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Se não pode analgésico, terapia

Nova abordagem se mostra promissora para tratar dependentes químicos que sofrem com dores crônicas

A medicação tradicional é contraindicada para esses pacientes, devido ao risco de maior compulsividade por drogas

Estado de Minas
Uso de analgésicos para tratar dor cônica de dependentes químicos resulta na vontade pelas drogas - Foto: CB/D.A Press
É um ciclo perverso: pessoas que tentam superar a dependência química não podem receber tratamento para dor porque os analgésicos mais potentes trazem o risco de mais compulsividade pela droga, fenômeno chamado pelos especialistas de adição. Elas, então, precisam escolher entre continuar a sofrer ou procurar alívio nas substâncias que buscam evitar. Um novo estudo, porém, indica que é possível recorrer a uma abordagem não medicamentosa que combina terapia comportamental e apoio social para ajudá-las a lidar com o problema. De baixo custo, o tratamento é baseado em teorias psicológicas do desconforto físico e poderia, segundo os autores, ajudar o mundo a lidar com o vício em opioides e drogas ilícitas.

A pesquisa, publicada na revista Addiction, foi conduzida com 55 veteranos de guerra por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Segundo os pesquisadores, os pacientes que receberam a terapia para dor enquanto eram tratados para dependência química reportaram menor intensidade na sensação de desconforto, tiveram melhora nas habilidades funcionais e reduziram o consumo de álcool. As intervenções duraram 10 semanas.

“Esses resultados destacam a necessidade de programas de tratamento para adição que ofereçam abordagens multifacetadas, que não se enderecem apenas ao uso das substâncias químicas, mas usem outros fatores que podem estar levando à dependência, incluindo a dor”, diz Mark Ilgen, principal autor do estudo. “Mostramos que é possível melhorar a sensação dolorosa em pessoas com problemas de adição e, inclusive, conseguir alguns efeitos sobre a própria dependência”, afirma.

De acordo com o psicólogo, programas de tratamento de adição geralmente incluem pacientes que sofrem de dor crônica, mas oferecem poucas opções para lidar com isso. “Para piorar, os estudos anteriores de abordagem psicossocial para dor normalmente excluíram pessoas com problemas com drogas ou álcool; os programas de tratamento de dependência não têm profissionais treinados em manejo da dor; e muitos especialistas em dor se recusam a tratar pacientes que também sofrem de adição.
Então, essas pessoas ficam sem opção”, observa.
Todos os 129 pacientes do estudo – a maior parte homens na faixa dos 40 aos 50 anos – estavam recebendo tratamento no Hospital de Veteranos Ann Arbor. Eles foram divididos aleatoriamente em grupos, sendo que um participava do programa ImPAT e o outro foi incluído em grupos de apoio liderados por um terapeuta em que a dor e a adição poderiam ser discutidas.

O ImPAT combina elementos da terapia cognitivo-comportamental com uma abordagem psicossocial chamada terapia de aceitação e comprometimento. Enquanto que, geralmente, elas não são usadas ao mesmo tempo, os psicólogos as aplicam em tratamentos para dor. Ilgan espera que os resultados do estudo levem essas técnicas ao tratamento de dependência química, onde, normalmente, se utiliza a terapia cognitivo-comportamental.

OUTRO FOCO
De acordo com o psicólogo, o ImPAT busca integrar as abordagens para ajudar os pacientes a se focarem menos na dor e mais em outros aspectos da vida. Isso inclui técnicas de adaptação aos estímulos dolorosos, de distração da dor e de meios de levar uma vida funcional face a essa incômoda realidade. “Queremos tirar o foco da dor e colocá-lo no funcionamento, para que as pessoas encontrem formas agradáveis de passar o tempo. Há também uma forte associação entre depressão e dor. A dor responde ao humor e o humor responde ao apoio social”, diz.

Segundo Ilgen, o estudo com os veteranos foi planejado pouco antes do rápido aumento do problema com adição em opioides nos Estados Unidos. Nos últimos anos, o país tem enfrentado uma grave questão envolvendo pessoas que começaram a tomar esses medicamentos para lidar com a dor crônica ou aguda e acabaram se tornando dependentes das pílulas. “Isso faz com que a busca por tratamentos não medicamentosos seja urgente”, observa. O uso desse tipo de analgésico por um período longo pode levar à hipersensitividade à dor, portanto, pode haver uma ligação causal entre o uso dos remédios e os estímulos dolorosos.

“Precisamos estudar abordagens de manejo da dor psicológica em pacientes dependentes de opioides, incluindo aqueles que recebem terapia para adição”, sustenta o especialista. Ao mesmo tempo, ele nota, as pessoas que estão lutando contra a dependência química e buscam alívio para a dor deveriam explorar toda a gama de opções de tratamentos, incluindo atividades físicas e psicoterapia, assim como medicamentos antidepressivos..