Saúde

Flores comestíveis, frutas, verduras e legumes próprios da primavera podem proporcionar alimentação mais nutritiva

Aprenda uma receita de salada verde com camarão e flores

Carolina Cotta

A nutricionista maternoinfantil Alice Carvalhais lembra que, nesta época, os nutrientes dos alimentos se encontram nas quantidades mais adequadas possíveis
Na Primavera, as flores estão por todo lado, inclusive em pratos deliciosos. Apesar de a moda ser recente, as flores comestíveis são utilizadas na gastronomia há séculos. Na Ásia, eram comuns as flores de lírio-de-um-dia, enquanto na Roma antiga destacavam-se as rosas. A França medieval preferia a calêndula. Em qualquer lugar, o objetivo era o mesmo: sua sutileza, beleza, cor, sabor e aroma. E para quem acha estranho comer flor, é bom pensar que, provavelmente, já o faz: brócolis, couve-flor, alcachofra e flor de abóbora têm consumo difundido.


As flores comestíveis podem ter sabor doce, cítrico, levemente apimentado e até amargo. Algumas são consumidas na totalidade, outras parcialmente, como as pétalas de tulipa, algumas apenas em certas fases do seu desenvolvimento, como os botões de margaridas. Segundo o nutricionista do Vigilantes do Peso Matheus Motta, diversos tipos de pratos podem ter o acompanhamento de flores comestíveis: assados, cozidos, saladas, sopas, doces, pães, bolos, biscoitos, sobremesas e até chás e refrescos.

Segundo o especialista, elas têm baixo valor calórico (cerca de 40kcal por 100g) e, assim como algumas frutas e verduras, apresentam vitaminas (principalmente A e C), além de fitoquímicos, reconhecidos pela sua atividade antioxidante e anti-inflamatória em nosso organismo. Nas pétalas, principalmente, ficam os minerais, vitaminas e compostos fitoquímicos. Ainda nas pétalas, há os flavonoides, com efeitos anti-inflamatório, antimicrobiano e antiviral.

“Cada uma tem sua singularidade e, assim como frutas e vegetais, a alimentação deve focar sua variedade. De modo geral, a presença de flavonoides e de outros compostos ligados ao aroma e à cor explicam o uso de flores em medicinas alternativas como agentes terapêuticos. O teor de compostos polifenólicos tem relação com a atividade antioxidante, como em begônias, rosas e nastúrcios. A cor das flores reflete os teores de carotenoides e antocianinas. A presença desses carotenoides é um fator de proteção contra doenças oculares, como catarata”, explica.

Bolo com flores comestíveis
Estudos na China também mostraram que extratos de flores podem ser adicionados a produtos alimentícios para melhorar seus aspectos nutricionais, como fonte de fitoquímicos, combatendo o estresse oxidativo causado por quadros clínicos como diabetes, hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, além de evitar ou retardar o processo oxidativo dos próprios alimentos. Por ter sabores mais concentrados, as flores comestíveis devem ser consumidas em pequena quantidade. Isso porque têm pólen, que é alergênico. Pessoas alérgicas devem evitá-las, assim como crianças e bebês.

CUIDADOS NO CONSUMO
Flores podem ser consumidas tanto em saladas, sucos e chás (cruas) quanto em outros tipos de pratos, como ensopados e sopas, arroz, purês e omeletes. Os cuidados básicos antes de comprar flores comestíveis são: adquirir de produtores que façam o cultivo especialmente para uso culinário, que não utilizam agrotóxicos ou tratamento químico; observar o modo de armazenamento no local; reconhecer quais plantas são destinadas ao consumo, uma vez que nem todas as flores são comestíveis ou apresentam um bom paladar, e algumas espécies podem ser venenosas/tóxicas.

Peito de frango assado com pétalas
Elas exigem higienização similar à dos demais alimentos de origem vegetal que são consumidos crus. Mas é preciso mais cuidado para manipulá-las, por serem bem delicadas. A orientação para lavar as flores é mergulhá-las em água com sanitizante (hipoclorito de sódio, água sanitária – 1 colher de sopa por litro de água) por 15 minutos e depois secá-las com papel-toalha. Sempre com muito cuidado. Algumas partes das flores devem ser retiradas. Segundo Matheus, em flores grandes, por exemplo, as partes brancas, os estames e os pistilos normalmente são amargos e não devem ser mastigados.

Olhe a safra
A primavera não é apenas temporada de flores. A estação também é época da safra de grande variedade de frutas, legumes e verduras, sendo perfeita para enriquecer a dieta com aromas, sabores e nutrientes variados, principalmente os ricos em vitaminas, antioxidantes e minerais. Segundo a nutricionista maternoinfantil Alice Carvalhais, do Instituto Mineiro de Endocrinologia, por ter sido produzido em condições climáticas ideais, o alimento, nesta época, consegue se desenvolver melhor, oferecendo uma qualidade nutricional maior. “Seus nutrientes se encontram nas quantidades mais adequadas possíveis, além de oferecer sabor e aroma mais intensos”, explica.

Outra vantagem de consumir alimentos na safra é que o cultivo pode dispensar ou diminuir a quantidade de aditivos químicos, com os alimentos se desenvolvendo de forma mais natural. E como a produção aumenta, a demanda cai e o preço melhora. Estudos mostraram que o conteúdo de vitamina C parece ser significativamente influenciado pela sazonalidade. No espinafre, por exemplo, a vitamina C reduziu entre cinco e oito vezes quando ele foi colhida fora de época, em comparação ao espinafre colhido no pico da produção agrícola. No tomate e no brócolis, os estudos mostraram redução de 50%. A quantidade de caroteno também foi influenciada pela sazonalidade e colheita. O brócolis, fora de época, teve redução de 25%, e a cenoura, de 50%.

Segundo Alice, nesta época, as refeições devem seguir variadas, mas aumentar o consumo de vegetais pode ajudar a conseguir uma alimentação mais refrescante, mais leve e rica em nutrientes, além de menos calórica. “Aposte nas saladas de frutas, saladas de pote e sucos verdes. O congelamento de frutas picadas pode render sucos que prolongam a presença do alimento em seu momento mais nutritivo, mesmo fora da safra”, sugere a nutricionista. Entre os alimentos da estação estão abacaxi, kiwi, maracujá, mamão, morango, manga, pêssego, abobrinha, alcachofra, berinjela, beterraba, cenoura, ervilha, tomate, pimentão amarelo, agrião, almeirão, brócolis, espinafre e rúcula.

RECEITA


Salada verde com camarão e flores comestíveis

Ingredientes
» ½ xícara de pepino fatiado com casca
» 1 xícara de rúcula
» ¼ xícara de rabanete fatiado fino
» 80g de camarão cozido
» ¼ colher de chá de sementes de gergelim branco descascado
» 1 colher de sopa de molho para salada light
» Flores de amor-perfeito a gosto

Modo de preparo
Numa tigela, misture o pepino, a rúcula, o rabanete, o camarão, as sementes de gergelim e o molho para salada. Arrume no prato de servir e espalhe por cima as flores de amor-perfeito.

Na culinária

Flores

» Amor-perfeito: Tem textura aveludada e é refrescante. Boa para saladas ou aromatizar vinagres. Tem flavonoides e taninos que conferem propriedades anti-inflamatórias.

» Begônia: As flores de begônia podem ser encontradas nas cores vermelho, amarelo, laranja e rosada. São muito apreciadas pela sua acidez agradável. Suas flores podem ser usadas nas saladas, em arranjos e sobre coberturas. Rica em polifenóis e antioxidantes.

» Calêndula: Suas pétalas podem ser misturadas ao arroz, ao peixe, à sopa, aos queijos, iogurtes e omeletes, dando uma coloração como a do açafrão. Apenas as pétalas devem ser consumidas, desprezando-se o miolo. Rica em vitamina C e potássio, que podem auxiliar em processos de cicatrização. As pétalas e o pólen têm substâncias anti-inflamatórias.

» Capuchinha: Flores fáceis de cultivar e são boas recheadas, cristalizadas ou como ornamento. Têm um gosto ligeiramente apimentado. As sementes podem até ser usadas para substituir pimentas tradicionais. A planta inteira é comestível. São as preferidas para uma salada de verão. É rica em luteína, carotenoide e vitamina C, tendo propriedades que ajudam o processo digestivo.

» Flor de abobrinha e abóbora: Também conhecida como flor de cambuquira, pode ser recheada com queijo e acompanhar pratos salgados ou, ainda, servir de ingrediente para sopas. Rica em vitaminas A e C, minerais como cálcio e ferro, estimulantes do sistema imunológico.

» Violeta verdadeira: Não é a violeta-africana, encontrada nas floriculturas. Quando fresca, é usada em saladas. Cristalizada, pode ser usada para decoração de bolos, pudins e sorvetes. Tem compostos como eugenol e kaempferol, opção contra problemas gástricos como inchaços e flatulência. Tem também propriedades antissépticas.

Frutas, verduras e legumes

» Laranja – Contém vitaminas A, B C, cálcio, ferro, magnésio, fósforo, potássio, sódio. O ideal é consumir a fruta com o bagaço e assim que parti-la.

» Caju – Rica em fósforo, cálcio e vitamina C.

» Coco – Verde ou maduro, o valor nutritivo do coco varia de acordo com seu estado. À medida que a polpa amadurece, aumenta o seu teor de gorduras e apresenta ainda bom teor de sais minerais (potássio, sódio, fósforo e cloro) e fibras.

» Manga – Rica em minerais, como betacaroteno, vitaminas A, B, C, magnésio, fósforo, potássio, sódio, cálcio, ferro, manganês, selênio e zinco.

» Berinjela – Tem diversos nutrientes, como cálcio, fósforo, vitaminas B1, B2 e C, além de ser importante fonte de antocianinas.

» Brócolis – Rico em vitaminas A e C e antioxidantes, como glicosinolatos e betacaroteno. Tem grande quantidade de vitaminas do complexo B, enxofre, cálcio, ferro, zinco, ácido fólico e potássio.

» Couve – É rica em clorofila e glicosinolatos. Fonte de vitaminas A e C, betacaroteno, ácido fólico, cálcio, ferro, fósforo, potássio e principalmente magnésio.

» Espinafre – Os princípios ativos do espinafre são numerosos, sendo essa hortaliça rica em cálcio, fósforo e enxofre. Contém ainda vitamina A em quantidade apreciável e excelente conteúdo de vitaminas B e C.