De repente, Juçara foi tomada por memórias profundas da infância, quando brincava entre as tias italianas, criadas para bordar enxovais. E pensou: “Quem sabe não bordo essas peças?” Assim, ela percebeu como as mulheres têm ciclo e que muitos se perdem, principalmente os que envolvem a convivência em família. “Hoje, muitos sabem do filho pela página do Facebook.
Do vestido, surgiu o manto dos filhos, com recados da mãe da Juçara, que já se foi (dona Alba fez escritos quando estava doente), e os da própria Juçara, que têm significado de 'abraço' e foram criados ao longo do tempo e construídos com as vivências. Paralelamente, a artista desenvolvia a peça Júlia, a memória do futuro, que acabou dando origem à oficina “Desenho bordado”, quando decidiu compartilhar sua experiência com outras mulheres. “Não é um bordado tradicional, mas a oficina trata de um processo de quatro meses de autoconhecimento, de desconstrução, de dar novas crenças e está presente na hora do que faz e não no terminar tudo. É descobrir que o avesso pode ser tão belo quanto o direito, se não tivermos impondo para ele os pontos perfeitos, que é onde nos perdemos na vida.”
O BONITO E O BELO
O “Desenho bordado” é pura intuição, um bordado livre de regras. Juçara Costa ensina que quando nos desbloqueamos e nos desapegamos, a força do universo, que está sempre a nosso favor, nos traz tudo que precisamos por meio da intuição e da criatividade. “Para mim, toda pessoa é criativa e meu trabalho é pousado nessa verdade. Não tenho dúvida da capacidade de criação de cada um. Acredito que a arte ocorre de mãos dadas com a vida, além de estar no palco e nas galerias. Por isso, a metáfora da Júlia, a memória do futuro com os retalhos e os bordados tem a proposta de trabalhar com as mãos do coração.
Juçara Costa enfatiza que, ao voltar às linhas soltas do vestido, nas oficinas, em que a contextualização é que não existem pontos errados, não há o que desmanchar, mas transformar. “Trabalhamos o feminino. Não sei fazer um ponto de bordado tradicional, é pura intuição, mas é a arte mais feminina que existe. E não tem ferramenta mais rica para trabalhar nossos antepassados, que merecem gratidão, além de exaltar a beleza. Mas lembro sempre que, em primeiro lugar, está o maneirismo: existe diferença entre o bonito e o belo. O bonito é o caminho mais fácil, é o bom, o gosto, o que enfeita. E o belo é o caminho do labirinto, o mergulho dentro de si, a expressão genuína. Não desmanchamos pontos, não começamos outra vez, não existe erro, é trabalho de pura vivência. Aquele que entender o bordado, vai entender a ele mesmo.” Assim, por meio da desconstrução, da construção, da renovação, dos desenhos bordados, das linhas, retalhos, miçangas, pinturas, colagens, todos, mulheres e homens, são convidados a uma aventura de descobrimento e resgate do prazer de ser criativo. Para que ficou interessado em bordar a própria história, o contato de Juçara é contato@jucaracosta.com.
O espetáculo
» Júlia ou Jussara
Júlia, a memória do futuro, peça que será exibida quarta-feira, às 20h30, no Cine Teatro Brasil, conta a história de uma mulher mais velha que reconstrói a sua história com delicadeza e bom humor, por meio dos retalhos.