Saúde

Especialistas defendem ração caseira balanceada para os pets

Substituição tem sido adotada para cachorros e gatos com dificuldade de se alimentar ou com problemas específicos de saúde. Mas, para alguns experts, elas são boas para qualquer pet

Revista do CB

Ana Sophia faz questão de preparar as refeições de Paçoca e Quincy Jones: os bichos dão piruetas de alegria quando veem a comida
Sem interesse na ração, a cadela Mel passava dias sem comer e parecia não haver saída para o problema. “Tentei todos os artifícios. Coloquei azeite, água quente, misturava a ração com um pouco de carne. Mesmo assim, ela só comia depois de dias, quando já não se aguentava mais de fome”, lembra o jornalista Carlos Setti, dono da vira-lata. A alimentação de maneira regular é algo recente na vida da cadela de 9 anos e só veio depois de uma reformulação completa do cardápio oferecido a Mel. Há seis meses, a ração sumiu completamente da dieta, que passou a ser composta por alimentos como carne crua e vegetais.


Quem escolhe deixar a ração de lado na hora de alimentar a mascote e passa a adotar refeições caseiras balanceadas é adepto da alimentação natural. A comida da Mel é entregue em marmitas preparada por Thais Souza, dona de uma empresa especializada em nutrição e festas de pets. Os pratos são feitos para cada cliente de acordo com as necessidades do animal e com a orientação de uma veterinária nutróloga. Na refeição de um pet saudável, é possível encontrar cortes de frango, de porco, de vaca, de fígado, de carneiro, peixes, além de ovos, legumes e carboidratos integrais. O dono do animal precisa apenas descongelar e servir.

Segundo Thais, as motivações de quem procura oferecer alimentação natural para o pet variam. “Há aqueles que querem uma melhor qualidade de vida para o animal de estimação, tem também quem não sabe mais o que fazer com os pets que não aceitam ração e se alimentam muito mal e há os que buscam auxílio para o tratamento de problemas de saúde do pet, como alergias, doenças nas vias urinárias, cálculos biliares, epilepsia”, conta. Foram os problemas urinários e as alergias da schnauzer miniatura Aika que levaram a bancária Lilian Martins a pesquisar sobre a alternativa. “Antes, a imunidade dela estava sempre muito baixa. Agora, ela está bem. A pelagem melhorou, ficou mais brilhosa. O comportamento mudou radicalmente. Ela está mais feliz, mais ativa”, diz Lilian sobre Aika, sete meses depois da mudança de dieta.

Mais novo na casa, o schnauzer Linus chegou idoso para aos cuidados de Lilian e sempre recebeu refeições naturais da atual dona. Ela garante que os dois se adaptaram bem à mudança no cardápio e comem tudo que ela oferece. “Dar ração é uma maneira bem cômoda de alimentar o animal, a alimentação natural dá um pouquinho mais de trabalho, mas a reação deles na hora de comer é outra. Se antes não tinha um horário para comer, hoje temos uma rotina, e é uma festa, eles adoram.” Já a cadela Mel parece ser mais exigente. “A Mel é fresca. Algumas coisas ela deixa. A gente sempre observa para adaptar o cardápio, mas ela não fica mais dias sem comer”, comenta Setti.

Mel passava dias sem comer nada: hoje, a vira-lata é fã das marmitinhas com carne crua e vegetais
Já a servidora pública Carolina Charchat tinha como único objetivo melhorar a qualidade de vida dos cães ao adotar a alimentação natural para o schnauzer Java e para o fox paulistinha Erê. Ela afirma que os gastos com a comida das mascotes quase não mudaram, mas o entusiasmo dos cachorros na hora das refeições é outro. “É uma euforia. Só a festa que fazem quando percebem que eu estou levando a comida já faz valer a pena. Também notei que a pelagem e a disposição deles melhoraram.”

A servidora pública Ana Sophia Vieira é dona do cocker spaniel Paçoca e do golden retriever Quincy Jones, e resolveu botar a mão na massa e preparar as refeições das mascotes há 10 meses. “Eu me coloquei no lugar deles. Imagina se tivesse que comer a mesma coisa, com o mesmo gosto, todo santo dia? Com a alimentação natural, a gente pode variar bastante o cardápio. Não contém conservantes, não é um alimento processado, então está cheio de nutrientes. O que falta de nutrientes na dieta nós complementamos, de acordo com a necessidade dos bichinho.”

Ana Sophia compra as carnes uma vez por mês e separa em porções, deixando-as congeladas. Diariamente, descongela uma porção para cada pet. Faz o arroz e tritura os vegetais. À noite, monta os pratinhos e deixa na geladeira. “No dia seguinte, é só esquentar e dar aos dois, pela manhã e no fim da tarde”, conta sobre a rotina. “O Paçoca demorava para comer toda a ração. Hoje, dá piruetas pedindo comida. O Quincy até baba enquanto espera eu colocar a comida.” Ela ainda afirma que os dentes dos pets ficam mais limpos e que eles apresentam mais energia, além da diminuição dos episódios de dor e coceira no ouvido do Quincy.

A servidora escolheu fazer essa mudança depois de pesquisar sobre o assunto na internet e usar o site Cachorro Verde como um guia. Na página, a médica-veterinária e nutróloga Sylvia Angélico explica, de maneira detalhada, como é possível oferecer alimentação natural para animais saudáveis. “A dieta é feita com alimentos nobres, em vez de usar farinhas e subprodutos de carne e alimentos considerados impróprios para consumo humano. Entre os benefícios, está a redução da queda de pelo. Além disso, o animal fica mais resistente a doenças e parasitas, as fezes ficam menores e até o odor é reduzido, sem falar do prazer inigualável do animal na hora de comer”, explica a veterinária.

De acordo com ela, é possível o pet ter uma vida longa e saudável consumindo apenas ração. “É uma solução prática, mas não é a melhor opção. São usados corantes, grãos transgênicos”, pondera. A especialista acredita que a falta de discussão sobre alimentação natural no Brasil é o que não permite uma adesão maior a essa prática no país — o que pode levar alguns veterinários a contraindicar a dieta caseira. Mesmo não sendo especialidade em nutrição, a médica-veterinária Tatiana Dourado já indicou a alternativa para pacientes em problemas com obesidade ou cálculo renal. “Acredito que a alimentação natural veio para ser mais uma ferramenta no auxílio ao tratamento dos pets.”
Nas marmitas preparadas por Thais Souza, há cortes de frango, de porco, de vaca, de fígado, de carneiro, peixes, além de ovos, legumes e carboidratos integrais

Atenção
  • Adotar a alimentação natural é mais que substituir a ração por comida. A elaboração de uma dieta balanceada e rica em todos os nutrientes que o animal precisa é fundamental. Se a mascote for saudável, é possível encontrar dietas diferentes para cães e gatos elaboradas pela veterinária nutróloga Sylvia Angélico no site www.cachorroverde.com.br
  • Se o pet apresentar algum sintoma, como vômito, coceiras ou alguma doença já diagnosticada, o recomendado é procurar um veterinário especializado que possa fazer uma dieta especial para o bichinho.
  • As necessidades do cão ou do gato variam de acordo com o peso e a saúde do animal. Ele também não pode passar a comer exatamente como o dono. Se a alimentação caseira for feita de maneira errada e sem orientação, é comum que faltem nutrientes críticos, como gorduras saudáveis ou cálcio. Nesses casos, o animal pode ficar com ossos e patas tortas. Se a mascote receber menos carne que precisa, ela perde musculatura e pode desenvolver problemas de pele.