Pré-treino potencializa a prática de atividade físicas; especialistas fazem ressalvas

Se usado de forma errada, pode até levar à morte

por Revista do CB 31/05/2014 09:00

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O coração bate acelerado e você se sente focado para treinar. A motivação está a mil, e as desculpas para deixar de malhar nem passam pela cabeça. Os exercícios aumentam de intensidade, duram mais tempo e o cansaço demora a chegar. Esses são alguns dos efeitos prometidos pelos suplementos pré-treino, que se tornaram bastante populares nas academias. Mas tão extensa quanto a lista de “qualidades” é a de riscos que eles podem trazer, garantem especialistas.

Os pré-treinos são consumidos cerca de 30 minutos antes da atividade física. Eles são compostos, principalmente, por estimulantes e vasodilatadores. Os últimos facilitam a passagem de oxigênio e de nutrientes na corrente sanguínea, fornecendo energia mais rapidamente às células. Outras substâncias comuns são a creatina, que aumenta a força, e a beta-alanina, que reduz a fadiga muscular. Com a disposição extra, porém, podem vir sintomas negativos, como insônia, ansiedade e arritmias cardíacas.

	Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Jefferson Reis usa o pré-treino com acompanhamento de um nutricionista: aumento da disposição (foto: Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
“Se a pessoa tiver predisposição, pode desenvolver quadros de depressão ou síndrome do pânico”, alerta a nutricionista esportiva Giovanna Barros. Ela também destaca que os pré-treinos podem intoxicar o fígado, pois elevam de forma exagerada os níveis de cortisol — hormônio associado ao estresse liberado durante a prática de exercícios. Além disso, o uso de suplementos sem a realização de exames prévios ajuda a mascarar causas de falta de ânimo. “É preciso verificar se existe alguma carência nutricional e, caso a musculação esteja cansando muito, buscar outras modalidades, como a dança, o pilates ou as atividades ao ar livre.”

O servidor público Henrique Ribeiro, 27 anos, começou a usar o pré-treino por incentivo dos colegas de trabalho, mas desistiu depois de um mês. “Tive muita taquicardia e, depois que o efeito passava, eu me sentia mais cansado do que sem o suplemento”, conta. Para a segunda vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física do Distrito Federal, Sueli Paes, o principal problema não está nos produtos, mas no uso sem prescrição. “As pessoas se suplementam sem qualquer orientação médica e sem saber das próprias necessidades”, avalia.

Antes de aderir ao pré-treino, o aeroviário Jefferson Reis, 34 anos, procurou um nutricionista e só sentiu benefícios, como o aumento da disposição. “Há muitos comentários na internet e nas academias, e as pessoas arriscam a saúde. Eu recomendo o suplemento se a pessoa seguir as instruções de um profissional.”

Já o estudante Fernando Gomes, 18 anos, faz uso dos pré-treinos desde os 15 anos. Ele experimentou diferentes tipos, alguns deles, inclusive, proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Atualmente, vários produtos foram liberados após alterações nas fórmulas. A principal mudança foi a retirada do estimulante dimethylamylamine (DDMA). Segundo a Anvisa, a substância pode causar dependência, além de outros efeitos adversos, como insuficiência renal, falência do fígado e alterações cardíacas. E pode até levar à morte. Fernando relata que a “pilha gigante para malhar” vem acompanhada da taquicardia, tremores após o fim do exercício e uma sensação de mal-estar quando o estômago está vazio. Ele admite: “E vicia. Quem diz que não vicia está mentindo”.

Mesmo sem as substâncias proibidas, o nutricionista esportivo Vinícius Lacerda alerta: estudos mostram que algumas pessoas são mais suscetíveis à dependência de cafeína — o principal estimulante dos suplementos, ao lado da sinefrina. “Chegam vários pacientes dizendo que só conseguem treinar se tomarem um pré-treino”, conta. Lacerda se preocupa também com a veracidade dos rótulos e diz que é difícil confiar em quais substâncias estão realmente nos produtos.

Para conseguir energia antes do treino, o nutricionista esportivo destaca alternativas pela alimentação, como aveia com banana, batata-doce, sempre tentando combinar uma fonte de carboidrato e uma de proteína. “Eu não recomendo o uso de pré-treino porque os riscos são muito maiores que os benefícios”, justifica.

Entenda as diferenças

  • Pré-treinos: aumentam a disposição e a performance na prática de exercícios físicos. São compostos, principalmente, por estimulantes, como a cafeína e a sinefrina, e aminoácidos vasodilatadores, como a arginina e a citrulina malato. Eles aumentam o calibre dos vasos sanguíneos e facilitam o fornecimento de energia às células.
  • Termogênicos: elevam a temperatura corporal e o gasto calórico, acelerando o metabolismo e a queima de gordura. Os compostos mais comuns são a cafeína e a taurina, que melhoram a absorção de glicose e de aminoácidos.
  • Proteínas: auxiliam na manutenção e no aumento da massa muscular. O tipo mais popular é o Whey Protein, presente no soro do leite, que tem rápida absorção pelo organismo.