Saúde

São nove meses até que a felicidade exploda com a chegada de um filho; registro da espera requer cuidado

Fotografia amadora ou profissional ajuda a eternizar momentos na história de uma família

Luciane Evans

 

De primeira, segunda ou terceira viagem... Não importa. O universo feminino tem algo de revelador e mágico. É como se durante nove meses, só existisse para elas a esperança do novo, da mudança e nada mais. E elas esperam por sorrisos, cheiros e abraços. Sonham com vozes, mãos, olhos, braços, pés…. É como se o novo estado trouxesse consigo o poder de transformar tudo à sua volta, e para melhor. Quem as vê de longe, as enxerga com leveza e beleza. Mas é quando quem as vê de perto, (bem de perto) na nitidez do foco, que algo a mais se revela: há nas grávidas a imagem de dois em um único corpo.




Hoje, no Dia das Mães, aproveite para reparar naquelas que estão à espera. Observe a forma de andar, de falar, e como, muitas vezes, estão pensativas, como se estivessem em outros mundos. Há o medo do desconhecido, ao mesmo tempo em que há certezas de um novo tempo. Mas essa essência, mágica e instigante das futuras mamães, apesar de real não é tão fácil de ser captada, por mais incrível que pareça. Há mais de um ano me dedico a esse desafio: captar nas gestantes algo além do que podemos ver em dias comuns. Para isso, a fotografia, meu prazer em dias de folga. Apesar de ter feito um curso profissionalizante, ainda sou iniciante, praticamente uma formiguinha diante dos grandes profissionais que temos por aí. Já aprendi um pouco com a prática, mas percebo que ainda há muito o que evoluir.



O filósofo Roland Barthes, autor do livro 'A câmara clara', escreveu que a fotografia faz um registro histórico do momento, um instante que não poderá ser reproduzido novamente, “levando-se em consideração a época, os costumes e as tradições que ficam eternizados no instante fotografado”. É esse instante que fotógrafos que se dedicam às grávidas tentam captar. O retrato, profissional ou amador, guarda parte dessa história, desse universo feminino em compasso de espera. É memória.



E, por isso, esse registro requer cuidados. É preciso, antes de tudo, conhecer essa família, saber seus gostos, histórias e crenças. Gosto disso e de pensar em cada detalhe para o dia das fotos. Cada grávida que tive a honra de “clicar” tive a curiosidade de conhecer um pouco mais sobre ela. E cada qual tem um desejo e vontade. Algumas esperaram demais por aquela gravidez. Para outras, ela veio de repente. E tudo é amor. É nítida a forma como a natureza grita dentro delas. “Estou vivendo o momento mais especial da minha vida”, já me disse uma delas, quando a perguntei como se sentia em relação a ser mãe.

Encanto natural
Lembro-me de ter assistido a uma palestra da fotógrafa mineira Márcia Charnizon, na qual ela comentava sobre a magia de fotografar um casamento e, depois, acompanhar de perto, fotografando, a família que surgia. No trabalho de Márcia, reconhecida como referência no assunto em Minas Gerais, a naturalidade das fotos é encantadora. Ainda nessa palestra, ela mostrou a foto de uma criança no colo da mãe, de onde era possível ver celulites no bumbum do neném. Uma foto que ficou gravada na minha memória. É para essa naturalidade das coisas que vale a pena fotografar. Sem montagens, cenários e histórias inventadas. O que está ali, vivo, é a natureza delas, e nada mais.

Recentemente, li no blog de Márcia um post de 2012, no qual ela citou imagens que a afetaram nos últimos meses: “A beleza feminina que me paralisa, o medo do desconhecido, a coragem com o desconhecido, um recém-nascido que me olha fundo, um bebê que também me olha com sabedoria. Fiz uma seleção de alguns momentos pequenos da minha rotina, que é pautada por querer ser afetada pelo outro. Pela reação do outro diante da minha presença e provocação. Mas afetada não no glamour, que nele eu não me reconheço. Mas nesses pequenos grandes sentimentos que todo mundo tem, como condição básica dessa nossa espécie encantadoramente boba”, escreveu. Concordo com ela.

PARCEIROS

Injusto seria isolar os companheiros dessas mulheres deste momento tão único. Seja um casal hétero, ou não, a parceria é o complemento para a imagem. E é aí nessa brincadeira de fotografar uma nova família, diante da máquina fotográfica, que destaco o trabalho do fotógrafo mineiro Vinícius Matos, também referência no assunto. Ele acompanha, com máquina e lente, as famílias desde o casamento. O resultado é uma absoluta intimidade dos fotografados com o fotógrafo. Aprendi na escola de Vinícius que a câmera que se usa é importante, mas o que faz das fotografias mais tocantes é o olhar. “E treine o olhar”, ensinavam os professores.

Uma coisa que já me surpreendeu é que, quando comecei o trabalho com gestantes, tinha receio de que os papais fossem resistentes a ser fotografados. Mas, para minha surpresa, os homens são paciência, carinho e dedicação para os books. Ajudam em tudo e, tampouco, se cansam. Um deles, atleticano fanático, deixou de ir ao campo e de até ver pela TV o jogo do time e se dedicou a uma tarde de fotos no parque. E não reclamou. Para mim, fantástico. São histórias que, mais cedo ou mais tarde, serão contadas com muito carinho a quem ainda está chegando neste mundo. E olhar esse momento, por meio das lentes, faz a gente, iniciante, amador ou profissional, participar um pouquinho dessa magia eternizada.