Saúde

Nem todo mundo consegue dormir as recomendadas oito horas, entenda

Para os adeptos do sono polifásico, dormir oito horas noturnas seguidas, como é recomendado por médicos, é perda de tempo. Eles cochilam em horários específicos ao longo do dia

Revista do CB

João Paulo Apolinário segue um método rígido: um sono mais longo, de duas horas, no início da manhã, e dois cochilos de 30 minutos ao longo do dia
Nem todo mundo consegue dormir as recomendadas oito horas seguidas. Com os dias corridos e cada vez mais atividades, atingir tal meta até parece um sonho. Quem passa por esse problema tem recorrido ao sono polifásico — a divisão do sono em cochilos. Existem vários métodos difundidos principalmente na internet (veja abaixo), mas o mais popular é o Everymen. Considerado pelos adeptos o de mais fácil adaptação, ele consiste em uma soneca principal de até três horas, à noite, e de cerca de três cochilos, de no máximo 30 minutos, durante o dia. A soma de tempo dormido, geralmente, não ultrapassa quatro horas.


Na área médica, não há pesquisas concretas sobre o sono polifásico. Mas o tema é polêmico. O neurologista R. Nonato, especialista em transtornos do sono, afirma que a persistência de sono polifásico foi usada só em experimentos. “Aparentemente, os resultados experimentais indicam que o paciente suporta esse regime durante um tempo prolongado, sem pressão de sono adicional, mas perde algumas funções superiores, como a criatividade.”

Para o neurologista, o sono concentrado à noite é o melhor para o ser humano. “É no sono noturno que se obtém o melhor aproveitamento em termos de restauração e de produção hormonal e de neurotransmissores.” O médico lembra ainda que o ideal é dormir em lugar silencioso. “De modo geral, o sono deve ser noturno, em ambiente silencioso e sob temperatura agradável. E não deve ser combatido, mas incentivado.” Sobre como o polifásico é visto entre os o neurologistas, R. Nonato ressalta: “A sociedade humana não está adaptada para indivíduos que durmam mais durante o dia”.

João Paulo Apolinário, 21 anos, nunca gostou de dormir. À noite, costuma ficar o máximo de tempo possível produzindo. Decidiu, então, pesquisar sobre o sono polifásico e adequar sua rotina ao método. “Li tudo a respeito na internet e resolvi testar.” Estudante de ciência da computação, João Paulo trabalha como desenvolvedor de web. Para ele, o sono polifásico se tornou um método eficiente para o seu estilo de vida, pois, consegue ter mais tempo livre. “Não acho que dormir seja produtivo. Para mim, é uma perda de tempo.” Antes de adotar o método, Apolinário conta que juntou todas as informações pesquisadas em seu blog pessoal. E a repercussão foi imediata. Em geral, os comentários aprovavam o método. “Foi só depois aí que resolvi adotar o sono polifásico, me senti motivado.”

A adaptação ao novo método foi difícil. Ele conta que as pessoas perguntavam se ele estava bem de saúde. “Durante uns 15 dias, eu parecia um zumbi, andando sonolento por aí. Depois, meu corpo acostumou e foi tranquilo.” Na época, Apolinário trabalhava em um escritório localizado em um shopping. “Era comum eu sair na hora do almoço para cochilar na área de alimentação ou nos sófas espalhados pelo shopping. Algumas vezes, o segurança me acordava e falava que era proibido dormir ali.” Primeiro, Apolinário experimentou o método Dymaxion, mas não se adaptou. “Passei, então, para o Everymen. Depois, criei um método próprio: durmo às 5h da manhã e acordo às 7h. Depois, tiro dois cochilos de 30 minutos, no almoço e às seis da tarde.”

Para o publicitário Pedro Thompson, 28 anos, aderir ao método de sono fragmentado foi fácil e rápido. Na época em que testou, o publicitário trabalhava em casa e tinha muita demanda de serviço. “Depois de dois meses, parei porque não precisava mais de tanto tempo livre, já que não produzia tanto como antes.” Para uma melhor adaptação, Thompson diz que a rotina tem que ser quase militar. “Você precisa tirar os cochilos sempre na mesma hora. E, quando o sono não vier, levantar da cama. Estar deitado só quando for dormir.”A adaptação, no seu caso, durou apenas uma semana. Entusiasta do sono polifásico, o publicitário acredita que as pessoas produziriam mais se não tivesse a necessidade de dormir oito horas por dia.

Ciclos do sono polifásico

Bifásico
Muita gente pratica o ciclo bifásico e, em geral, sem preocupação exata com horários. Esse método consiste em dormir duas vezes ao dia. Durante a noite, um sono médio de sete horas, e, um cochilo complementar, durante o dia, de até uma hora.

Vantagem: mantém a memória a curto prazo mais ativa. Após a soneca do dia, o estado de alerta, a capacidade de concentração e de aprendizagem aumenta.
Desvantagem: assim como o sono monofásico, o ciclo do bifásico necessita de muitas horas de descanso. Para quem precisa de mais horas acordado durante o dia, esse método se torna inábil.

Überman
Consiste em seis cochilos por dia, de 20 a 30 minutos, em intervalos de quatro horas.

Vantagem: esse ciclo é eficiente se seguido rigorosamente. Por conta das sonecas de curta duração, o método Überman permite que se tenha sonhos lúcidos e reais.
Desvantagem: rigorosidade de horário. Nem todos têm o tempo para manter seis sonecas de 20 a 30 minutos a cada quatro horas. Perder uma soneca pode prejudicar todo o ciclo e fazer com que você se sinta cansado e indisposto.

Everymen
Nesse método, existe uma soneca principal complementada por curtos cochilos. A soneca principal deve ter entre duas horas e três horas, acrescentado três cochilos, de 20 a 30 minutos, em intervalo de tempo regular.

Vantagem: por não ser tão rigoroso com horários, esse ciclo é ajustável. Quem realiza o método tem a possibilidade de adaptá-lo ao estilo de vida. O maior cuidado é evitar que a soneca principal ultrapasse as duas horas e meia, pois, somado aos cochilos, o tempo total de sono será equivalente ao bifásico.
Desvantagem: entre os tipos de sono polifásico, é o ciclo com maior horas de sono. O ganho de tempo não será tão elevado.

Dymaxion
Quem criou esse método foi o workaholic Bucky Fuller, um arquiteto futurista norte-americano. A técnica consiste em cochilos de 30 minutos a cada seis horas, resultando em um total de duas horas de sono por dia.

Vantagem: dormir pouco e ganhar horas livres ao longo do dia. Com pequenos cochilos, após a adaptação, a pessoa se sentirá mais revigorada.
Desvantagem: inflexibilidade no horário. A cada quatro horas, é necessário ter os 30 minutos de cochilo. Não é todo mundo que tem a disponibilidade para tirar as sonecas.

Navegador é adepto do sono polifásico durante suas expedições
Entrevista // Amyr Klink

Dormir em expedição marítima é questão séria. Em alto-mar, navegadores precisam ter pequenos ciclos de sono para evitar eventuais problemas, como colisão ou mudança abrupta do tempo. O experiente navegador Amyr Klink, 57 anos, é adepto do sono polifásico durante suas expedições.

Quando você realizou o método de sono polifásico pela primeira vez?
Na primeira viagem à Antártida, comecei a fazer. Eu nem sabia que o se chamava sono polifásico. Navegar é uma atividade que é fruto de uma pressão externa. É um risco muito grande. Enquanto você está dormindo, o barco continua navegando.

Como é feita a adaptação da prática do sono polifásico durante as suas expedições?
Eu já tentei fazer uma adaptação em terra, com alarmes, mas, por falta da pressão de ter que acordar, em muitos casos não era efetivo. Quando você vai para o mar, fazer uma expedição, fica pressionado a dormir pouco.

Qual é o método de sono que você usa em uma expedição?
Varia da expedição. Em geral, durmo no máximo 50 minutos, cinco vezes por dia. Depende da condição do mar, do risco, do tempo. Se a vela está muito perto da costa de um país, há muito tráfego e, por isso, durmo menos. Quando a viagem é da Europa para cá, há mais condições tranquilas, posso dormir mais.

Como você faz para se manter alerta e acordar no tempo exato?
Há várias formas, existem dispositivos que informam quando a vela está próxima de alguma costa marítima ou de um barco. Existem vários tipos de alarme, eu uso um alarme de cozinha mesmo. Coloco 50 minutos e ativo mais outros alarmes para uma maior segurança.

Você recomendaria o sono polifásico a executivos ou profissionais que precisam de mais tempo?
Apesar de fazer, eu não recomendo. Gosto de dormir as oito horas, em uma cama. Eu só recomendaria se fosse de extrema necessidade profissional, como executivos que não conseguem realizar todas as atividades da agenda ou guardas noturnos. Não acho que seja saudável em um longo prazo.