As campanhas do Change.org têm como objetivo abordar temas relacionados à discriminação de gênero, violência contra a mulher, representação feminina na política, entre outros. A sugestão do movimento é que os usuários postem uma imagem com cartazes em que dizem o que esperam do futuro do girl power e do feminismo com a hastag #WhatIReallyReallyWant ("o que eu realmente quero", em tradução livre). A ideia é levar as sugestões para líderes mundiais em setembro, no âmbito das Nações Unidas.
Para Clara Daschund, feminista e produtora musical da gravadora norte-americana Sun Studio (conhecido por ser o selo em que Elvis Presley, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis e Carl Perkins começaram suas carreiras), o termo Girl Power é importante por soar mais acessível que "feminismo". "Acho que atinge uma faixa etária em que as meninas e os meninos se deparam com muitas inseguranças e estão formando o caráter e a personalidade", opina. Segundo a produtora, a abordagem precoce do tema é positiva, pois traz à tona as implicações de pertencer ao sexo feminino. "Por meio da educação dada às criancas e pela cultura da nossa sociedade, tentam fazer com que as meninas acreditem que não são tão competentes quanto os meninos. (O girl power) representa, então, o conceito mais básico do feminismo", analisa.
Ester Barreto, pesquisadora no Virgo Game Studios, especializado na produção de games para aprendizagem e impacto social e colunista do site Rock Noize, concorda. Para ela, "a popularização do termo, bem como do significado dele, permite a difusão de discussões e conteúdo extremamente importantes para as causas e questões ligadas à equidade de gênero". Dos anos 1990 para cá, porém, o feminismo mudou. Aos 29 anos, Ester lembra bem da educação "de mocinha" que recebeu: professoras e parentes ensinavam "bons modos", que tipo de roupa usar, como disfarçar a menstruação etc. Hoje, protestos de garotas de 13 anos contra a proibição de shorts em sala de aula, como o que aconteceu em uma escola de Porto Alegre em fevereiro deste ano, enchem a especialista de orgulho. "Não só pela manifestação em si (que é um direito), mas, principalmente, pelos argumentos apresentados, pela consciência de que o corpo, a mente e as decisões são delas e devem ser respeitados sempre."
O vídeo
- Participações da banda britânica M.O., da comediante Taylor Hatala, da cantora nigeriana Seyi Shay e da atriz de Bollywood Jacqueline Fernandez.
- Objetivo: chamar a atenção para a equidade de gênero e promover a discussão da causa feminina entre os líderes mundiais.
O fenômeno Wannabe
O hit das Spice Girls foi lançado em 8 de julho de 1996. Foi o primeiro single das cinco garotas e rapidamente se tornou uma das músicas mais tocadas da década. A música fez parte do álbum de estreia delas, Wannabe. A canção é sucesso até hoje: no serviço de músicas em streaming Spotify, por exemplo, já foi ouvida mais de 94 milhões de vezes.
O futuro do poder feminino
Redatora, DJ, pesquisadora, curadora musical e criadora do blog Música de Menina, no qual aborda a questão de gênero na música, Débora Cassolatto é feminista e estudiosa do mundo pop: desde 2015, dá aulas e palestras sobre Mulheres na História da Música. Para ela, o melhor da mensagem das Spice Girls é a subversão de valores, até então difundidos não só na cena pop, mas na sociedade em geral. Nos anos 1990, Débora ainda estava na escola e lembra da sexualização dos ídolos da música (em especial, das mulheres), das listas feitas pelos colegas para escolher a menina mais bonita da classe e das rixas entre "patricinhas", esportistas, garotas de salas diferentes e por aí vai. "De repente, me aparecem cinco mulheres, cada uma com seu estilo, completamente extravagantes, vestindo o que elas queriam, com o papo de ‘parou! Vamos ser amigas!’", relembra.
E o que está por vir? Para a produtora musical Clara Daschund, está na hora de a população carente conhecer o girl power. "Uma possível evolução do feminismo, a meu ver, seria conseguir abranger os mais humildes, com a devida linguagem e os devidos meios", completa. Diálogo e respeito são, para a pesquisadora Ester Barreto, os caminhos possíveis do girl power. Débora Cassolatto afirma: "Acredito que devo usar este espaço para ressaltar ações e esforços de mulheres que passam dias, noites, feriados e fins de semana abrindo mão de seu tempo livre, de seus hobbies, da família e, muitas vezes, do amor, sendo estigmatizadas em empregos, questionadas o dia inteiro, carregando rótulos absurdos apenas por acreditarem em um mundo mais justo.".