Saúde

Conheça histórias de quem já ganhou um coração novo; fila é grande em MG

O estudante Arthur Senna e o analista de recursos humanos Gilvan Lima estão de coração novo. Outras 27 pessoas aguardam no Hospital das Clínicas da UFMG por essa mesma alegria

Márcia Maria Cruz

Depois de complicações na cirurgia, Arthur recebeu coração novo e pretende se engajar em campanhas de doação de órgãos
Como qualquer adolescente, Arthur Menezes Senna Jeronymo, de 16 anos, fica boas horas do dia a conversar com amigos no Facebook. Amante de esporte, não vê a hora de estar em quadra para jogar basquete. Mesmo com a voz ainda um pouco baixa, ele comemora uma conquista incomum para jovens de sua idade. Em tempos de Copa do Mundo, ele fez certamente um gol de placa: ganhou um coração novo. “É outra coisa. Sinto-me muito melhor.” No aparelho de eletrocardiograma, ao lado do leito onde o jovem está internado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, as batidas compassadas demonstram que o coração que recebeu, na madrugada do dia 23, adapta-se bem à nova casa. “Quando soube que havia um doador meu sentimento era de alegria, felicidade, esperança e um pouco de ansiedade”, diz Arthur.


Em 2006, aos 7 anos, ele foi diagnosticado com uma doença rara no coração, cuja evolução poderia requerer um transplante a única opção para que continuasse vivo. “Mas a necessidade veio mais cedo do que estávamos esperando”, diz o pai do jovem, o economista Jener Barbosa de Senna, de 49. A mãe do menino faleceu em 2005, em decorrência de uma disfunção cardíaca semelhante. Ela preferiu não trocar o coração. “Uma das primeiras coisas que Arthur falou depois que a cirurgia terminou é que ele havia feito o transplante pela mãe.” A lembrança da mulher e a superação da doença do filho trazem um misto de sentimentos a Jener que não consegue conter as lágrimas. “Quando o cardiologista chegou aqui no leito com um sorriso no rosto, sabia que havia chegado o coração novo do meu filho. Fiquei em um estado de alegria e euforia inexplicável que sai abraçando todos na unidade coronariana”, lembra.

Complexidade
Mas o caminho para o renascimento de Arthur teve outros percalços. Como o coração velho estava debilitado, não aguentou a anestesia e parou de bater pouco antes de a cirurgia iniciar. “Foi um transplante muito complexo. Ele teve uma parada cardíaca de 15 minutos e entrou no bloco cirúrgico tecnicamente morto”, afirma o cardiologista Sílvio Amadeu de Andrade, que é membro da equipe de transplante do HC. Para que a cirurgia pudesse proceder, a oxigenação do sangue de Arthur passou a ser feita por uma máquina de circulação extracorpórea. Ele estava literalmente sem coração e se o transplante não desse certo não haveria outra alternativa para mantê-lo vivo.

A cirurgia para colocação do novo órgão durou cinco horas, mas, ao final, mais um susto para a equipe de transplante comandada pelo cardiologista Pedro Henrique e para a família de Arthur. O novo coração não se adaptou à pressão da artéria pulmonar alta antes comandada pelo velho músculo. Mais uma vez foi necessário recorrer à circulação extra-corpórea e foi necessário o uso de medicamentos para controlar a pressão.

Renascimento

Depois de todo esforço, enfim, o novo órgão começou a bater no peito de Arthur. Uma semana depois do transplante, ele se recupera bem na unidade coronariana do HC. Em Minas Gerais, os transplantes de coração costumam ser feitos com adolescentes acima de 13 anos. É bastante incomum a troca de órgãos em crianças. No Brasil, a média de idade é de 45 anos e seis meses. Nos Estados Unidos, por terem uma população mais envelhecida, a média é de 54 anos.

O caso de Arthur era gravíssimo e se não tivesse feito o transplante não estaria vivo. Depois que deu entrada no Hospital das Clínicas em estado crítico, o jovem esperou duas semanas pelo novo coração. O comum, no entanto,