Imunoterapia e terapia-alvo são abordagens recentes contra o melanoma

Forma mais agressiva do câncer deve ter 6 mil novos casos este ano no Brasil, de acordo com o Inca

Carolina Cotta 09/03/2016 10:30
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Ao longo de 2016, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 181 mil novos casos de câncer de pele no Brasil, 6 mil deles do tipo melanoma. Essa neoplasia da pele é a menos frequente, porém a mais agressiva, responsável por quase a totalidade das mortes por câncer de pele, já que pode se espalhar pelos nódulos linfáticos e órgãos distantes. Segundo Gabriel Gontijo, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), isso ocorre porque o melanócito tem grande poder de multiplicação e invasão, facilitando as metástases.

Segundo estudo da Universidade de Nova York, é provável que o risco de desenvolvimento de melanoma tenha aumentado em 30 vezes nos últimos 80 anos, principalmente em função do aumento de exposição ao sol, que seria responsável por 65% dos casos. Queimaduras solares, exposição a substâncias químicas, como arsênio e solventes, e o volume de exposição solar durante a infância também podem ter implicação na causa da doença.

Em relação à proteção da pele, não há novidades: falta mesmo conscientização e comprometimento de cada indivíduo. Mas o tratamento de melanoma tem avançado recentemente. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de aprovar um novo medicamento para o tratamento de pacientes com melanoma metastático: o dabrafenibe. Já aprovado também nos Estados Unidos e Europa, o medicamento, nesses países, é frequentemente prescrito em conjunto com o trametinibe, que aguarda aprovação do órgão brasileiro.

Estudos comprovaram maior eficácia na sobrevida livre de progressão da doença e melhor resposta global dos pacientes quando tratados com essa combinação. O melanoma metastático é um tipo de câncer agressivo e que ameaça a vida, sendo sua taxa de sobrevida em longo prazo menor para pacientes com doença avançada. Cerca de 40% dos pacientes com melanoma avançado desenvolvem metástase no cérebro.

Segundo Antônio Buzais, chefe-geral do Centro Oncológico Antônio Hermínio de Morais e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Albert Einstein, em São Paulo, pelo menos dois tipos de abordagens do melanoma ganharam reforços: a imunoterapia, com medicamentos que atuam estimulando o sistema imunológico, e a terapia-alvo, classe de drogas que atua diretamente nos genes cuja alteração leva ao crescimento acelerado da célula cancerosa.

“Já tínhamos no Brasil um remédio que inibe o gene. O novo medicamento, o dabrafenibe, atua na mesma via. A vantagem é que, quando um paciente não tolera bem uma opção, tendo muitos efeitos colaterais, podemos recorrer ao outro”, explica o especialista, segundo o qual a aprovação de outro medicamento em um futuro próximo, o trametinibe, deve reforçar ainda mais esse tratamento.

“Essa é uma situação rara na oncologia, quando um remédio melhora o outro e ainda diminui os efeitos colaterais”, comemora. Mas o que pode mudar o curso da doença de forma mais eficiente é a prevenção e a detecção precoce. Para evitar o melanoma, é preciso evitar o sol e usar o protetor solar de forma adequada. Segundo Gabriel Gontijo, o fator de proteção solar deve ser de, no mínimo, 30. "Acima de 30, está ótimo, mas, se você passa de um fator de 30 para 60 não quer dizer que você dobrou a proteção. Significa, na verdade, que, se você estava protegendo 95%, passa a proteger 97%. Para pessoas com grande risco de melanoma, caso dos ruivos, essa pequena diferença pode ser determinante”, alerta Gabriel Gontijo, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já a detecção precoce pode ser feita com a observação das pintas.

A dermatoscopia digital, exame que recorre a um tipo de escâner corporal para fotografar e mapear as pintas, já é coberta por alguns planos de saúde. “Para quem tem mais de 50 pintas pelo corpo, o que aumenta o risco de melanoma, assim como os ruivos e quem teve mais de seis episódios de queimadura na vida, o exame é importante”, defende Gontijo.

CALCULADORA DE RISCOS

O site da SBD apresenta uma calculadora de risco para o câncer de pele. Basta ao usuário relatar seu comportamento em relação à exposição solar para saber quais os riscos de vir a desenvolver a doença. Claro, trata-se de uma projeção. Mas Gontijo chama a atenção para outras formas de vigilância para a pele. Além de usar o protetor solar de forma correta, é importante que as pessoas aprendam a identificar as pintas mais perigosas. Isso porque as pintas nada mais são do que um excesso de melanócito, uma proliferação benigna, uma espécie de “erro” do organismo.

“Quanto maior uma pinta congênita, aquela com a qual se nasce, maior o risco de melanoma. Também devem preocupar as pintas que aparecem de uma hora pra outra e mudam de aspecto, aquelas que estão tendo contorno e cor alterados. Pinta que mudou de cor também deve chamar a atenção, assim como aquelas que sangram. O melanoma tem evolução muito rápida. Todos devem ficar atentos às pintas irregulares, que são as mais preocupantes”, explica.