Psicanalistas avisam que o medo é um sinal que precisa ser estudado

Especialistas discutem o sentimento que tira as pessoas do eixo e interfere no equilíbrio psíquico

por Lilian Monteiro 20/10/2013 09:11

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Euler Júnior/EM/D.A Press
Para a psicanalista Inez Lemos, o medo deve ser encarado como um alerta para procurarmos ajuda (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)
Superação. Desafio. Preservação. Lidar com o medo envolve todas essas emoções e vivências, juntas e misturadas. Tem o que impulsiona e o que paralisa. O que faz bem e o que é um problema. O psicanalista e professor de psicologia da UFMG Guilherme Massara Rocha diz que para a psicanálise o medo é uma palavra, não um conceito. Uma palavra que descreve principalmente sensações de desprazer diante de um objeto, uma situação ou alguém. Tais sensações mobilizam o corpo e o pensamento. “Mas enfrentar o medo pode representar um ato de superação. Quando alguém o encara, usualmente termina por se sentir mais capaz, menos oprimido, às vezes até mesmo mais poderoso ou vaidoso. Superá-lo pode representar uma conquista moral. Mas pode também resultar num sentimento bastante narcísico.”


Por outro lado, o psicanalista alerta que o medo é um sentimento que tem algo de autopreservativo. “Diz respeito ao reconhecimento de limites físicos e psicológicos. Desafiar todos os medos pode significar desconsiderar tais limites, num ato de engrandecimento cujas consequências podem não ser aquelas que dele se esperam. Desafiar inconsequentemente os medos pode acabar mal.”

Mas como saber a hora de recuar? Guilherme avisa que é difícil saber. Depende de vários fatores. “Pode-se pensar que é justificável recuar de qualquer coisa que coloque em risco a integridade física ou moral de alguém. Contudo, se hoje vivemos num país mais livre, isso é também por causa daqueles que pagaram com a própria vida em benefício de uma causa política, moral, ideológica. Quem iria condená-los por isso?”

CORAGEM
Medo, pânico, fobia. Para a psicanalista Inez Lemos, importa que, quando sentimos algo que nos tira do eixo ou interfere em nosso equilíbrio psíquico, ele deve ser encarado como um sinal. Precisa ser estudado. “O medo é apenas um sintoma. Aviso amigo e alerta para procurarmos ajuda. Uma experiência traumática, uma lembrança ameaçadora ou a sensação de que algo ruim pode ocorrer.” Ela ensina que o inconsciente guarda marcas, fragmentos, vestígios de vivências boas ou ruins. As ruins podem atrapalhar a viver, é o retorno do que foi recalcado, reprimido, mas nunca de todo apagado. “Quando as marcas dos momentos que nos deixaram inseguros ou nos colocaram em situação de risco reaparecem, entramos em pânico.”

Inez explica que o medo é um sentimento negativo quando não trabalhado, uma vez que paralisa e impede as pessoas de prosseguirem, de avançarem. “Tratar o medo é criar condições de esvaziá-lo por meio da palavra. O ato do dizer, o exercício de bordejar o sintoma por meio da linguagem representa cuidado. Tratar com carinho e seriedade os sentimentos que nos bloqueiam. O melhor é, com delicadeza, desvendar o monstro, as mazelas que nos petrificam.”

E que tal perdermos o medo de enfrentar o que nos impede de viver tranqüilos? “Ao focarmos no sintoma, assumimos a responsabilidade pelo tratamento. Muitos usam o medo para se esconder, se poupar do trabalho de dilapidá-lo”, enfatiza a psicanalista. Para Inez, ao resistirmos aos medos, ao decidirmos que nada deve ser maior que o desejo de desafiar incômodos e desconfortos, tudo fica mais fácil. “Inclusive a difícil tarefa de submeter o sofrimento em análise. Sempre é possível fazer algo para vivermos melhor, sempre haverá uma forma de nos livrar dos incômodos e neuras e sempre haverá um lugar no divã para as dores.”

No entanto, Inez lembra: reclamar dos medos, responsabilizá-los pela nossa infelicidade é mais fácil que tratá-los. “Portanto, a melhor forma de nos livrarmos das sensações de pavor e medo é nos imbuirmos de coragem. Coragem ao decifrar os sinais que nos travam. Tranquilidade é conquista. Para tanto, resta desvendar os fantasmas que nos emperram.”

Como vencer o medo:

  • Reflita sobre a razão do seu medo. É o primeiro passo para enfrentar esse sentimento.
  • Identifique suas capacidades. Certamente elas o levaram a várias conquistas no dia a dia. Logo, coloque-as em prática. Valorize-se.
  • Enumere as oportunidades que deixou escapar por causa do medo e quais foram as consequências.
  • Lembre que, se algo não der certo, é possível seguir em frente. Nada é definitivo e toda experiência é um aprendizado.
  • Para criar coragem de tomar atitude, pense em quem já agiu e teve êxito. Isso vai estimulá-lo.
  • Abandone os pensamentos negativos e tenha confiança em você para avançar e superar os temores.
  • Decida por metas que tenha capacidade de cumprir, não as impossíveis.