Saúde

Remédio para calvície provoca disfunção erétil - verdade ou mito?

Conversamos com o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (Regional Minas Gerais) para esclarecer algumas dúvidas sobre o tratamento da calvície masculina. Se isso te incomoda, deixe de lado a vergonha de perguntar e não caia em conversa fiada

Letícia Orlandi

Dados incorretos, boatos e exageros desinformam e inibem os homens que não se sentem confortáveis com a perda de cabelo
Sim, está na bula. Entre os efeitos colaterais de um dos medicamentos mais utilizados para prevenir a calvície, cujo princípio ativo é a finasterida, consta a possibilidade de diminuição da libido e a disfunção erétil. Bastou isso para a criação de uma série de exageros, mitos e piadinhas em relação ao tratamento do problema, desinformando e inibindo os homens que não se sentem confortáveis com a perda de cabelo. “O efeito colateral, além de muito raro, é temporário e reversível. A reação indesejada deixa de se manifestar assim que o uso do medicamento é interrompido”, esclarece Geraldo Magela Magalhães, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Minas Gerais.


Magalhães ressalta ainda que não existe apenas uma opção para prevenir e tratar a calvície masculina. A forma mais comum – a alopecia androgenética masculina – tem origem no histórico familiar, como o próprio nome indica. Mas ela não é a única forma, a exemplo das alopecias de origem autoimune. “Todo homem que observe um início de queda de cabelo deve consultar um dermatologista para confirmar a causa e decidir qual é o melhor tratamento. Apenas a partir da avaliação médica e do exame específico é possível definir o tipo e o grau (extensão) de calvície e indicar o medicamento, seja de uso tópico ou oral”, frisa o especialista.

A partir dessa avaliação, é possível utilizar substâncias com efeito semelhante ao da finasterida, mas de uso tópico. O dermatologista explica que, além dos medicamentos mais conhecidos, dos grupos da finasterida (uso oral) e do minoxidil, existe o grupo do alfaestradiol, também de uso tópico, ou seja, aplicação no couro cabeludo. “Independentemente do método escolhido, é importante lembrar que todo tratamento para calvície genética masculina deverá ser feito por tempo indeterminado – ou seja, para o resto da vida, com avaliações periódicas e acompanhamento”, salienta Magalhães.

Em outras palavras, não existe a cura da alopecia androgenética. Para minimizar ou interromper a excessiva perda dos fios, o paciente deverá continuar sendo medicado por toda a vida.

Outros mitos
Outro exagero que circula entre as rodinhas de amigos é: se eu parar de tomar o remédio, todo o cabelo que não havia caído durante o tratamento vai cair de uma vez. “O cabelo seguirá o ritmo normal da queda , que aconteceria caso a pessoa não estivesse se tratando. Não será algo repentino ou mais rápido do que o normal”, explica Magalhães.

Tratamento deve ser indicado pelo médico, após exame clínico e de imagem; e não pelo amigo
Em pessoas geneticamente predispostas, a ingestão excessiva de vitaminas ou ainda o uso de anabolizantes também podem causar a queda de cabelo. Apesar de existir essa possibilidade, para ter certeza é preciso fazer o diagnóstico clínico e estabelecer a relação causal exata. A análise abrange a consulta dermatológica e um exame de imagem, geralmente realizado no próprio consultório, chamado tricoscopia, realizado com um fotovideodermatoscópio. Apesar do nome, o exame é rápido, indolor e não invasivo. Basicamente, a lente do aparelho amplia o couro cabeludo, permitindo avaliar o folículo piloso e outros sinais que indiquem o tipo e grau da calvície.

Uma outra dúvida comum é sobre a idade certa para procurar o médico e o tratamento, se for o caso. “Não existe uma idade definida e é possível tratar em qualquer idade. Há pessoas que já enfrentam os sinais da calvície aos 18 anos e outras que só vão notar alguma perda depois dos 35. Mas é claro que, se o paciente chegar à consulta com uma extensão grande de calvície, os resultados serão menos expressivos. Quanto mais cedo, melhor”, define o médico.

Geraldo Magalhães esclarece ainda uma outra confusão frequente. “O tratamento não vai fazer nascer cabelo. Vai prevenir a queda e retardar o processo. Não é a idade que define o sucesso do tratamento, e sim o grau de evolução da alopecia”, resume o dermatologista.

E aquela história de que é a família da mãe que define se o rapaz vai ficar careca ou não? “Os aspectos genéticos da queda de cabelo masculina ainda não foram totalmente esclarecidos. Ela é multifatorial e relacionada a vários genes, ou seja, não há um padrão uniforme. Pode vir do pai ou da mãe”, completa o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia/Regional MG. Alguns acreditam que é dos carecas que eles/elas gostam mais, mas, aos olhos da saúde e da medicina, continua valendo mesmo uma outra velha máxima: cada caso é um caso.

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O fumo pode causar queda de cabelo, mas fenômeno é diferente da calvície de origem genética
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que metade da população masculina do planeta terá algum grau de calvície até os 50 anos. A culpa é o dihidrotestosterona (DHT), hormônio derivado da testosterona, maior responsável pela queda do cabelo. As mulheres também a produzem, mas em quantidade muito menor. A estatística indica que o problema afeta apenas 5% delas.

A alopecia androgenética, chamada popularmente de calvície hereditária, é caracterizada por um afinamento dos fios, na maioria das vezes de forma lenta e progressiva. Não custa lembrar que calvície e queda de cabelo são coisas diferentes. A queda de cabelo pode ser causada (e revertida) pro problemas relacionados ao stress, ao fumo, ao uso de tintura e à alimentação, sem fundo genético.