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Pesquisadores começam a desvendar genes relacionados a características físicas do rosto

Conhecimento pode ajudar a entender problemas de malformação e até mesmo contribuir, futuramente, com a solução de crimes

Vilhena Soares
Atleta de tênis de mesa durante partida nas Olimpíadas do Rio: genes que influenciam distância entre os olhos foram identificados no estudo - Foto: Juan Mabromata / AFP
Há tempos, a ciência tem como certo que características físicas, como os traços da face, têm forte ligação com a genética. São os genes transmitidos de geração para geração que tornam alguns indivíduos de uma mesma família tão parecidos. Apesar dessas certezas, os especialistas ainda não conseguiram apontar os genes específicos responsáveis por diferentes detalhes do rosto humano.

Buscando aumentar o conhecimento sobre o tema, investigadores americanos realizaram um grande levantamento genético a partir de informações de mais de 3 mil pessoas. Os autores do estudo, publicado na revista Plos Genetics, conseguiram encontrar variações específicas diretamente ligadas a traços como o tamanho do nariz, a largura do rosto e a distância entre os cantos internos dos olhos.

Para o grupo de cientistas, ampliar o conhecimento da área é um importante passo para compreender síndromes que afetam o desenvolvimento do rosto e do crânio, como o lábio leporino. No entanto, há poucas investigações nesse sentido. “Houve apenas alguns estudos que visitaram essa questão, e eles têm relatado vários resultados interessantes que mereciam ser aprofundados”, justifica ao Correio Seth M. Weinberg, um dos autores da pesquisa e professor da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.

Para alcançar os resultados, a equipe primeiro analisou a característica facial de3.118 homens e mulheres de ascendência europeia a partir de imagens tridimensionais de suas cabeças. Em seguida, o material genético dos voluntários também foi avaliado, e o conjunto de variações dos genes, comparados com as características físicas.

“Realizamos o que é conhecido como GWAS, que é o estudo de associação do genoma.
Nesse tipo de trabalho, um ou mais traços medidos — no nosso caso, medidas faciais — são testados para ver se existe uma relação estatística com variantes genéticas espalhadas pelo genoma humano”, explica Weinberg.

Foram investigadas 20 medidas faciais e encontradas fortes associações de algumas delas com sete regiões diferentes do genoma (veja algumas delas no quadro). Os resultados de dois estudos semelhantes feitos anteriormente também foram revisados, o que aumentou a confiabilidade dos dados obtidos. “Embora muitas vezes não saibamos exatamente qual gene está envolvido, porque algumas regiões podem conter muitos genes, podemos começar a olhar para os vários genes localizados nas regiões associadas para nos dar uma pista”, diz Weinberg.

Contribuições
Os cientistas destacam que mais estudos precisam ser feitos, já que os resultados representam apenas uma pequena parte de genes que influenciam a feição. “O rosto humano é muito complexo, e há muitas maneiras de capturar informações sobre sua forma. Estamos trabalhando com nossos colaboradores para desenvolver melhores formas de medir as características faciais e aumentar nosso número de dados”, antecipa o autor.

O conhecimento que começa a ser construído, argumenta Weinberg, pode colaborar com a área médica. “Uma melhor compreensão de como os genes contribuem para características faciais pode ajudar a entender as mutações que causam prejuízos e podem resultar em defeitos de nascença”, defende. “No futuro, seria possível usar essas informações para fazer previsões individuais sobre determinadas características e crescimento facial. Tais previsões poderiam ser relevantes para campos como a ortodontia, a de cirurgia reconstrutiva facial e a forense”, completa.

Para Gustavo Guida, geneticista do Laboratório Exame em Brasília, os achados genéticos podem, de fato, auxiliar a medicina e a investigação forense. “É um assunto interessante, que pode contribuir em diversas áreas, como a solução de crimes. O material genético coletado em uma cena poderia ajudar a reconstruir a feição de um criminoso, com uma espécie de retrato falado genético. Outro possível uso seria o de prever a aparência nos dias atuais de uma pessoa desaparecida há muito tempo”, avalia o especialista, que não participou do estudo.

“Muitas dessas variações genéticas também estão ligadas a problemas patológicos. Elas podem ser usadas como pistas também. Existem doenças que não sabemos como são causadas, mas que possuem características físicas específicas.
Essas informações também podem ajudar na compreensão desses problemas”, acrescenta o geneticista..