Especialistas recomendam abordagem precoce da endometriose

Conhecida também como doença da mulher moderna, é responsável pela infertilidade de seis a cada 10 mulheres. Com o objetivo de elaborar um protocolo que facilite a abordagem da doença, 34 organismos internacionais que se debruçam sobre o tema se encontraram no World Endometrioses Society e elaboraram a primeira Diretriz Mundial sobre Endometriose

por Valéria Mendes 13/09/2013 11:00

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Globo/Alex Carvalho
A atriz Fernanda Machado precisou se afastar das gravações da novela 'Amor à vida' para tratar a endometriose (foto: Globo/Alex Carvalho)
Incidência alta, relacionada a 60% dos casos de infertilidade feminina e de difícil diagnóstico – demora-se até dez anos para ser concluído -, a endometriose atinge 15% das mulheres em idade reprodutiva. Cólicas fortes, dor na relação sexual e dificuldade para engravidar são os sintomas principais. A doença acontece quando células do endométrio – tecido que reveste o útero internamente – escapam pela trompa, caem na cavidade abdominal e continuam se reproduzindo no organismo feminino. Não é câncer, é uma enfermidade considerada benigna e não causa morte.

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  Apesar de ser objeto de estudos incessantes, a doença da mulher moderna – como também é conhecida -, não tem suas causas esclarecidas e divide opiniões de especialistas ao redor do mundo.  Com o objetivo de elaborar um protocolo que facilite a abordagem da doença, 34 organismos internacionais que se debruçam sobre o tema se encontraram no World Endometrioses Society. O Brasil foi representado pela Sociedade Brasileira de Endometriose. A primeira Diretriz Mundial sobre Endometriose foi publicada na revista especializada Human Reproduction.

Ginecologista especialista em endometriose e diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Delzio Bicalho explica que a principal recomendação é a mudança de mentalidade dos médicos e especialistas em saúde da mulher sobre a doença. "O diagnóstico já é uma cirurgia: a laparoscopia trata o problema no momento em que ele é descoberto. Dessa forma, o mais importante é que os médicos consigam perceber os indícios de um quadro clínico que pode desencadear a enfermidade", afirma. A realidade brasileira é que a população não tem acesso a exames como a laparoscopia e quando se tem um diganóstico de certeza significa que a paciente já tem dez anos de doença. "Ou seja, o diagnóstico presumido – de acordo com a história da mulher – pode contribuir para que a doença não avance”, explica.

O mais importante, segundo Delzio Bicalho, é a abordagem precoce. “Uma adolescente que tem episódios de cólica forte, já perdeu aula ou outros compromissos por causa da dor, deve iniciar um tratamento com pílula anticoncepcional, seja ela cíclica ou contínua. Além de aliviar a dor, o medicamento atrofia a espessura do endométrio, o fluxo menstrual fica menor e diminui também a chance de células caírem na cavidade abdominal”, diz. Essa diretriz pode ser adotada inclusive em centros de saúde, pois, de acordo com o ginecologista, já que os medicamentos têm baixo custo e alto perfil de segurança.

Outra diretriz é sobre o tratamento. “Em casos de endometriose leve – são quatro níveis – a laparoscopia melhora a fertilidade para a paciente tentar engravidar naturalmente. Se vai fazer a fertilização, essa cirurgia não influencia o resultado”, pontua. “Quanto mais tardio se dá o diagnóstico, mais difícil é o tratamento”, informa o ginecologista. O especialista afirma que a gravidez da paciente que teve endometriose tem um risco aumentado de complicação obstétrica como a eclâmpsia ou trombose.

A ciência está em busca de um marcador sanguíneo para o diagnóstico da doença, assim como exames de imagem que consigam diagnosticá-la. “Já existem algumas ressonâncias magnéticas que dão a suspeita de diagnóstico”, diz.

Os estudiosos trabalham com algumas teorias para a origem da doença, todas sem comprovação. Uma delas é a comportamental. “No tempo de nossas avós, com 22 anos elas já estavam casadas, com quatro ou cinco filhos. A gravidez é a melhor abordagem para a endometriose, pois a mulher fica quase dois anos sem menstruar (a gravidez em si e o período da amamentação). Hoje em dia, a mulher com 35 anos ainda não teve filhos. Esse adiamento da gravidez faz com que a mulher menstrue muitas vezes e por muito tempo. Quantas vezes não teve essa menstruação retrógrada (que volta pela trompa)?”, exemplifica.