Especialistas ponderam consumo do açúcar que pode se tornar um vício

As guloseimas, geralmente ricas em açúcar, contêm componentes que estimulam o cérebro a produzir a serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de felicidade, bom humor e bem-estar

por Estado de Minas 03/12/2015 09:44
Marcos Santos / USP Imagens
O consumo excessivo de alimentos, entre eles os ricos em açúcar, sem um gasto adequado de calorias, faz com que a pessoa estoque essas calorias excedentes em forma de gordura corporal (foto: Marcos Santos / USP Imagens)
Visto como importante fonte de energia para o corpo, além de adicionar a alguns alimentos aquele sabor agradável, o açúcar também é considerado vilão, por ser responsável por muitos problemas de saúde. Entra ano, sai ano, sociedades médicas e ligadas à saúde alertam sobre o consumo da iguaria. Trata-se de um carboidrato presente em frutas e vegetais e, mesmo quem não costuma comer doces, pode encontrar no açúcar uma fonte de bem-estar em casos de tensão, ansiedade ou estresse. É comum mulheres no período pré-menstrual sentirem vontade de comer “aquele chocolate”. Mas, por que isso ocorre? As guloseimas, geralmente ricas em açúcar, contêm componentes que estimulam o cérebro a produzir a serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de felicidade, bom humor e bem-estar.

A nutricionista Marcia Daskal, da Recomendo Assessoria em Nutrição, explica: “Sua baixa concentração produz sintomas como irritabilidade, variação de humor e aumento na fome, especialmente fome de doces, numa tentativa de o organismo conseguir mais carboidratos, que aumentem a síntese de serotonina.” Segundo ela, “o prazer que sentimos com alimentos de sabor adocicado é inato. A predileção por doces ajudou nossos ancestrais a distinguirem entre os alimentos seguros e os que dariam mais energia daqueles potencialmente tóxicos ou inadequados para o consumo”. Junto com as alterações hormonais que naturalmente ocorrem no período que antecede a menstruação, há também uma queda no nível de serotonina, por isso as mulheres podem sentir mais vontade de comer alimentos açucarados nesse período. Os efeitos da serotonina também explicam a busca de alimentos doces em períodos de depressão ou tristeza.

Porém, essa fonte de bem-estar deve ser usada com moderação. O açúcar, ao ser ingerido, é absorvido no intestino, passa pelo fígado e segue para a corrente sanguínea. O que for aproveitado pelo organismo será transformado em energia e o que não for utilizado, em gordura. Marcia explica que o corpo é sistêmico, o que significa que o excesso ou a falta de qualquer nutriente afeta todo o organismo. O consumo excessivo de alimentos, entre eles os ricos em açúcar, sem um gasto adequado de calorias, faz com que a pessoa estoque essas calorias excedentes em forma de gordura corporal, que, por sua vez, em exagero, pode gerar problemas em vários órgãos.

Quinho / EM / D.A Press
O açúcar, ao ser ingerido, é absorvido no intestino, passa pelo fígado e segue para a corrente sanguínea. O que for aproveitado pelo organismo será transformado em energia e o que não for utilizado, em gordura (foto: Quinho / EM / D.A Press)
O endocrinologista Rodrigo Lamounier, diretor científico do Centro de Diabetes de Belo Horizonte, explica que o açúcar, de uma maneira técnica, quer dizer carboidrato e não apenas o açúcar refinado que conhecemos. Os carboidratos são a base da alimentação da maioria das pessoas, porque proveem energia para as diversas tarefas do dia a dia. O açúcar simples, a sacarose, é uma forma de carboidrato absorvida rapidamente na corrente sanguínea, sendo muito interessante em momentos em que se precisa de uma carga aguda de glicose, como, por exemplo, em situação de hipoglicemia (baixa de glicose no sangue) ou durante uma atividade física intensa. “Fora isso, o açúcar simples deve ser visto como fonte de prazer, e não como nutriente. O açúcar refinado é uma caloria vazia, não apresenta nenhum valor nutricional. Açúcar é prazer e deve ser visto dessa maneira, e consumido com o máximo de moderação possível, porque seu excesso não faz bem à saúde”, diz o endocrinologista.

SISTEMA DE RECOMPENSA
Além de não ter nutrientes, o açúcar pode desenvolver um vício. “Ele ativa vias de sinalização no hipotálamo relacionadas ao centro do prazer e ao sistema de recompensas, por isso é viciante e pode estar relacionado a comportamentos compulsivos. Camundongos em laboratório também ficam viciados em açúcar, por outro lado, quando sua oferta é retirada, não faz falta. Porém, sua supressão pode levar a crises de abstinência, inclusive”, afirma Lamounier.

Mas, e quando a vontade de comer o chocolate bater? Segundo a recomendação da nutricionista Marcia Daskal, é melhor comer um doce quando se tem vontade do que tentar enganar o organismo com outras opções, mesmo as menos calóricas. Assim, o consumo se torna mais inteligente. “Normalmente, o que ocorre é que as mulheres comem “o mundo” tentando driblar a vontade do doce e depois acabam não resistindo e comendo o doce por cima. Matar logo a vontade com um pouquinho do doce resolve o problema e economiza essas outras calorias desnecessárias”, acrescenta a nutricionista, indicando que uma ótima saída é ingerir uma guloseima depois de uma refeição ou comer um salgado antes do doce para evitar os exageros.

Já o professor Rafael Claro, do Departamento de Nutrição de Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG), alerta: o prazer do açúcar pode sair caro. É que, segundo ele, o excesso da iguaria pode desenvolver não apenas aumento de peso, mas também doenças como hipertensão, problemas cardiovasculares e diabetes. “De fato, é estimulante, é mais que calmante. A pessoa fica tão acostumada com a ideia de que o doce a acalma que ocorre o mesmo mecanismo do cigarro. A pessoa fica condicionada a comê-lo. Se não comer, não tem efeito real nenhum nisso. Arrisco-me a dizer que mesmo que traga algum conforto, a médio prazo esse conforto pode sair muito caro. Ou então você vai ganhar peso cada vez que você for fazer uma prova?”, contesta o professor.

O ideal é passar um dia por semana comendo uma fruta e aos poucos ir diminuindo a quantidade de consumo desses alimentos. “Deve-se evitar ultrapassar 10% das calorias ingeridas no dia”, sugere Rafael. O professor explica que um homem de 50 anos, com altura aproximada a 1,70m e 70 quilos, precisa, em média, de 2 mil calorias. Sendo assim, 200 calorias de açúcar. Isso corresponde a duas colheres de sopa cheias. Porém, ele reafirma que o melhor é optar por frutas, saladas e alimentos mais saudáveis

Muitos usam o adoçante como alternativa para fugir do açúcar. “O adoçante pode ser uma alternativa ao açúcar, quando necessário. Tudo é uma questão de hábito, o uso do adoçante deve ser também sempre racional. Quanto menos usar, melhor”, afirma o endocrinologista Rodrigo Lamounier. Seja adoçante, seja açúcar, os especialistas concordam que a educação alimentar é a melhor saída para quem busca uma alimentação saudável. “O segredo está em uma alimentação balanceada, com a ingestão de todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo, sem a exclusão de nenhum grupo alimentar da dieta”, acrescenta Lamounier. O importante é evitar a ingestão excessiva de calorias e praticar exercícios físicos regularmente.

Curvilineos.com.br / Reprodução Internet
(foto: Curvilineos.com.br / Reprodução Internet)


TIPOS DE AÇÚCAR
Há vários tipos de açúcar no mercado, desde o refinado, o demerara, mascavo e a rapadura.

» Açúcar mascavo: de coloração mais escura, parecido com caramelo, o sabor do açúcar mascavo lembra o da rapadura. O mascavo tradicional é um alimento obtido diretamente da concentração do caldo de cana recém-extraído. Este processo não utiliza o uso de aditivos químicos para branqueamento e clarificação. Apesar de preservar alguns micronutrientes, como fósforo, cálcio, magnésio e potássio, não pode ser considerado como fonte primária desses nutrientes.

» Açúcar orgânico: em geral, se apresenta na forma de cristais maiores e mais escuros. Durante a sua produção, desde o plantio da cana até o produto embalado, não são usados agrotóxicos ou insumos não autorizados. Por ter todas essas exigências em seu processo produtivo, apresenta preço mais elevado.

» Açúcar demerara: tem grãos na cor marrom-claro e o processo de produção é muito similar ao do açúcar mascavo, porém, passa por tratamento leve, utilizando um pouco de aditivos químicos.

» Açúcar cristal: apresenta-se como cristais maiores e transparentes, sendo mais difícil dissolvê-lo. No seu processo de fabricação, a etapa de cristalização elimina a maioria das impurezas presentes. Como impurezas, considera-se tudo aquilo que não seja sacarose (sais minerais, glicose, frutose, amido, entre outros componentes presentes). É considerado um produto com uma purificação parcial.

» Açúcar refinado: esse é o tipo de açúcar mais comumente encontrado nos supermercados e mais apreciado pelas donas de casa. No processo de refino, além da adição de novos produtos químicos, o açúcar cristal é dissolvido e recristalizado, visando torná-lo mais branco, pela remoção adicional dos compostos coloridos presentes. O resultado é um açúcar de elevada brancura, com cristais bem pequenos e com maior facilidade de dissolução.

» Açúcar de confeiteiro:
já descrito pelo nome, esse tipo de açúcar é mais utilizado para decorar receitas como bolos, biscoitos e tortas. Os cristais são extremamente finos e com aparência de pó. Em algumas refinarias, uma etapa de peneiramento ajuda a garantir a uniformidade dos pequenos cristais. Além disso, antes de ser embalado, recebe a adição de uma pequena quantidade de amido para evitar que os cristais fiquem grudados.

» Açúcar light: é a combinação do açúcar refinado com adoçantes artificiais. Deve ser evitado por pessoas que não podem ou não querem utilizar adoçantes. Por conta da presença dos edulcorantes, não tem o mesmo efeito culinário.

Fonte: Recomendo Assessoria em Nutrição - Marcia Daskal