Saúde

Pílula paralisa os espermatozoides e funciona como 'vasectomia biológica'

Além de reversível, a técnica baseada em terapia genética não comprometeu o desempenho sexual. Mas eficácia ainda não é considerada satisfatória para uso em humanos

Correio Braziliense

Um grupo de cientistas da Universidade Monash, em Melbourne, na Austrália, apresentou ontem resultados promissores em experimentos que buscam uma via “alternativa” para a pílula anticoncepcional masculina. A técnica, baseada em terapia genética, funciona como uma espécie de vasectomia biológica. Camundongos foram alterados geneticamente para não expressar as proteínas alfa1A-adrenérgico e P2X1-purinoceptor, envolvidas na locomoção do gameta masculino. Durante o ato sexual, os espermatozoides das cobaias não saíram com a ejaculação.


Além de reversível, a técnica não comprometeu o desempenho sexual das cobaias. “Isso resolve talvez o maior obstáculo na busca por um contraceptivo masculino socialmente aceitável”, avaliaram os autores no texto publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas). Nos experimentos, 50% dos ratinhos ficaram estéreis com a supressão da alfa1A-adrenérgico e 86%, com a da P2X1-purinoceptor. “Tal diminuição da fertilidade sugere que essas metas são receptores realmente importante para a reprodução. No entanto, a infertilidade masculina teria de ser de 100% em estudos pré-clínicos para uma nova terapêutica em seres humanos”, ponderaram os pesquisadores.

Procedimento também apresentou efeitos colaterais menos agressivos que outras substâncias estudadas
O procedimento também apresentou efeitos colaterais menos agressivos que outras substâncias estudadas. As pesquisas nessa área têm se concentrado na possibilidade de os homens passarem a produzir espermatozoides não funcionais. Os medicamentos em testes, no entanto, podem alterar permanentemente o esperma, interferir no apetite sexual e causar até a infertilidade.

Submetidos à técnica australiana, os camundongos apresentaram uma queda “muito pequena” na pressão sanguínea. Alterações no volume da ejaculação também são consideradas pelos pesquisadores. “Os espermatozoides retirado dos camundongos foram analisados microscopicamente e estavam normais e móveis (…) além disso, foram capazes de produzir descendência normal quando implantados em óvulos”, relataram os cientistas.

Até a técnica de “armazenar espermatozoides” chegar às farmácias, serão necessários pelo menos mais 10 anos de estudo, estimam os pesquisadores. Um dos desafios é descobrir como silenciar as proteínas em humanos. Eles acreditam que um medicamento usado há muitos anos em pacientes com crescimento benigno da próstata pode provocar esse efeito e se transformar em uma alternativa viável e para a pílula anticoncepcional masculina.