Saúde

Um ano diferente: conheça histórias de quem tem mudanças como metas para 2015

Qualidade de vida, crescimento pessoal e um novo significado para a própria realidade estão entre combustíveis para os que buscam um 2015 de novidades

Carolina Cotta

A troca do calendário, a pausa para as comemorações, o conforto de saber dos 365 dias pela frente... A causa pouco importa: a virada de ano vem acompanhada de reflexões e, principalmente, desejos de tempos mais felizes. O marco de um novo ano parece favorecer, e fortalecer, planos para uma vida diferente, como se a chegada de um inédito janeiro gritasse para quem quisesse ouvir: “É tempo de recomeçar”. Sempre é tempo, mas as proposições de fim de ano têm muita força. Para a psiquiatra Sofia Bauer, mudar faz bem, principalmente quando se quer transformar algo que está ruim e se for algo desejado há muito tempo. “A vida é muito curta, passa depressa. Não devemos deixar para amanhã a luta de hoje. Mais que mudar, é preciso transformar a vida”, defende a especialista, que recorre à psicologia positiva para falar em mudança.


Para essa vertente, transformar é fazer formas novas de viver a mesma vida, e assim ser ainda mais feliz. Mudar, segundo Bauer, é algo em direção a transformar. “Aprendemos, ao longo do ano, e da vida, coisas que podemos e devemos aplicar: exercícios físicos são bons para mente e corpo, assim como alimentação saudável, sono e meditação. Mas obtemos essa informação, a registramos e nada fazemos. Vem a culpa, a cobrança e tudo só piora”, explica. Para ela, vale mais a ‘trans-formação’, que é mudar a forma. “Se quero ter saúde preciso fazer o exercício. Se quero emagrecer e ficar mais saudável, não significa ficar sem comer, e sim transformar a forma de comer, priorizando coisas mais saudáveis que me deixarão melhor. Se quero descansar a mente inquieta devo fazer meditação e não pensar que ela seria boa. Assim por diante”, diferencia.

A arquiteta Ana Claudia deixou o emprego e está montando uma empresa para ficar perto dos filhos
Mas encarar uma nova realidade não é fácil. Pelo contrário, é muito difícil porque criamos hábitos. Necessariamente, pessoas acomodadas terão que aceitar uma vida com menos sucesso. Para Bauer, ser pacato e parado frente às mudanças exigidas pela sociedade nos deixa para trás na corrida a uma vida que se deseja. É diferente se a pessoa já tiver conseguido o que quer, quando pode parar e desfrutar do bem-estar que conseguiu. Já a forma de aceitação de uma doença, a perda de um ente querido é boa, em certa medida, porque ajuda a viver aquela fatalidade e a ter calma para aceitar o novo destino. “Mas mesmo dentro do novo destino, sempre se pode fazer algo. A vida é feita de um chamado interior, uma vocação. Devemos sempre seguir esse chamado e dar significado à vida que levamos e lutamos para ter”, sugere a especialista.

CONCILIAR

A arquiteta e urbanista Ana Cláudia Rezende, de 39 anos, planejou um 2015 diferente. Vai encarar uma transformação na carreira para ter mais flexibilidade e tempo para dedicação à família. Em 16 anos, sempre atuou em grandes empresas, com alta demanda de dedicação. Agora, ela está formatando a própria empresa e concluindo um sonho de infância, um mestrado. “Vou trabalhar para mim, de forma a conseguir conciliar as demandas do trabalho e as necessidades dos filhos, marido e casa.” Segundo Ana Cláudia, isso já era um projeto para o futuro, talvez para daqui a dois anos, mas decidiu colocar logo em prática. “Entendo que temos que buscar o equilíbrio entre família, trabalho e saúde e observei que a minha qualidade de vida e a minha presença em casa, com as crianças e com meu marido, estavam comprometidas”, conta.

A decisão veio depois de repensar e concluir que a definição do que acredita ser os vários papéis da mulher estava bem mais clara para ela. Ser mãe e amiga é algo em que ela não poderia ser trocada, ao contrário de ser esposa, onde pode ser, mas não quer ser substituída. Ser dona de casa é algo que pode delegar, e ela o faz com tranquilidade. No final, ser profissional é o lugar onde ela é temporária.

 

“O trabalho é importante para a minha saúde física, mental e financeira, mas minha prioridade é a família. Assim, resolvi trabalhar para dar o melhor, não só financeiramente, para ela, mesmo que esse melhor imponha algumas limitações para a minha carreira. Em 2015, vou valorizar coisas que parecem simples, mas que com a correria do dia a dia acabam sendo difíceis de realizar.”

Ana seguiu um sonho. Para Sofia Bauer, todos nós devemos fazê-lo. A mudança de um ano não vai determinar que isso ocorra, mas pode ser um pontapé para a transformação que levará a esse sucesso. “Aprendemos que é mais fácil a vida sem esforço. Realmente é. Mas qual é a moeda final daquele que não luta? Um destino bem pior do que aquele que batalha, luta pelo que deseja alcançar. Uma mudança sempre será difícil. Por isso, é necessário um sonho que vamos perseguir até alcançar. E sonhos todos temos, mas precisamos sonhar e ter metas reais que possamos com certo sacrifício, alcançar ao longo da jornada da vida. Se não lutarmos pela nossa felicidade, por esses ideais, seremos mais frustrados e nossa moeda final será a tristeza, a decepção com a vida. Considero que a dor é necessária, que metas devem ser perseguidas, que precisamos nos esforçar e não desistir de mudar.”

Comprometa-se
O ano termina sem que os planos de 12 meses atrás tenham sido cumpridos, ou pelo menos parte deles? Nada de desistir. Certo mesmo é pensar que pode dar certo daqui pra frente, e se esforçar para isso. Não é segredo que sem persistência, trabalho e luta não se alcança o que se deseja. “Assim, o sonho chegará mais depressa que se imagina, mesmo que leve um ou 10 anos”, acredita a psiquiatra Sofia Bauer. Mas algumas ações podem deixar esse processo mais fácil. Podem reforçar a importância dessas transformações, podem aguçar a vontade de enfrentá-las, podem guiar o processo.

Patrícia Gomes com o marido, Flávio, e os filhos Theo e Dora: família voltou para Belo Horizonte depois de morar seis anos no interior de Minas

A psicologia positiva sugere um rito de passagem para enfrentar as transformações de vida. Pesquisas americanas sobre mudanças de hábitos mostram que ao se criarem pequenos rituais, um ou dois por mês, é possível mudar a vida depois de um ano. Segundo Bauer, o ideal é escolher um novo ato que se deseja introduzir na vida e iniciar esse rito. “A pessoa pode, por exemplo, se propor a fazer uma ginástica duas vezes por semana. Quando se habituar pode passar para três vezes. Basta adquirir um novo ritual a cada mês sobre algo que deseja formatar em sua vida”, sugere.

Já para o início de ano, nas tradicionais proposições ou “promessas de vida nova”, a orientação de Bauer é fazer metas e dividi-las em etapas: a número um, a número dois. “Uma redução alimentar, por exemplo, não é fácil. Primeiro é preciso colocar a meta de comer de três em três horas, aprender quais são os bons alimentos, introduzir um bom café da manhã, almoço , lanchinhos. Tudo bem devagar. Quando a pessoa conseguir mudar ela sentirá o que chamo de moeda final: o bem-estar do dever cumprido. Sua cabeça estará leve e seu ideal atingido.”

Essas metas devem ser listadas. Sofia sugere, inclusive, que a lista das metas para o ano seja colada em um mural que esteja sempre à vista. “E o principal: anuncie verbalmente aos amigos quais mudanças está pretendendo alcançar. Um comprometimento verbal, a nossa palavra, é poderosa demais. Vale simbolicamente como um juramento. Perseguimos o comprometimento de nossa palavra e conseguimos chegar à nossa meta. Comprometa-se com seus sonhos, mude agora, na virada do ano. Acredite em seus sonhos, mas trabalhe duro em cima deles, senão você verá só a decepção. O trabalho é o segredo do sucesso.”

VIDA NOVA

A psicóloga Patrícia Gomes, de 41 anos, terá um 2015 diferente. E pode se preparar para isso. Seis anos depois de deixar Belo Horizonte para viver no interior, ela está de volta à capital com a família para ficar mais perto da filha Dora, de 16, que vai começar a faculdade. A decisão de voltar ocorreu em etapas, como sugere Sofia Bauer. “Primeiro, pensamos em morar no meio do caminho. Assim, ficaríamos num meio-termo. Depois, chegamos à conclusão de que não resolveríamos o nosso problema maior, que é estruturar a vinda da Dora para o ensino superior. Ela foi adiantada na escola e acreditamos que não teria maturidade para dividir apartamento com outra colega, além de ser menor. Não estávamos prontos para essa separação. A ideia do meio-termo foi uma forma de ir nos acostumando à possibilidade de abrir mão da comodidade de morar numa cidade menor”, conta.

Patrícia, o marido, Flávio, e os filhos Dora e Theo foram para Curvelo para ficar mais perto do sítio da família, na represa de Três Marias. Acabaram ficando mais tempo juntos. Diferente de agora, essa primeira mudança foi executada em pouquíssimo tempo. “Em três meses decidimos e nos mudamos. Foi muito difícil para mim, não conhecia ninguém, coloquei o currículo embaixo do braço e fui buscar emprego”, lembra. Mas eles também já estavam sentindo falta de uma cidade, principalmente nesse momento de vida, que oferecesse um pouco mais de estrutura cultural. “Eu, principalmente, sou paulistana e muito inquieta, queria um pouco mais. Tínhamos uma escolha: ou teríamos uma vida mais tranquila, longe dos problemas da cidade grande (também longe das suas vantagens) ou abriríamos mão dessa tranquilidade para continuar juntos”, explica.

A volta à capital foi pensada com mais calma. A família ficou, pelo menos seis meses, fazendo “reuniões”, e discutindo onde morariam, quais aspectos mudariam em suas vidas, como lidariam com essas transformações, e claro, buscando uma solução que permitisse a todos ter uma readaptação mais tranquila. “Nesse processo não deixei de ter um friozinho na barriga. Mas acredito que 2015 será um ano realmente diferente para todos nós, por vários motivos. Acredito que todos nós encerramos um ciclo. Vamos começar um ano e também começar uma vida nova, cheia de desafios, ao mesmo tempo, cheia de possibilidades. Dá medo, mas dá também um sabor de desafio, um cheirinho de vida nova e de uma estrada larga que se abre para todos nós. Conhecer a vida no interior nos fez valorizar coisas da capital, ao mesmo tempo que viver na capital nos fez valorizar o interior. A questão é que aquele momento passou, e era a hora de mudar... e é assim que fecho o ano”, diz.