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Lesão no joelho afeta o cérebro

Problemas no ligamento cruzado anterior alteram o processamento cerebral dos movimentos, indica estudo de universidade norte-americana. Testes com pacientes mostram que a condição pode comprometer as técnicas de reabilitação

Correio Braziliense
O comprometimento da articulação é comum em atletas profissionais e de fim de semana: recuperação demorada - Foto: Emmanuel Dunand / AFP


Lesões no joelho  - comuns em esportes de alto impacto, como o futebol - costumam levar um longo tempo para curar-se. O paciente fica com o movimento comprometido e precisa ser submetido a sessões de fisioterapia para retomar o funcionamento normal da articulação. Uma das causas para a demora na recuperação é a complexidade da estrutura do joelho, além do uso constante dele. Porém, pesquisadores da Ohio State University, nos Estados Unidos, descobriram um novo fator que deve ser levado em conta no tratamento dessas lesões: elas causam mudanças na atividade cerebral.

O estudo foi publicado neste mês, na revista Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, por pesquisadores do Centro Médico Wexner, integrado à Ohio State. Eles demonstraram que partes do cérebro associadas ao movimento da perna estavam debilitadas em pacientes com lesões no ligamento cruzado anterior (LCA). Por meio de exames de imagem, a equipe detectou diferenças na atividade cerebral entre adultos saudáveis e em recuperação enquanto moviam o joelho.

“O cérebro muda fundamentalmente o modo como processa informações de um joelho lesionado”, disse Dustin Grooms, um dos pesquisadores que conduziram o estudo. “Achamos que essas mudanças têm um papel fundamental no porquê de as pessoas em recuperação de ferimentos não confiarem inteiramente em seus joelhos e tenderem a movê-los de maneira diferente”, complementou.

Exames de varredura no cérebro mostraram que, ao se locomover, em vez de confiar no movimento ou na sua noção espacial, os voluntários lesionados apostavam mais na visão, gerando um movimento menos natural e instintivo do que o feito por aqueles que não tinham sofrido lesões no joelho. “É como andar no escuro.
Você não faz tão rápido ou com tanta confiança”, ilustrou Jimmy Onate, pesquisador em saúde e reabilitação no Centro Médico Wexner. “Esses indivíduos podem estar fazendo a mesma coisa. Não se movem com muita confiança e usam constantemente informações visuais do mundo ao redor, quando na verdade eles não precisam disso.”

Novos tratamentos
A dependência constante da visão para se mover pode causar complicações, principalmente em esportes complexos. Indivíduos que sofreram a lesão e tentam voltar à ativa têm de 30 a 40 vezes mais chance de lesionar pela segunda vez o ligamento, comparadas aos praticantes da mesma atividade que nunca feriram o joelho, alertam os pesquisadores. “Um grande problema é que as pessoas voltam a jogar ou retornam as suas atividades habituais após uma concussão, mas não há uma boa medida para saber se o cérebro delas voltou ao normal. Estamos tentando desenvolver uma medida usando imagens cerebrais”, contou Grooms, em comunicado.

Para ajudar no tratamento, terapeutas têm usado óculos estroboscópicos, que incluem o aprendizado e compensações visual-motoras na reabilitação. As lentes causam uma sensação de descontinuidade nos movimentos observados, forçando o usuário a prestar atenção no que vê. “A ideia dos óculos é distrair visualmente os pacientes a fim de que seu cérebro volte ao estado original”, disse Grooms. “Isso permite que eles movam novamente o joelho com base no instinto natural, em vez de depender de pistas visuais.”

Outra linha de pesquisa é o uso de realidade virtual. Como um avatar, a tecnologia captura e registra o movimento de um paciente a fim de melhorar as habilidades de andar, correr e reduzir os riscos de lesões. “Verificamos que é preciso muito pouco para alterar o sistema nervoso, e isso pode acontecer muito rapidamente. Nós sabemos como o cérebro muda com a lesão. Agora, a próxima fase é ver se podemos corrigi-lo com mais reação ou treinamento cognitivo”, adiantou Grooms.

Rotação protegida
Trata-se de uma das partes do joelho que mais sofrem lesões.
Segundo a Sociedade Americana de Ortopedia, 150 mil lesões do ligamento cruzado anterior acontecem por ano nos Estados Unidos. Localizado no interior da articulação, o ligamento prende-se à tíbia e ao fêmur e protege o joelho durante movimentos de rotação. O método mais utilizado para tratar esse tipo de ferimento é a cirurgia, mas a estrutura não costuma cicatrizar de forma adequada, o que pode afetar o movimento do paciente.
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