Saúde

Erva asiática pode parar o vírus ebola

Epidemia que assola a África começa a ser contida, e a ciência se aproxima de possibilidades mais palpáveis de tratamento

Bruna Sensêve

Robert Davey (D) e equipe identificaram molécula que impede o vírus de entrar nas células
O número de mortes por infecção pelo vírus do ebola chega próximo aos 10 mil, de acordo com os dados divulgados ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Somente indivíduos comprovadamente com a doença são 23.781. A epidemia que assola a África começa a ser contida, e a ciência se aproxima de possibilidades mais palpáveis de tratamento. Em pesquisa publicada na revista Science, uma dupla de pesquisadores do Departamento de Imunologia e Virologia do Instituto de Pesquisa Biomédica do Texas, nos Estados Unidos, sugere o uso de uma erva asiática como nova terapia para inibir a infecção de células brancas do sangue.


Os investigadores debruçaram-se sobre o mecanismo pelo qual o vírus ebola infecta uma célula. A observação deu destaque a uma pequena molécula chamada tetrandrina, derivada de uma erva asiática. O objetivo do cientista e autor Robert Davey era parar o vírus antes que ele tenha a chance de entrar ou interagir com fatores celulares, pois esse é um primeiro passo fundamental para combater a infecção. Os pesquisadores demonstraram, com experimentos em laboratório, que essa potente pequena molécula consegue impedir a infecção dos glóbulos de defesa in vitro ou em placas de petri. A estratégia frustrou o desenvolvimento da doença em camundongos.

O vírus ebola primeiramente se liga a proteínas da superfície das células. Em seguida, é levado para dentro delas e segue uma via endossomal, ou seja, é transportado para vários compartimentos celulares. Estudos anteriores indicam que a sinalização de cálcio — que permite a transmissão de cargas elétricas entre as células — é importante durante o processo endossomal do vírus.

Os investigadores descobriram que dois canais de poros (TPCs) exercem papel-chave para que patógeno consiga entrar nas células e se multiplicar. “Esses TPCs precisam essencialmente ser ligados para que o vírus funcione corretamente”, resume Davey. Foram, então, testadas substâncias que pudessem neutralizar esses detetores de cálcio. A tetrandrina mostrou-se a mais eficaz, com pouca toxicidade e demandando um dose menor de aplicação.