Saúde

Cães podem desenvolver hábitos repetitivos que se assemelham ao TOC humano

O transtorno aparece quando o ambiente de vivência não corresponde às necessidades do pet, tais como espaço para correr, momentos de brincadeiras e contato com outros cães e pessoas que não sejam da família

Revista do CB

Seu cãozinho mastiga tudo o que encontra pela frente? Persegue o próprio rabo? Abocanha moscas imaginárias? Lambe a própria pata sem parar? Esses e outros comportamentos, os donos tendem a debitar na cota “normal” de traquinagens do bicho. Mas é algo a se observar. Se a esquisitice surgiu de repente ou piora claramente, pode ser um caso de TCC — Transtorno Compulsivo Canino.


O transtorno aparece quando o ambiente de vivência não corresponde às necessidades do pet, tais como espaço para correr, momentos de brincadeiras e contato com outros cães e pessoas que não sejam da família. “A ausência desses requisitos provoca depressão, ansiedade e frustração, que são manifestadas na forma de comportamentos anormais”, explica o veterinário neurologista Cláudio Roehsig.

Doenças neurológicas também podem desencadear o TCC. Entre elas, a disfunção cognitiva (semelhante a Alzheimer) e a síndrome da cauda equina, que provoca um formigamento na cauda ou nas extremidade das patas traseiras. A sensação estranha sentida pelo bicho faz, por exemplo, com que ele busque o próprio rabo incessantemente. Em quadros mais graves, pode ocorrer automutilação. Em ambas situações, o transtorno é mero reflexo de uma enfermidade física, portanto, é passível de tratamento medicamentoso ou cirúrgico.

Às vezes, é difícil discernir se o cachorro é só danado ou tem um problema de saúde. O cão com TCC late acima do normal da raça e/ou corre de um lado para o outro de forma insistente e intensa — são sinais de estresse. Se a brincadeira de roer pés de mesas e sapatos tomar uma forma agressiva, algo está errado. Para a compulsão não virar uma verdadeira obsessão, o dono deve agir. Uma primeira atitude é repensar a organização da casa para afastá-lo dos objetos perseguidos. Em seguida, deve entrar o trabalho de adestramento, em geral, suficiente para “curar” a mascote. Alguns veterinários prescrevem ainda o uso de florais caninos contra ansiedade.

Késsia Sampaio é médica e dona da Mel, uma lhasa apso de 3 anos. Há um ano e meio Késsia percebeu que sua cadelinha começou a ter comportamentos estranhos. “Ela lambia o chão sem parar. Se eu tentasse tirá-la, ficava arisca e tentava avançar”, conta. A médica conta que percebia que era um ato involuntário e que Mel não aceitava ser interrompida. “Ela fica tão cansada depois de lamber o chão que dorme.” Depois de vários diagnósticos desencontrados, Késsia chegou ao consultório de Cláudio Roehsig. Atualmente, Mel é tratada com remédios homeopáticos e teve uma melhora significativa.

Em geral, a chamada lambedura crônica é sintoma de depressão comum entre cães que ficam tempo demais presos. Por isso, vale repensar a rotina de passeios do animal. E também organizar o espaço dele. Por exemplo, o local de higiene não deve ser próximo ao de refeição e descanso. A depressão pode ser tratada com a companhia de um outro cachorro, se o primeiro não for territorialista demais. É sempre importante conversar com o veterinário na busca pela melhor solução. Os gatos estão menos sujeitos ao TCC, já se adaptam melhor a lugares pequenos e são, naturalmente, mais independentes.

Discussão em aberto
O termo TCC é usado informalmente e carece de unanimidade entre médicos veterinários, pois o conjunto de comportamentos que caracterizaria o transtorno ainda não foi catalogado como doença. Ainda assim, ele é útil, como defende o veterinário Cláudio Roehsig, pois ajuda a padronizar o tratamento.

Comportamentos que merecem atenção:

  • compulsão por roer
  • brincadeiras insistentes
  • latidos em excesso
  • fome exagerada
  • possessividade com determinados objetos
  • teimosia anormal
  • lambedura repetitiva das patas e/ou das partes íntimas
  • perda de apetite
  • automutilação