Saúde

Sua cabeça dói quando você toma sorvete? Entenda o que acontece

Todo mundo pode ter a 'dor de cabeça do sorvete', mas pessoas com enxaqueca são mais afetadas. Crianças merecem atenção: se elas rejeitam um alimento gelado, não insista. Os pequenos são intuitivos e conseguem manifestar o que os incomodam, segundo especialista

Valéria Mendes

A 'dor de cabeça do sorvete' não é exclusividade de quem sofre de enxaqueca e pode afetar qualquer um
No próximo sábado, 21 de dezembro, o verão começa oficialmente no Hemisfério Sul. A combinação calor e consumo de alimentos gelados pode desencadear episódios conhecidos como ‘dor de cabeça do sorvete’. “É imediato. A dor aparece no centro e no interior da cabeça. É uma dor súbita e intensa, que dura poucos segundos, mas é muito incômoda”, explica a médica e membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, Célia Roesler. Esse fenômeno não é exclusividade daqueles que sofrem de enxaqueca, apesar de essas pessoas serem as mais impactadas por um sorvete à beira-mar.


A enxaqueca é um dos 200 tipos existentes de dor de cabeça. Ela não é nem a mais comum, mas é mais conhecida. No verão, as crises pioram. “O que dói numa enxaqueca são os vasos sanguíneos que ficam entre a calota craniana e o couro cabeludo. A dor ocorre porque os vasos dilatam e ocorre um processo inflamatório. Por isso, lateja”, afirma Roesler. A especialista afirma ainda que o calor influencia a dilatação desses vasos. “A enxaqueca é o tipo de dor de cabeça que mais sofre influência das altas temperaturas”, diz. O contrário também é verdadeiro: compressa gelada ajuda já que o frio contrai os vasos.

Dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia mostram que as dores de cabeça, incluindo a enxaqueca, são motivo de 40% das consultas neurológicas atualmente, e que o incômodo está presente na vida de 15 milhões de brasileiros.

Como acontece
“O alimento gelado encosta no céu da boca e provoca primeiro a contração dos vasos sanguíneos no interior da cabeça para depois ocorrer a dilatação compensatória que desencadeia a dor”. A especialista diz que ainda não se conhece um mecanismo fisiológico para explicar essa sensação. “Acredita-se que seja mecânico”, observa a médica.

Célia Roesler ressalta que a dor é tão incomodativa que aquele ou aquela que vive a experiência repetidamente começa a ter aversão a substâncias geladas. “A pessoa começa a ter medo. Paciente que tem dor de cabeça crônica passa a sofrer de cefalalgiofobia, que é o medo de ter dor de cabeça”, pontua.

Para evitar a dor, coma devagar, pequenas quantidades e vá para um local de sombra
Recomendações
Apesar de o intervalo da dor intensa ser curto, pode ficar a residual e o dia de praia se transformar em desprazer. “Como não tem tratamento específico, se esses episódios acontecerem repetidamente podem se tornar uma dor crônica. A dica é: ao ingerir um alimento gelado, vá para uma região de sombra, coma lentamente e em poucas quantidades. Você pode estar morrendo de sede, mas não deve beber de uma vez um copo de água gelado”, recomenda a médica. Segundo Roesler, a chance da dor aparecer é muito menor.

A médica recomenda o uso de analgésico – nada de medicamentos fortes para os pacientes que têm enxaqueca - apenas se ficar uma dor residual, mas mesmo assim com ressalvas: “Pode ser uma dor isolada, pode ser que a pessoa tenha uma vez só e não terá nunca mais”.

Crianças e a ‘dor de cabeça do sorvete’

Célia Roesler afirma que as crianças são muito intuitivas. “Criança de 3 anos pode ter enxaqueca. Se ela está vendo um desenho na televisão e começa a sentir dor, procura logo um lugar silencioso, de pouca luz, e fica quietinha, parada, para tentar aliviar o incômodo”, exemplifica.

Se a criança rejeitar algum alimento gelado, não insista
Outra dica, se a criança rejeitou alguma coisa gelada não insista, ela pode já ter sentido os efeitos da ‘dor de cabeça do sorvete’. Além disso, como a criança geralmente é impulsiva, também pode acontecer de ela querer tomar um suco gelado muito rápido e isso ser o gatilho para o episódio de dor.

Não se esqueça
Para a membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, o principal é que os pacientes que têm enxaqueca e procuram a praia no verão para lazer e descanso tenham consciência do problema para não gerar mais dores. “Proteger a cabeça com chapéu, usar óculos escuros, se hidratar muito diminuem as chances de ter dor. É preciso se cuidar para não estragar as férias”, encerra.

A enxaqueca crônica ou migrânea crônica é uma complicação da enxaqueca episódica e se caracteriza por uma frequência mínima de 15 dias de dor de cabeça por mês, com duração de mais de quatro horas, por mais de três meses. Com grande impacto socioeconômico, a enfermidade chega a atingir aproximadamente 2% da população mundial e com predominância três vezes maior nas mulheres do que nos homens de acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia.

É difícil pedir às crianças que comam devagar um sorvete