Uai Saúde

Fitness e Nutrição

Stiletto: conheça a dança, que tem apelo sensual e exige muito esforço físico

A modalidade é uma mistura de jazz com balé. O salto alto é acessório indispensável na hora da execução

Flávia Duarte

Ila amou tanto o stiletto que virou braço direito do professor Bob. Ela garante que a dança faz bem para o corpo e para a mente - Foto: Antonio Cunha/CB/D.A Press

O professor entra na sala. Seu 1,78m, corpo esguio e magro intimidam. Mais boquiaberta ainda fica a mulherada quando o dançarino de 28 anos, Roberto Schiavinato, calça um salto de quase 10cm. Ele joga a franja para um lado. Levanta a sobrancelha. Faz carão. Solta um sorriso perfeito e começa a caminhar. O controle dos movimentos do corpo, a suavidade com que move pernas e mãos não condiz com a brutalidade e a dureza de postura muitas vezes associada aos homens.
Bob, como é chamado pelas alunas, é uma diva no termo mais objetivo da palavra. E não tem qualquer relação com feminino ou masculino. Tem a ver somente com a postura. Diante de uma turma de mulheres, esse é um dos objetivos dele: fazer com que todas tenham domínio do corpo, dos gestos e das feições. Tudo isso, ao ritmo intenso, em uma dança que ganhou o nome de stiletto.

 

A modalidade seria uma mistura de jazz com balé. Exige postura, equilíbrio e sensualidade. “Você trabalha o eu interior, a feminilidade. Você precisa se sentir à vontade para se mostrar, ter respeito por si própria”, define Ila Delahis, 38 anos, que há mais de um ano e meio descobriu a dança no salto e se apaixonou. “Você se sente mais dona de si”, diz a moça, que sempre amou Madonna e, na adolescência, dançava com o entusiasmo as músicas da cantora. Até descobrir que os gestos frenéticos que fazia com mãos e pernas para acompanhar a americana seria algo parecido com o chamado stiletto.

 

A dança une ritmo e perfomance. Para aguentar tanto mexe, remexe de tronco e quadris é feito um alongamento. Pernas, costas e panturilhas são trabalhados. Abre e fecha de braços e de membros inferiores.

É preciso esquentar a musculatura. O stiletto tonifica pernas, panturrilhas. Trabalha o quadril e ainda dizem que afina a cintura. Como é feito com saltos, os movimentos repetitivos podem lesionar joelhos ou coluna. Por isso, o professor Bob sugere que as alunas mantenham uma rotina de malhação.

 

Depois do estica e puxa, as aprendizes são convidadas a desfilar em cima de um sapato de, no máximo, 10cm. Ideal que seja preso ao peito do pé, para manter a estabilidade dos passos. “O salto deixa o ritmo mais atraente e poderoso”, diz Bob. É praticamente uma aula de passarela. Na hora do chamado high heels, aprende-se a manter a postura. Passos cruzados, caminhar elegante.

Nada de pernas abertas ou andar desleixado. É preciso seguir com a leveza de um flamingo. Diante do próprio reflexo, é hora de fazer carão. Nada forçado, apenas uma aula de autoconhecimento, para identificar as feições que lhe caem bem. Bob, que também é professor de expressão facial, diz que o olhar, o sorriso, a maneira de levantar a sobrancelha são aprendidos com treino. Ele próprio conta que conquistou seu belo sorriso depois de muito se exercitar diante do espelho. É questão de se ver e entender quais os movimentos te deixam mais sexy. O professor sugere, nas entrelinhas, que cada uma crie um personagem e se aproprie dele naqueles 60 minutos de dança. Se quiser levar o personagem para casa, esteja à vontade.

 

Agora é momento de começar a coreografia. Para as iniciantes, nas primeiras aulas, tudo pode parecer meio desencontrado, mas o professor acalma e diz que é questão de tempo. Da caixa de som, saem as batidas intensas e ritmadas de Kazaky, The Pussycat Dolls, Anitta e, claro, Beyoncé, uma das maiores divulgadoras do stiletto mundo afora. Como inspiração, vale buscar vídeos do bailarino francês Yanis Marshall, principal nome do street jazz style sobre saltos. Aliás, a aula também é indicada para homens que adoram a ideia de colocar uma legging , o sapato alto e soltar o corpo.

 

Primeiro, é preciso romper a barreira da timidez. Soltar a deusa que há dentro de você. Ila Delahis diz que não é tão complicado se a aluna compreende que todas estão ali pelo mesmo objetivo: conhecer o próprio corpo, divertir-se, dançar, perder uns quilinhos e ganhar pontos de autoestima. “As mulheres chegam aqui com essa vontade de aflorar e gostam dessa mudança”, acredita Ila, descrevendo a própria experiência.

 

Superado o constrangimento inicial, é hora de colocar em prática a coordenação motora. O stiletto exige equilíbrio para se manter no salto e fazer movimentos ensaiados com as pernas. Os braços precisam estar em sincronia. Engana-se quem pensa que o agito deles é aleatório. Tudo é pensado. A posição das mãos, dos dedos, o encaixe do quadril. Este último, ah, parece tão familiar a todas as mulheres, mas, na hora em que a aluna se vê obrigada a conduzir o rebolado, percebe a complexidade do movimento.

 

As primeiras aulas são um reconhecimento do próprio corpo. É saber que você pode movimentar pélvis sem perder o controle do tronco. Manter pernas flexionadas enquanto o bumbum é empinado. E nada de mão feia. O alongamento dos braços é previamente planejado. As mãos fazem desenhos no ar e escorregam pelo tronco. “Mão bonita, fulana. Finge que pega uma xícara com a ponta dos dedos, agora solta”, ensina Bob. Tudo com delicadeza. Ou não. Às vezes, a firmeza de gestos e tapinhas no bumbum apimentam a dança.


Expressões da cara, posição de braços, de mãos e de pernas — tudo controlado ao mesmo tempo e seguindo ritmo da música. E repete uma, duas, três, uma dezena de vezes. Uma erra, a outra acerta. Todo mundo se apoia. Nada de desistir e sem vergonha de tentar outra vez. E empina mais a bunda, levanta o peito, joga o cabelo. Quando as alunas começam a se sentir mais seguras, fica ainda mais divertido. Elas se soltam. Imaginam as cenas que poderão fazer em casa. O professor brinca, diz que depois do passo que ele ensinar em aula, o resto depende da imaginação de cada uma.


Dizem que a coreografia de passos rápidos e equilibrados sobre saltos surgiu na Broadway. Faz pouco tempo que as mulheres “comuns” adentraram esse universo. Elas buscam diversão, autoconhecimento e também uma atividade física. A modalidade ainda deixa as pernas e bumbum mais durinhos. Roberto garante que cada aula consome de 600 a 800 calorias. E para quem se assusta com o salto, o professor revela que o período de adaptação é de três meses. Mas o que se nota, é que elas logo dispensam as facilidades e passam a sensualizar nas alturas.

.