O experimento, com porcos, foi descrito na edição desta semana da revista Science Translational Medicine. A ideia é que o modelo possa servir para diversos medicamentos, mas, no teste, os pesquisadores investiram na ivermectina, droga utilizada para combater infecções parasitárias, além de ser indicada para o tratamento de malária em locais em que a enfermidade é endêmica, como a Região Norte brasileira e a África Subsaariana.
Os pesquisadores descobriram que, em modelos animais grandes, a cápsula permanece em segurança no estômago, liberando a droga por até 14 dias, surgindo, assim, como uma potencial forma de combater a malária e outras doenças infecciosas com disseminação preocupante. Só a malária, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ameaça metade da população mundial, o equivalente a 3,2 bilhões de pessoas.
“Nós queremos tornar o mais fácil possível para as pessoas tomarem seus medicamentos. Quando os pacientes têm de lembrar de tomar uma droga todos os dias ou várias vezes ao dia, começamos a ver menos adesão ao regime. Ser capaz de engolir uma cápsula uma vez por semana ou por mês pode mudar a forma como pensamos sobre a ingestão de medicamentos”, diz Giovani Traverso, um dos autores e gastroenterologista da Faculdade de Medicina de Harvard e do Hospital Brigham and Women de Boston.
Pequena
“Além de melhorar a adesão, nosso sistema de longa ação pode reduzir os efeitos adversos e melhorar a eficácia da droga”, complementa Andrew Bellinger, primeiro autor do trabalho e cardiologista do Hospital Brigham and Women de Boston.
Segundo os pesquisadores, os ensaios clínicos com humanos devem começar no ano que vem. De acordo com o pesquisador Robert Langer, também do MIT, o sistema poderá ser usado para o enfrentamento de doenças diversas. Há, por exemplo, o projeto de usá-lo no tratamento de transtornos neuropsiquiátricos, HIV, diabetes e epilepsia. “Até agora, as drogas orais quase nunca duravam mais de um dia. Isso realmente abre a porta para sistemas orais de ultralonga duração, o que poderia ter um efeito sobre todos os tipos de doenças, como o Alzheimer e problemas de saúde mental” acrescentou.
Bellinger ressaltou, porém, a importância de a solução ser usada para o tratamento de doenças endêmicas, principalmente em regiões em que o controle é dificultado por questões financeiras, estruturais e/ou culturais. “Se o medicamento puder ser eficaz por um longo período de tempo, você poderá melhorar radicalmente a eficácia das campanhas de medicação em massa”, justificou.
Vacinação será iniciada na África
A primeira vacina contra a malária no mundo será usada na África Subsaariana no próximo ano, anunciou a Organização Mundial da Saúde (OMS). A substância obteve êxito na fase três de testes clínicos, feitos com mais de 15 mil lactentes e crianças pequenas em sete países na África Subsaariana. A nova etapa, a imunização, ocorrerá em três países ainda não definidos, sendo que os que participaram dos últimos ensaios terão prioridade. De acordo com as Nações Unidas, a aprovação de US$ 15 milhões pelo Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária garantirá a execução dessa fase..