Veja quais são as melhores estratégias de convencimento; dicas são científicas

Sugestões vêm de estudos publicados ao longo de 2015

por Correio Braziliense 01/01/2016 11:00
A cada dois anos, com a realização de eleições, o Brasil entra em temporada oficial de convencimento. Em 2016, a disputa política será apenas em nível municipal, mas a paixão com que eleitores defenderão seu candidato e tentarão influenciar os demais será imensa, como sempre. A tarefa, como todos sabem, não é nada fácil. Para aqueles que, mesmo assim, não abrem mão do debate ideológico, a ciência tem algumas dicas, trazidas por meio de estudos publicados ao longo de 2015.

Uma dessas pesquisas, conduzida por especialistas das Universidades de Toronto, no Canadá, e de Stanford, nos Estados Unidos, buscou detectar justamente a melhor estratégia para mudar a opinião de quem tem uma ideologia diferente da sua. Os autores do trabalho, Matthew Feinberg e Robb Willer, decidiram investigar o tema depois de perceberem o aumento da polarização entre eleitores dos Estados Unidos, um fenômeno observado também em outros países, inclusive no Brasil. “Nós tentávamos descobrir formas de superar essa polarização”, explicou Feinberg, professor de comportamento organizacional na Rotman School of Management, ligada à instituição de ensino canadense. Segundo ele, a tática mais adequada — o que não é garantia de sucesso, vale ressaltar — é esquecer os próprios princípios morais e tentar usar argumentos com base nos valores do interlocutor.

No estudo, os participantes identificados como conservadores, por exemplo, se sentiam mais inclinados a apoiar a proposta do presidente Barack Obama de universalizar o acesso aos planos de saúde — projeto que tem dividido republicanos e democratas no país — quando ouviam o argumento de que a medida traria mais “pureza” à sociedade, pois dificultaria que doenças se espalhassem. Um efeito parecido aconteceu com liberais, que concordaram em aumentar os gastos militares ao ouvirem o argumento de que as forças armadas são uma maneira de garantir emprego aos mais pobres, portanto, uma forma de combater a desigualdade.

Adotar essa estratégia argumentativa, no entanto, é algo que pouquíssimas pessoas são capazes de fazer, indicou a análise, publicada na revista especializada Personality and Social Psychology Bulletin. Feinberg e Willer também conduziram uma série de experimentos nos quais os participantes tinham de elaborar, por conta própria, argumentos baseados nos princípios de seus oponentes políticos. De maneira geral, voluntários dos dois grupos se saíram muito mal na tarefa, sendo que não foram poucos os que preferiram, em vez disso, simplesmente atacar a moral de quem pensa diferente.

Apenas 9% dos liberais conseguiram usar argumentos baseados em valores como lealdade, autoridade e pureza (ideias com as quais conservadores se identificam mais) para fazer a defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo. De maneira semelhante, só 8% dos conservadores que tinham de defender a adoção exclusiva do inglês nas escolas públicas foram capazes de fazer isso recorrendo aos princípios de justiça e proteção de minorias, tutelados pelos liberais. “A maioria das pessoas não é muito boa em apelar aos valores alheios”, resumiu Feinberg. Mas para quem considera importante romper barreiras ideológicas, o professor afirma que não há caminho melhor: “Em vez de isolar o outro lado e apenas repetir seu próprio senso de moralidade, comece a pensar em como seu opositor enxerga as coisas e veja se consegue adequar suas mensagens à forma de pensar dele”.

Em família
O convencimento político é tão difícil que nem mesmo os pais podem garantir que seus filhos seguirão suas posturas ideológicas. Outra pesquisa, publicada na American Sociological Review (ASR), mostrou que mais da metade das crianças e adolescentes dos EUA ou rejeitam ou interpretam erradamente a afiliação política dos genitores.

“Esses achados viram de cabeça para baixo o conhecimento convencional e anos de pesquisa sobre socialização política”, afirmou, em comunicado, o principal autor da análise, Christopher Ojeda, pesquisador do Centro Stanford para a Democracia Americana. “O público, a mídia e o mundo acadêmico, por muito tempo, acreditaram que crianças aprendem dos pais seus valores políticos, como qual partido apoiar ou quais posturas ideológicas endossar. Segundo essa visão, o aprendizado ocorre principalmente porque os pais impõem seus valores às crianças. Essa crença depende da suposição que os filhos conhecem e escolhem adotar os valores dos pais”, completou.

O estudo foi baseado nos dados de dois amplos levantamentos sobre as famílias americanas que incluem as visões políticas e o grau de proximidade de pais e filhos. O primeiro, o Health and Lifestyles Study (HLS), foi conduzido em 1998 em 8.636 lares estadunidenses. O segundo é o National Longitudinal Study of Youth (NLSY), do qual foram considerados dados de 2006 e 2008, que englobam 3.356 famílias. Nesse último, que foca principalmente a relação entre as mães e os filhos, as informações revelaram que 51,2% dos filhos percebiam erroneamente ou rejeitavam o partido que contava com a preferência materna. No HLS, que trazia dados também sobre os pais, o resultado foi semelhante, com o índice de discordância da mãe ficando em 53,5% e do pai em 54,2%.

“Os dois bancos de dados mostram a impressão dos filhos na adolescência, na juventude e na idade adulta, capturando um longo período de vida”, ressaltou Peter K. Hatemi, coautor do trabalho e professor de ciência política na Universidade Estadual da Pensilvânia. Segundo ele, quanto mais se conversa sobre política em casa, mais os filhos conseguem apontar corretamente quais são as crenças políticas dos pais. No entanto, esse diálogo não aumenta as chances de os mais jovens concordarem com os adultos. “A comunicação é um veículo para entregar informação, mas nem sempre entrega concordância. Como todos sabemos, discussões sobre política podem tanto levar ao consenso quanto ao conflito”, acrescentou Hatemi.
O trabalho, no entanto, revelou que um tipo de relação aumenta as chances de consenso familiar. As crianças que recebiam maior apoio social dos pais, sentindo-se mais acolhidas, tendiam, quando mais velhas, a assumir posições ideológicas semelhantes. “O apoio social nos dá um sentimento de pertencimento e nos leva a imitar aqueles de quem somos próximos”, analisou Hatemi. Para o cientista, as crenças sobre o poder de influência da família na ideologia adotada por uma pessoa precisam ser revistas. “Ninguém é uma cópia em carbono dos pais.”