Saúde

Início da replicação do HIV é flagrado

Descobrir como, em que momento e por que o patógeno inicialmente 'adormecido' se transforma em uma arma letal para o sistema imune pode ser a chave para melhor compreensão desse processo e ainda uma porta para novas terapias

Bruna Sensêve

Ter a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) não é a mesma coisa que estar infectado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Isso porque, uma vez dentro do corpo, o micro-organismo nem sempre se manifesta imediatamente. Ele pode simplesmente permanecer dentro das células imunes sem destruí-las e, consequentemente, sem desenvolver os sintomas característicos da doença. Descobrir como, em que momento e por que o patógeno inicialmente “adormecido” se transforma em uma arma letal para o sistema imune pode ser a chave para melhor compreensão desse processo e ainda uma porta para novas terapias. Pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, desenvolveram uma nova forma de observar essa mudança de comportamento e assistir a partículas recém-formadas de HIV “brotarem” nas células até então normais do corpo.


Quando o HIV se multiplica dentro de uma célula humana, uma proteína chamada Gag compõe a maior parte das novas partículas - há 4 mil cópias de Gag em uma partícula do vírus
A pesquisa foi publicada no último sábado na versão on-line da revista científica da Public Library of Science (Plos One) e revelou uma nova faceta de uma proteína que conhecidamente já estava envolvida no processo, mas, até então, de uma forma diferente do que foi verificado: a Alix, que é a abreviação para proteína x interagindo com alg- 2. Quando o HIV se multiplica dentro de uma célula humana, uma proteína chamada Gag compõe a maior parte das novas partículas – há 4 mil cópias de Gag em uma partícula do vírus. Experiências como a conduzida pela equipe do virologista Saveez Saffarian buscam “partículas semelhantes a vírus” que tenham as partes do HIV despojadas de código genético ou genoma e não representem um risco de infecção no laboratório. “Elas mantêm a mesma geometria e o mesmo processo de brotamento que o HIV infeccioso”, define Saffarian.

A aposta nesse tipo de célula permite que seja possível observar o processo de infecção e “brotamento” do HIV na célula humana in vitro sem interferir nele. Dessa forma, os cientistas perceberam que a proteína Alix se envolve apenas nos estágios finais do processo de replicação, em vez de interagir antes, como era esperado. “Observamos uma célula de cada vez e usamos uma câmera digital e um microscópio especial para fazer filmes e fotos do processo de brotamento”, detalha Saffarian. Ele conta que foi possível observar as partículas de Alix recrutadas para o brotamento, o que é o grande diferencial do trabalho.

Vale reforçar que a descoberta não tem qualquer implicação clínica imediata ou mesmo significa que a Alix pode ser uma nova aposta de medicamento. “Sabemos muito sobre as proteínas que ajudam o HIV a sair da célula, mas não sabemos como elas se unem para ajudar o vírus a sair. Será nos próximos 10 a 20 anos que vamos saber muito mais sobre esse mecanismo”, explica Saffarian.