Saúde

Saiba como se prevenir das doenças do frio

Problemas respiratórios ocupam quarto lugar entre as enfermidades que mais matam no Brasil. Especialistas alertam que queda da temperatura ajuda a potencializar sintomas

Junia Oliveira

Médico Roberto Souza Lima faz teste de alergia em paciente: ambiente doméstico pode agravar quadro respitório
O outono está aí, e, com ele vêm as mudanças bruscas de temperatura e a chegada de um tempo mais frio. Nos próximos meses, a tendência de muita gente é preferir o aconchego do lar, principalmente à noite. Estão formados os piores cenário e período para os alérgicos. Dados médicos mostram que as alergias respiratórias – asma e rinite alérgica – acometem 25% da população brasileira, índice considerado alto se comparado a outras enfermidades crônicas, como diabetes (8%) e hipertensão arterial (15%). Além de atacar pessoas de qualquer faixa etária, provocaM perda na qualidade de vida, ausências nas escolas e no trabalho. Embora haja remédios para combater esses males, o melhor tratamento, segundo especialistas, é a prevenção.


Presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia – Regional Minas Gerais (Asbai), Roberto Souza Lima explica que a casa fechada, sem sol, favorece a multiplicação dos ácaros, que vivem, principalmente, nos colchões, travesseiros e almofadas das poltronas. “Esses microsseres são capazes de triplicar sua população diariamente. Em cada um grama de poeira pode haver 2 mil ácaros, que aumentam para 6 mil por dia. O resultado pode ser trilhões de ácaros no fim da temporada de frio”, afirma.

Ele ressalta que, na verdade, não são os ácaros que provocam alergia, mas as fezes desses micro-organismos. Cada ácaro pode pôr 32 bolotas fecais por dia. “Se multiplicarmos os trilhões de ácaros por 32 chegaremos a dados inacreditáveis”, diz. O outono é também propício ao uso de mais cobertores e agasalhos que podem estar guardados há meses, acumulando ácaros e, principalmente, fungos. O médico acrescenta que para complicar a vida do alérgico, este é o período de infecções viróticas (gripes) e bacterianas (sinusites, pneumonias, amigdalites e laringites), fechando o cenário propício ao aparecimento da rinite alérgica e da asma.

Até o fim de julho, asma e rinite podem ficar mais exacerbadas. Segundo Lima, a rinite aumenta em 80% e a asma em até 60%, acometendo principalmente crianças e idosos. As crises de rinite podem complicar com sinusites, otites e amigdalites, enquanto as de asma podem vir associadas a pneumonias e bronquites infecciosas. “Alergia significa uma resposta exagerada do sistema de defesa do nosso organismo, o sistema imune. Essa resposta é hereditária e, quanto maior, mais doenças alérgicas aparecerão. Mas, para que haja uma expressão à condição genética, é necessário o fator ambiental, principalmente o doméstico”, diz.

Assim, crianças com idade até 10 ou 11 anos e idosos estão mais susceptíveis à rinite e à asma, porque ficam mais tempo dentro de casa. “O ambiente externo com poluição, frio, ar seco e oscilações bruscas de temperatura pode agravar o quadro respiratório, mas as causas são fatores internos, dentro de casa.”

PNEUMONIA As doenças respiratórias estão em quarto lugar entre as enfermidades que mais matam no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Entre elas, a pneumonia é a mais frequente e a terceira no ranking da mortalidade, tendo sido registrados 61.272 óbitos em 2012. Uma das prevenções é a imunização. Estudo publicado recentemente na comunidade científica comprovou a eficácia de uma dessas vacinas em adultos – a Prevenar 13, que combate 13 sorotipos de pneumonias pneumocócicas (considerados os mais prevalentes em todo o mundo), de um total de 93. Disponível desde 2009 para crianças, ela foi autorizada no país para os adultos há dois anos.

A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, explica que a Prevenar 13 foi dedicada, inicialmente, às crianças. Devido à eficácia da vacina e sendo a doença mais prevalente nos extremos – entre os menores de 5 anos e maiores de 65 –, foi feito estudo para avaliar seus efeitos na população adulta. “Tínhamos anteriormente dados de segurança e de resposta imunológica, ou seja, a produção de anticorpos a partir da aplicação da vacina, relativos a esse grupo, mas não sabíamos se a medicação funcionava em termos de prevenção da doença.

Os testes envolveram cerca de 85 mil pessoas com idade acima de 65 anos, em 160 locais na Holanda. Duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, o Capita (Community-Acquired Pneumonia Immunization Trial in Adults) foi feito com o objetivo de avaliar a eficácia da Prevenar 13 na prevenção contra as pneumonias pneumocócicas adquiridas na comunidade (PAC). O trabalho apontou redução de 45,6% nos episódios iniciais desse tipo de pneumonia entre os vacinados em relação ao grupo que recebeu placebo.

A vacina, disponível por enquanto apenas na rede privada de saúde, é exatamente a mesma para o público adulto e infantil. A diferença se dá apenas na quantidade de aplicações. Crianças recebem quatro doses, e adultos apenas uma. Rosana Richtmann relata que, embora tendo sido constatado o sucesso da prevenção entre adultos, nos pequenos, a resposta a qualquer vacina é muito melhor, já que a qualidade dos anticorpos piora com a idade, por causa do envelhecimento do sistema imunológico.