Saúde

Nova vacina pode aumentar proteção contra tuberculose

Durante testes, a imunização também aumentou a quantidade das células de defesa dos voluntários

Isabela de Oliveira

Pesquisadores canadenses divulgaram hoje, na revista Science Translational Medicine, os resultados dos primeiros testes feitos com uma vacina que pode aumentar a eficiência da imunização contra a tuberculose. Projetada na McMaster University, em Ontário, para ser aplicada após a vacinação inicial com a BCG, a terapia obteve boas respostas em testes de fase 1 com humanos. A BCG é a única imunização disponível contra a doença. A que está em teste, chamada de AdHu5Ag85A, não provocou efeitos colaterais relevantes nas cobaias e ainda aumentou a quantidade de células de defesa.


Embora consiga imunizar com sucesso bebês e crianças, a BCG encontra dificuldades em proteger adultos contra a infecções pulmonares causadas pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, agente também chamado de bacilo de koch e causador da tuberculose. Os testes clínicos foram realizados com 24 homens e mulheres saudáveis, sendo que alguns haviam sido previamente imunizados. Todos receberam uma única dose da AdHu5Ag85A e nenhum resultado adverso considerável foi registrado. A vacina conseguiu potencializar dois tipos de linfócitos T auxiliares, os CD4%2b e CD8%2b, em especial no grupo que já havia sido vacinado com a BCG.

Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais
Zhou Xing, um dos pesquisadores da McMaster University, explica que a vacina foi desenvolvida a partir do adenovírus recombinante humano tipo 5, o AdHu5. Esse tipo de vírus quando manipulado é capaz de expressar um antígeno da bactéria causadora da tuberculose para ativar as células T — responsáveis pela imunidade celular e pela produção de anticorpos. “A vacina AdHu5Ag85A foi um sucesso. Também demonstrou ser eficiente quando usada de forma independente e como uma otimizadora da BCG em murinos, porquinhos-da-índia , cabras e bovinos com tuberculose pulmonar”, disse Xing.

Luiz Castello-Branco, diretor científico da Fundação Ataulpho de Paiva, única produtora da BCG no Brasil, explica que a nova vacina está longe de chegar ao mercado, pois o estudo clínico ainda está na primeira fase. Segundo o médico, que não participou do estudo, na fase 1, é verificada a segurança e a ação imunogênica do produto. O projeto ainda precisará passar por duas etapas, quando será verificada a ação do imunizador em doentes, crianças e grandes populações.

“Há pouco tempo, tínhamos um modelo de vacina que estava bem evoluída, já na fase 2. No início do ano, ela foi testada e parecia ser uma boa coadjuvante à BCG, dada como reforço. Era também feita com vírus, produzida por pesquisadores da Universidade de Oxford, mas obteve resultados ruins. Essa vacina produzida pelos canadenses pode ser algo interessante, mas ainda não podemos avaliar se ela poderá realmente ajudar. Eu espero que sim”, diz Castello-Branco.

Problema mundial
Xing destaca quer a tuberculose continua sendo uma das principais causas infecciosas de morte no mundo. Cerca de 1,4 milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da doença e um terço da população mundial está infectada de forma latente pela bactéria. Há anualmente entre 8 a 9 milhões de novos casos de tuberculose registrados no mundo, sendo os soropositivos os mais suscetíveis à doença. Pelo menos um terço dos pacientes com AIDS não resiste a ela.

O Brasil está entre os 20 países de maior carga de tuberculose no mundo, com cerca de 72 mil novos casos e 4,5 mil mortes por ano. Os estados mais atingidos são Rio de Janeiro e Amazonas. Castello-Branco explica que a mortalidade de crianças relacionada à bactéria, como meningite tuberculosa, foi reduzida drasticamente desde que a vacina começou a ser aplicada na década de 1930. “Para as crianças, portanto, há um claro benefício. No entanto, a eficácia da BCG nos adultos é de cerca de 48%.”

Segundo Lindivânia Brandão, coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em 2011, a média de cura da doença no Brasil foi de 75,4% e de 83% no DF. Ela destaca que o grande dificultador do combate à doença, principalmente por parte dos adultos, é o abandono do tratamento. “É longo, dura seis meses. Ao perceberem uma melhora no primeiro mês, os pacientes acabam abandonando os medicamentos. Além de vacinas, precisamos de um tratamento supervisionado que instrua melhor a comunidade”, conclui Lindivânia.