Saúde

Estudo mostra que troca de antibióticos evita resistência

Um grupo de pesquisadores dinamarqueses reforça a eficácia de uma espécie de pegadinha com esses micro-organismo: alterar a substância usada contra a patologia antes que eles fiquem mais fortes

Paulo Lima

No uso prolongado de antibióticos, há o risco de que as bactérias criem resistência ao medicamento, comprometendo o resultado da terapia. Um grupo de pesquisadores dinamarqueses reforça a eficácia de uma espécie de pegadinha com esses micro-organismo: alterar a substância usada contra a patologia antes que eles fiquem mais fortes. Em experimentos seguindo essa lógica, os resultados foram significativos.


Os testes focaram na Escherichia coli, uma bactéria comum no intestino humano. “Ela tem variantes patogênicos que podem causar uma ampla gama de doenças, como infecções do trato urinário e meningite. Além disso, é cada vez mais difícil de tratar a E. coli devido ao aumento da resistência às drogas”, diz Lejla Imamovic, autora da pesquisa, que foi divulgada, há uma semana, na revista Science Translational Medicine.

"Por isso a necessidade de avaliação de outros remédios o quanto antes. Assim, erradica-se a resistência à droga. Se uma segunda rota de tratamento não for bem-sucedida, o primeiro tratamento pode ser retomado" Lejla Imamovic, pesquisadora do Departamento de Biologia de Sistemas da Universidade Técnica da Dinamarca
De acordo com Imamovic, observou-se que, quando a E. coli desenvolve resistência a uma droga, ela se torna geralmente sensível a várias outras. Esse fenômeno é chamado de sensibilidade de garantia e serve como base para a proposta de alteração precoce de medicamento. A bactéria estudada reage de forma diferente a 23 antibióticos. Por meio de um programa de computador, os cientistas identificaram mais de 200 possíveis combinações de medicamentos que poderiam ser usadas para “desviar” o tratamento da resistência.

“Por isso a necessidade de avaliação de outros remédios o quanto antes. Assim, erradica-se a resistência à droga. Se uma segunda rota de tratamento não for bem-sucedida, o primeiro tratamento pode ser retomado. Isso resulta na morte de agentes patogênicos que são sensíveis à droga”, explica a pesquisadora.

Há 60 anos

A ideia da troca de antibióticos logo após o diagnóstico de patologia surgiu na década de 1950, mas, de acordo com Imamovic, caiu em desuso após o fortalecimento da indústria farmacêuticas. A retomada da prática, no entanto, demanda cautela. Os pesquisadores fizeram o estudo apenas in vitro e focaram o experimento na E. coli. “Nós esperamos que a sensibilidade de garantia seja útil para pacientes que sofrem de infecções bacterianas crônicas, como a fibrose cística. Mas essas expectativas devem ser confirmadas em estudos clínicos posteriores. Estamos em busca de realizar novos testes o quanto antes”, diz Imamovic.