sofrimento. Deixar de lado os estereótipos que envolvem situações difíceis, além de continuar atento aos sinais do corpo. "Perder os cabelos, parte da mama, tempo de trabalho, conviver com a dor e o inesperado não foram suficientes e fortes para apagar a minha alegria de celebrar a vida. Não subestimei o câncer de mama, apenas não o aceitei como sentença de morte", completa.